BATISMO DE CRIANÇAS
Subsídios teológico-litúrgico-pastorais
Documento Aprovado pela 18ª Assembléia da CNBB
Itaici, 14 de fevereiro de 1980
Subsídios teológico-litúrgico-pastorais
Documento Aprovado pela 18ª Assembléia da CNBB
Itaici, 14 de fevereiro de 1980
APRESENTAÇÃO
Apresentamos à Igreja no Brasil este Documento Batismo de
Crianças - Subsídios teológico-litúrgico-pastorais.
HISTÓRIA
No 4º Plano Bienal dos Organismos Nacionais da CNBB,
1977-1978, constava o projeto Celebração do Batismo de
Crianças com Grupos Populares sob o nº 1.7 do Programa I,
Comunidades Eclesiais de Base.
O 1º texto foi redigido, revisto e aprovado num Encontro
de Bispos e peritos em Liturgia, Pastoral e Meios
Populares, realizado no Rio de Janeiro.
Esse texto foi enviado aos Regionais para suas
contribuições.
Em abril de 1979, por decisão da Assembléia da CNBB, o
Documento foi examinado por uma Comissão Especial de
Liturgia, integrada por representantes escolhidos pelos
Regionais.
A Comissão, apesar de valorizar o Documento, julgou
oportuno fosse ele reelaborado, transferindo-se seu exame
e sua votação para a Assembléia de 1980.
O novo texto foi, em novembro de 1979, examinado por uma
Equipe de Peritos num Encontro em São Paulo e, em
dezembro, enviado aos srs. Bispos.
A Assembléia Geral extraordinária da CNBB, em fevereiro de
1980, aprovou, com emendas, o novo texto por unanimidade,
havendo apenas uma abstenção.
O DOCUMENTO
Este Documento não desfaz o 1º Documento, de todos
conhecido, sobre a Pastoral do Batismo, editado em 1973,
mas o completa, com subsídios teológicos que ajudam a sua
compreensão a partir dos passos progressivos da própria
celebração batismal, como também com subsídios
litúrgico-pastorais, que ajudam sua celebração de maneira
mais adaptada à cultura e à índole simples da maioria do
nosso povo.
À Introdução seguem-se três partes e uma breve Conclusão:
Na Introdução, apresentam-se os objetivos do Documento, a
razão de ser da adaptação do rito, a situação da
celebração batismal no Brasil, em seu contexto geral e
especial, e a divisão.
Na I Parte: "Sentido teológico do sacramento do batismo, a
partir do rito", oferecem-se subsídios teológicos,
percorrendo a seqüência da celebração batismal, à
semelhança das catequeses mistagógicas, nas quais,
revelando-se o sentido dos ritos, introduzem-se os fiéis
na compreensão e vivência dos sacramentos.
Na II Parte: "Sugestões para a preparação do batismo",
depois de recordar inicialmente a necessidade de uma
pastoral orgânica para uma celebração ideal do batismo,
apresentam-se subsídios pastorais relativos à sua
preparação remota e próxima.
Na III Parte: "Sugestões para uma celebração mais adequada
do batismo", depois de algumas observações prévias,
propõem-se vários subsídios relativos à maneira de
realizar cada rito da liturgia batismal.
Na Conclusão, faz-se um apelo aos agentes de pastoral e
situa-se o Documento dentro do objetivo geral da Ação
Pastoral da Igreja no Brasil.
VALOR
O Documento respeita o Ritual do Batismo, enriquecendo-o
de subsídios teológico-litúrgico-pastorais.
Não tem caráter obrigatório, deixando aos srs. Bispos
liberdade em sua aplicação.
Entretanto, sua aprovação pela Assembléia é de um valor
pastoral incalculável, porque, recolhendo esforços
pastorais dispersos pelo Brasil, ajuda ao mútuo
enriquecimento das Igrejas e cria melhores condições, em
matéria de Liturgia, para uma sadia unidade na pastoral
orgânica de todo o país.
Colocando este Documento nas mãos da Igreja que vive no
Brasil, esperamos atender ao grande objetivo que os Bispos
do Brasil se propuseram: oferecer orientações para a
celebração do Batismo de Crianças, de um modo mais
adaptado à cultura e à índole de nosso povo, em sua
maioria simples.
Dom Romeu Alberti
Responsável pela Linha da Liturgia
INTRODUÇÃO
1. Objetivos do presente documento
1. Por ocasião da 13ª Assembléia Geral da
CNBB, em fevereiro de 1973, os Bispos do Brasil aprovaram
um documento intitulado "Pastoral do Batismo", inserido no
opúsculo "Pastoral dos Sacramentos de Iniciação Cristã" publicado na Série "Documentos da CNBB", sob o nº 2b.
Visava-se, com aquele documento, a "uma renovação da
pastoral batismal" e "esclarecer problemas práticos,
decorrentes da situação atual da Igreja no Brasil" (cf.
Pastoral do Batismo, Introdução).
2. Uma recomendação, no final do documento
citado, pedia a realização de duas tarefas: "Solicitamos
aos órgãos competentes a preparação de orientações
práticas sobre a maneira de celebrar o batismo, bem como a
tarefa de promover a adaptação do rito à cultura e índole
do nosso povo" (cf. SC 37-40; Ibid., nº 6,1).
3. O presente documento deseja, ao menos em
parte, corresponder àquele pedido. Refere-se primariamente
à liturgia ou celebração do sacramento do batismo, tendo
em vista, sobretudo, a grande maioria de nosso povo —
trabalhadores rurais, operários e outros assalariados
urbanos — com o fim de oferecer pistas para adaptar a
celebração ao seu mundo e à sua mentalidade. Trata-se de
um esforço criativo e inicial de aculturação, que
apresenta, em vários momentos, sugestões
litúrgico-pastorais alternativas a serem aproveitadas
conforme as diversas circunstâncias.
2. Razão de ser da adaptação
4. Os Bispos, no Concílio Vaticano II,
reconheceram a utilidade e mesmo a necessidade de adaptar
a liturgia à índole dos diferentes povos. Basta lembrar
duas passagens da Constituição sobre a Sagrada Liturgia:
"Salva a unidade substancial do rito romano, dê-se lugar a
legítimas variações e adaptações para os diversos grupos,
regiões e povos" (SC 38).
5. Tanto "A Iniciação Cristã — Observações
Preliminares Gerais" (nº 30-33) como a introdução ao "Rito
da Iniciação Cristã dos Adultos" (nº 64 e ss) trazem um
capítulo expresso sobre as "adaptações que podem ser
feitas pelas Conferências Episcopais". A tais adaptações é
que se refere a recomendação do Episcopado Brasileiro
transcrita acima.
6. Oferecem-se algumas pistas para as
Igrejas particulares, situadas em contextos
sócio-econômico-religiosos tão diversificados, como as
encontramos nas várias regiões do País, seja no interior
seja nos centros urbanos e suas periferias.
7. Com efeito, este sacramento merece
especial atenção por duas razões: primeiro, por ser
celebrado com freqüência; segundo, por ser fundamental e
revelador para todo o conjunto da vida cristã.
3. Situação da celebração do batismo no
Brasil
a) Contexto geral da situação
8. Poderíamos iniciar o exame da liturgia
batismal no Brasil, recordando o fato pastoral descrito no
Documento "Pastoral do Batismo", em especial, as razões
que levam os fiéis a pedir o batismo para seus filhos (nº
1.1-3) e as atitudes dos pastores frente a esse pedido (nº
4,1-4.4).
9. Naquele documento, apresentam-se razões
com conotações de natureza teológica mais acentuada,
razões supersticiosas, razões de cunho social e razões de
ordem econômica — algumas válidas, outras questionáveis —
para, tomadas em conjunto, tentar esclarecer o fato de a
população do Brasil ser, na sua quase totalidade, uma
população de batizados.
10. Em relação à atitude dos pastores,
observava-se uma diversidade de linhas de ação no tocante
à administração do sacramento do batismo indo desde a
negação do batismo às crianças até à exigência de uma
séria preparação, no contexto de uma renovação de toda a
vida eclesial.
b) Contexto especial da situação da celebração do
batismo no Brasil
11. Voltando nossa atenção para a própria
celebração do batismo, recordamos o quadro já decidido na
"Pastoral do Batismo" (nº 3) destacando quanto segue:
a)
Existem comunidades eclesiais no Brasil em que a
celebração do batismo, bem como sua preparação e posterior
acompanhamento, constituem um exemplo a imitar. Muitas das
orientações e sugestões que aparecem neste documento já
estão sendo praticadas em tais comunidades.
b)
Em muitas outras comunidades eclesiais, porém,
verificam-se deficiências que repercutem negativamente na
vida cristã das pessoas e das próprias comunidades.
São estas as falhas que ocorrem com maior freqüência:
• Preparação insuficiente, quando não
inexistente, de pais e padrinhos, antes teórica que
vivencial, por vezes mais burocrática que pastoral, sem o
auxílio de uma equipe formada para esse trabalho, sem
distinção entre cristãos afastados da Igreja e cristãos
integrados na vida comunitária.
• Celebração apressada ou rotineira,
sem animação e entusiasmo, sem explicação do sentido dos
ritos, sem distribuição de funções dentro de uma equipe de
celebração, sem variação ou adaptação aos diferentes
grupos; mera execução mecânica de cerimônias; leitura
inexpressiva de textos.
• Passividade dos presentes, muitas
vezes desprovidos de participação e vivência.
• Visão do batismo como assunto individual, sem
implicações para com a Igreja e cada comunidade eclesial.
• Redução do batismo a um fato
social, que responde a uma tradição familiar e cultural ou
a uma obrigação religiosa, desconhecendo sua natureza de
celebração de um mistério, de um acontecimento religioso
fundamental, isto é, a inserção em Cristo, a incorporação
à Igreja, a purificação do pecado, a filiação divina etc.
• A fragilidade ou mesmo ausência de
compromisso com a educação da fé e o desenvolvimento da
vida cristã e eclesial da criança, por parte dos pais,
padrinhos e da comunidade.
• A importância desproporcional
atribuída aos padrinhos, em prejuízo dos pais, que são os
que decidem o batismo dos filhos e se responsabilizam pelo
desenvolvimento da vida cristã iniciada no batismo.
• A escolha de padrinhos sem levar em
conta a sua situação em relação à Igreja e a sua vida
cristã.
• Concepções mágicas e supersticiosas
acerca do batismo, presentes tanto na solicitação do
batismo como em sua celebração.
• a evasão de cristãos menos
conscientizados para outras paróquias ou dioceses onde não
se fazem exigências de preparação para o batismo.
• exigências demasiado rígidas com o
perigo de transformar a Igreja em grupo fechado (gueto)
numa atitude injusta para com pessoas não suficientemente
esclarecidas.
4. Divisão do documento
12. O presente documento compreende, além da
Introdução, as seguintes partes: Sentido teológico do
sacramento do batismo a partir do rito; Sugestões para a
preparação do batismo; Sugestões para uma celebração mais
adequada do batismo; Conclusão.
I - PARTE
SENTIDO TEOLÓGICO DO SACRAMENTO DO BATISMO A PARTIR DO
RITO
13. Na explicação do sentido teológico do
batismo, percorreremos a seqüência de ritos que compõem a
sua celebração, à semelhança das antigas catequeses
mistagógicas, com as quais se procura descortinar o
sentido dos ritos e, assim, introduzir o neobatizado na
compreensão e na vivência dos sacramentos.
1. Ritos iniciais
14. À porta da Igreja, o celebrante saúda as
pessoas presentes e estabelece com elas um diálogo. Em
seguida, o celebrante, os pais e os padrinhos traçam o
sinal da cruz sobre a fronte de cada criança.
a) Recepção
15. O acolhimento exprime o ingresso na
comunidade eclesial.
16. Os batizandos são recebidos à porta da
igreja para significar que ainda não pertencem à Igreja,
na qual entrarão pela porta do batismo.
17. Com efeito, o batismo é a porta de
entrada para a Igreja: "É necessário que, pelo batismo,
todos sejam incorporados nele (em Cristo) e na Igreja, seu
corpo" (AG 7; cf. AG 6, PO 5, AA).
18. A porta do templo, ademais, é símbolo da
entrada no Reino de Deus, no tempo e na
eternidade, através da fé (cf. At 14,26) e do amor.
19. O batismo é aquele sinal da fé sem o
qual, ordinariamente, não se pode "entrar no Reino de
Deus" (Jo 3,5). De outro lado, porém, a fé, "que opera
pela caridade" (Gl 5,6), pode manifestar-se, de certa
maneira, até fora dos limites visíveis da Igreja, em toda
boa obra em favor dos irmãos, sobretudo dos mais pobres e
pequeninos (cf. Mt 25,32-40).
b) Canto de entrada
20. O canto de entrada faz eco ao apelo do
salmista ao dizer: "Atravessai suas portas com louvor, os
seus átrios com hinos; exaltai-o, bendizei seu nome (Sl
99,4). Eu me alegrei, porque me disseram: iremos à casa do
Senhor" (Sl 121,1).
c) Saudação
21. O celebrante, como o pai de família,
saúda os presentes em nome do Pai que nos criou e nos
predestinou a sermos "conformes à imagem de seu Filho,
para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rm
8,29).
22. Recebe-os alegremente em nome da família
dos filhos de Deus reunida no Espírito Santo, à cuja
frente foi colocado para dispensar a cada um o pão a seu
tempo — (cf. Mt 24,45).
23. A comunidade presente, ao menos na
pessoa dos pais, padrinhos, amigos e familiares, acolhe os
futuros irmãos, como Jesus, "o primogênito de muitos
irmãos" (Rm 8,29), acolhia as crianças: "Deixai as
crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o
Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber
o Reino de Deus como uma criança não entrará nele" (Mc
10,14-15).
d) Presença da comunidade
24. Batizam-se as crianças normalmente, com
a presença e participação da comunidade.
25. O homem, por natureza, necessita da
comunidade. Não pode viver sozinho. Basta lembrar a
família, a pequena comunidade, a sociedade civil. Uns
precisam da ajuda e do apoio dos outros.
26. "Não é bom que o homem esteja só", diz
Deus a respeito de Adão (cf. Gn 2,18). E dá-lhe uma
companheira. No Antigo Testamento, Deus fez de Israel o
seu povo escolhido e celebrou com ele uma Aliança (Ex
19,24). Constituiu-o como "nação santa" (Ex 19,6). Cristo
não veio para salvar a cada um isoladamente, mas "para
reunir os filhos de Deus dispersos" (Jo 11,52), para
que houvesse "um só rebanho e um só pastor" (Jo
10,5-6).
27. Pelo batismo, o homem se torna membro da
Igreja, Povo de Deus. Diz o Vaticano II: "Aprouve a Deus
santificar e salvar os homens, não singularmente, sem
nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num
povo, que o conhecesse na verdade e santamente o servisse"
(LG 9). Essa comunidade de salvação, esse Povo de Deus é a
Igreja. A ela Jesus confiou o Evangelho e o batismo,
quando disse: "Ide, fazei discípulos todas as gentes,
batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo" (Mt 28,19).
28. Por tudo isso, o cristão autêntico leva
vida de comunidade eclesial e participa regularmente de
uma das comunidades locais nas quais subsiste e opera a
Igreja de Cristo (cf. SC 26,27,41,42; Pastoral da
Eucaristia, cap. 1º).
e) Diálogo
29. O NOME — O diálogo sobre o nome é rico
de significação. Cada ser humano é único, irrepetível,
insubstituível em sua singularidade pessoal. Somos
pensados e amados por Deus, desde a eternidade e para toda
a eternidade nesta individualidade singular, e assim
devemos ser vistos e acolhidos pelos outros. Podemos
possuir coisas e delas dispor a nosso bel-prazer,
usando-as, subordinando-as a nossos interesses,
trocando-as. Com as pessoas, não podemos fazer o mesmo.
30. A pessoa deve ser aceita com suas
próprias idéias, com seus sentimentos e sua maneira de
ser. A pessoa não pode ser meio para atingirmos nossos
objetivos. O outro é distinto de nós, com direito a ser
quem realmente ele é, a ver reconhecida sua própria
autonomia, sem precisar renunciar à sua personalidade para
viver e conviver.
31. O relacionamento interpessoal e
comunitário, se permeado de amor autêntico, favorecerá o
desabrochar do "eu" no mútuo reconhecimento e na doação
desinteressada.
32. O nome exprime esta identidade pessoal a
ser reconhecida pelos outros, chamada a colocar-se a
serviço de todos.
33. Na comunidade eclesial, este mútuo
respeito será a base de um conhecimento verdadeiro e de um
amor autêntico, no qual o conhecimento deverá desabrochar.
A medida em que seus membros se conhecerem, sobretudo, nas
comunidades menores intraparoquiais, melhor a família de
Deus expressará sua união com Cristo, o Bom Pastor, que
conhece as suas ovelhas e por elas é conhecido (cf. Jo
10,14). Dar a vida pelas ovelhas (Jo 10,15), amando-as
como Cristo as amou (cf. Jo 15,12.17) é a conseqüência do
conhecimento amoroso e do mútuo respeito.
34. Na Sagrada Escritura, além disso, o nome
é parte essencial da pessoa (cf. 1Sm 25,25), de tal forma
que o que não tem nome não existe (Ecl 6,10), sendo a
pessoa sem nome um homem insignificante, desprezível (Jó
30,8). O nome equivale à própria pessoa (Nm 1,2.42; Ap
3,4; 11,13).
35. Por isso, ao dar uma missão a alguém,
Deus lhe muda o nome: assim com Abraão (Gn 17,5), com Jacó
(Gn 32,27ss), com Salomão (2Sm 12,25). Da mesma forma,
no Novo Testamento, Jesus muda o nome de Simão
para Pedro (Mt 16,18; cf. Mc 3,16-17) e os Apóstolos
mudam o nome de José para Barnabé (cf. At 4,36). O nome de
Jesus simboliza a sua missão: Jesus (do hebraico,
Yehoshúa) significa Javé salva (cf. Mt 1,21). O nome, em
outras palavras, vem a significar a missão que se recebe
na história da salvação.
36. No batismo, reconhece-se oficialmente o
nome da criança. Recorda muitas vezes o nome de um santo.
Aquele que nasce para a vida da graça, no seio da Igreja,
liga-se simbolicamente àquele que, depois da peregrinação
da fé, nasceu para a vida da glória, animando-o com seu
exemplo e ajudando-o com sua intercessão (cf. Prefácios
dos Santos). Daí a conveniência de se evitar nomes
estranhos e extravagantes.
37. PEDIDO DO BATISMO — São os pais que
pedem o batismo para seus filhos. A criança não tem ainda
consciência nem autonomia suficiente para tal ato, como,
aliás, para tantos outros atos de sua vida. Vive, em tudo,
na dependência dos adultos.
38. Os pais, se cristãos, não querem que
seus filhos cresçam apenas física, psicológica e
intelectualmente; querem vê-los crescidos integralmente.
Por isso, desde muito cedo, proporcionam-lhes o batismo, o
banho do novo nascimento pelo qual, de simples criatura, a
criança passa a ser filho de Deus, de simples membro da
família humana, passa a ser membro vivo da família de
Deus, a Igreja.
39. Ao ser incorporada a Cristo, repleta do
Espírito Santo, consagrada para a vida eterna, a criança
passa a possuir dentro de si um dinamismo novo,
sobrenatural, a fé, a esperança e a caridade, que, a seu
tempo, pela educação e pela prática da vida cristã, na
família e nas demais comunidades eclesiais, irá
desabrochando numa fé consciente e assumida, responsável e
progressivamente adulta.
40. Para marcar as etapas desse desenvolvimento,
renovam-se, publicamente, em determinados momentos da
vida, os compromissos batismais, especialmente na primeira
comunhão, na crisma e na vigília pascal.
f) A educação da fé pelos pais
41. A conseqüência, para os pais que pedem o
batismo para seus filhos, é o compromisso, já assumido na
celebração do casamento, de educá-los na fé, dentro da
comunidade eclesial.
42. A ordem de batizar em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo não pode ser desvinculada da
missão do anúncio do Evangelho (cf. Mt 16,15), da
conversão para o seguimento de Jesus, que caracteriza os
verdadeiros discípulos (cf. Mt 28,19) e de uma orgânica
educação da fé (cf. Mt 28,20).
g) A colaboração dos padrinhos
43. No cumprimento deste compromisso de
educar seus filhos na fé, os pais são ajudados pelos
padrinhos. Depois dos pais, padrinho e madrinha
representam a Igreja, nossa Mãe, "que, pela pregação e
pelo batismo, gera, para uma vida nova e imortal, os
filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de
Deus" (LG 64). Representam a Comunidade que, ao
enriquecer-se com a entrada de um novo membro, vê sua
responsabilidade também acrescida.
h) O sinal da cruz
44. Concluem-se os ritos iniciais, marcando
a fronte de cada criança com o sinal da cruz. Que
significa isso?
45. Marcam-se livros, roupas, animais com o
nome de seu dono ou outro sinal. Muitas pessoas andam com
distintivo ou emblema do seu clube, da sua escola, da sua
associação esportiva. É um sinal de pertença.
46. Na noite da Páscoa em que fugiram do
Egito, os israelitas marcaram as portas de suas casas com
o sangue do cordeiro pascal. Assim o anjo justiceiro, que
passaria, podia reconhecer as casas dos israelitas e
poupar os seus primogênitos (cf. Ex 12).
47. O profeta Ezequiel viu como Deus mandou
marcar, com seu sinal, a fronte das pessoas oprimidas.
Quando passaram os emissários para matar os malfeitores,
sabiam a quem deviam poupar (cf. Ex 9,4-7). Da mesma
maneira, serão poupados, no dia da vinda do Senhor, todos
os que forem assinalados com o sinal do Deus vivo (cf. Ap
7,2-4 e 9,4).
48. O sinal do cristão é a cruz de Cristo.
Quem é marcado com a cruz pertence a Cristo e à sua
Igreja. Não pode ser escravo de outros senhores ou adorar
outros deuses.
2. Liturgia da Palavra
49. Terminados os ritos iniciais, talvez
celebrados à porta do templo, no corpo da Igreja
proclama-se a palavra de Deus, elevam-se nossas preces a
Cristo e aos santos, e, finalmente, unge-se o peito de
cada criança com o óleo dos catecúmenos.
a) Leituras bíblicas e homilia
50. O próprio Deus dirige-nos a
palavra (cf. 1Ts 2,13; Rm 10,14; 2Cor 2,17; Rm 15,18-19;
2Cor 13,3; Lc 10,16) através das leituras bíblicas, do
Antigo e do Novo Testamento.
51. Enquanto as leituras nos recordam que
Deus interveio realmente em nossa história, a homilia
testemunha, aqui e agora, a intervenção do Deus vivo em
Jesus Cristo e no dom do Espírito.
52. Em ambas as formas, a palavra de Deus é
proclamada e acolhida na fé. A realidade do batismo só é
conhecida através da fé.
53. Se todos os sacramentos nutrem,
fortalecem e exprimem a fé (cf. SC 59), com muito
maior razão o batismo, que é, por excelência,
o "sinal da fé" (cf. Iniciação Cristã, Observações
Preliminares Gerais, nº 3).
54. A liturgia da palavra e a liturgia
sacramental formam um todo. Na celebração batismal, a
liturgia da palavra, além de seu valor próprio, prepara a
liturgia sacramental, particularmente a profissão de fé,
pela qual o homem responde à proposta de Deus. Ora, a fé
nasce e se alimenta da palavra de Deus, assim como a
própria comunidade eclesial onde será recebido como membro
vivo o batizando.
55. Além disso, os pais, ao pedirem o
batismo para seus filhos menores, assumem o compromisso de
educá-los na fé. Para tanto, é preciso que conheçam e
vivam melhor o conteúdo da fé cristã, expresso verbalmente
na Bíblia e na pregação da Igreja.
b) Oração dos fiéis
56. Os fiéis invocam a misericórdia de Deus,
conscientes de sua incapacidade e da absoluta necessidade
da graça de Deus para se obter e se viver com coerência e
perseverança a vida nova do batismo: "Sem mim, nada podeis
fazer".
c) Invocação dos santos
57. A invocação de Deus é seguida pela
invocação dos santos, que, antes de nós e muito melhor do
que nós, viveram a vida batismal neste mundo.
58. Para nós são estímulos e exemplos; junto
a Deus são nossos intercessores. Próximos de nós pela
humanidade, estão próximos a Deus pela santidade. Neles a
vida batismal floresceu até à plenitude.
59. Neste instante da liturgia batismal, a
Igreja peregrina na terra se une à Igreja triunfante no
céu (cf. Ap 5,8; 8,3) para pedir a graça de Deus em favor
daqueles que ainda se encontram no limiar da Igreja. É a
comunhão dos santos.
60. Após a invocação de Maria, Mãe do Filho
de Deus — que se torna nossa Mãe no batismo — segue-se a
invocação de são João Batista, são José, são Pedro e são
Paulo e outros que podem ser acrescentados — como os
padroeiros das crianças, da Igreja ou do lugar em que se
celebra o batismo — terminando-se com a invocação de todos
os santos.
d) Oração
61. Nas orações com que o celebrante conclui
a liturgia da palavra, recorda-se a missão de Cristo,
libertador do pecado (1Tm 1,15) e de suas conseqüências
(cf. Lc 4,18 ss; 7,18 ss), e portadora de salvação.
62. Jesus Cristo, Filho de Deus, pela sua
encarnação, vida, morte e ressurreição, transforma
radicalmente a vida humana e o próprio universo, abrindo
definitivamente toda a realidade e a história humana para
o desígnio de Deus, que quer a plenitude da vida humana
(cf. Jo 10,10), numa comunhão filial para com Deus,
fraternal para com os outros, senhorial para com o mundo.
63. Deus "quer que todos os homens se salvem
e cheguem ao conhecimento da verdade. Porque há um só
Deus, e há um só mediador entre Deus e os homens, que é
Jesus Cristo homem, o qual se deu a si mesmo para a
redenção de todos" (1Tm 2,4-5).
64. Embora a salvação possa ser dada sem a
mediação visível da Igreja e o conhecimento expresso de
Cristo e de Deus (cf. LG 16; GS 22), a fé explícita e o
conseqüente batismo são o meio ordinário de recebê-la. É
dentro destes limites que devemos entender as palavras de
Jesus: Aquele que crer e for batizado será salvo; o que
não crer será condenado (Mc 16,16); "Em verdade te digo:
quem não nasce do alto não pode ver o Reino de Deus (...)
quem não nasce da água e do Espírito não pode entrar no
Reino de Deus" (Jo 3,3.5).
65. O Cristo liberta do "espírito do
mal" (cf. Ef 6,16; 1Jo 3,8; Mt 6,13), do "poder das
trevas" (cf. Cl 1,13; Jo 8,12), do pecado (cf. Mt
9,2.6.13; Lc 5,20; 7,48 etc.), introduz no "reino da luz"
(cf. Cl 1,12-13; Jo 8,12; 12, 35-36.46; Ef 5,8; 1Ts 5,5;
1Pd 2,9), dá ao cristão força e proteção para fazer
frente às provações e "resistir com coragem às
solicitações do mal" (cf. 1Cor 10,13; 2Pd 2,9; Ap 3,10).
e) Unção pré-batismal
66. A coragem (cf. At 23,11; Ef 6,20), a
força (cf. Ex 15,2; Sl 141,7; Cl 1,11; 1Cor 10,13; Ef
6,10; 2Tm 4,17; Ap 3,8), a resistência e a proteção (Sl
58,11), impetradas na oração, são significadas pelo gesto
sensível da unção pré-batismal: "O Cristo Salvador vos dê
sua força. Que ela penetre em vossas vidas como este óleo
em vosso peito".
67. Os antigos lutadores se ungiam com óleo
em todo o corpo para fortificar os músculos e para
dificultar que os adversários os agarrassem.
Semelhantemente, preparando-se para as lutas que deverá
travar para ser fiel à vocação cristã e à missão que
receberá no batismo, o batizando é ungido no peito.
68. "Tendo recebido a couraça da justiça
resistais aos artifícios do diabo" (Ef 6,11.14; Is 11,5;
59,17; 1Ts 5,8). Revestidos da armadura de Deus (cf. Ef
6,11), os cristãos estão preparados para resistir à força
inimiga e vencê-la. De seus lábios brota um hino de
confiança: "tudo posso naquele que me conforta, o Cristo"
(Fl 4,13).
3. Liturgia sacramental
69. A liturgia sacramental compreende a
oração sobre a água, as promessas do batismo, o batismo, a
unção com o crisma, a veste branca, a entrega da vela
acesa e o "efeta".
a) Oração sobre a água
70. Mesmo "durante o tempo pascal, nas
igrejas em que a água foi consagrada na Vigília pascal,
para que não falte ao batismo o louvor e a súplica,
faça-se a oração sobre a água..." (Rito para o Batismo de
Crianças, nº 55).
71. Junto à fonte batismal, o celebrante
bendiz a Deus, recordando o admirável plano segundo o qual
Deus quis santificar o homem, pela água e pelo Espírito.
72. Diante de nossos olhos passam as
principais figuras do batismo presentes na história da
salvação: a criação (Gn 1,2.6-10; 1,21-22), o dilúvio
(Gn 7,9), a travessia do Mar Vermelho (Ex 14,15-22),
o batismo de Jesus nas águas do Jordão (Mt
3,13-17), a água que correu do lado aberto de Cristo na
Cruz (Jo 19,34).
73. Na ordem de Cristo, após a ressurreição
— "Ide, fazei discípulos, todos os povos, e batizai-os em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo "(Mt 28,19) ,
passa-se da figura à realidade, da prefiguração à
realização.
74. O simbolismo da água é de fundamental
importância para se compreender a significação do batismo.
Mergulhar e sair da água significa morrer e ressurgir.
75. "Batizar", com efeito, significa imergir
ou submergir na água.
76. O Apóstolo Paulo vê no batismo com água um sentido fundamental. Mergulhar nas
águas batismais e sair delas exprime o morrer para o
pecado e o ressurgir com Cristo. Morrer para o pecado,
ressurgir para a vida nova em Cristo. "Com ele fomos
sepultados pelo batismo para participarmos da morte, para
que assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória
do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova. Pois se
fomos unidos a ele pela semelhança da morte, também o
seremos pela semelhança da ressurreição" (Rm 6,4-5).
77. Diz o Concílio Vaticano II: "Pelo
sacramento do batismo, o homem é verdadeiramente
incorporado a Cristo crucificado e glorificado... segundo
estas palavras do Apóstolo: Com ele fostes sepultados no
batismo e nele fostes co-ressuscitados" (Cl 2,12; cf. 1Pd
3,21-22) (UR 22).
78. Por sua Páscoa, ou seja, sua passagem da
morte à vida, ele nos salvou. Ensina ainda o Vaticano II:
"Esta obra da redenção humana... completou-a Cristo
Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada
paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão" (SC
5). "Morrendo, destruiu a morte; e ressurgindo, deu-nos a
vida" (Missal Romano, Prefácio da Páscoa I).
79. Pelo batismo, os homens tomam parte
nesta morte e ressurreição de Cristo: "Assim também vós,
considerai-vos mortos ao pecado, porém, vivos para Deus em
Nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 6,11). "O batismo recorda e
realiza o mistério pascal, uma vez que por ele os homens
passam da morte do pecado para a vida" (Rito para o
Batismo de Crianças, A Iniciação Cristã, nº 6). É por isso
que, ao sermos batizados, renunciamos ao pecado e a todo
mal e fazemos nossa profissão de fé, dizendo firmemente
que Deus nos salva do pecado e da morte por seu Filho
Jesus.
80. Observadas as devidas precauções, o rito
de mergulhar a criança na água batismal e retirá-la
exprime melhor esta idéia do que o derramar a água na
fronte.
A água dá vida
81. A água é necessária para a vida. Sem
água, morre a plantação, morrem os animais e as pessoas.
Na seca, a terra se torna deserta; quando volta a chover,
tudo renasce.
82. Deus criou para o homem um lugar de
delícias, donde saía um rio, dividido em quatro braços
para regar o paraíso (Gn 2,10-14). Quando os profetas
prometiam a salvação, comparavam esta salvação com chuvas,
orvalhos, fontes e rios, que mudariam a terra seca em novo
paraíso (cf. Is 35,1.6-7). A água é também sinal do
Espírito Santo que dá a vida eterna (cf. Jo 7,37-39).
83. Assim, pela água do batismo, o homem
recebe a vida divina, renasce "da água e do Espírito" (Jo
3,5). "A Igreja gera para uma vida nova e imortal os
filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus"
(LG 64). Quem é batizado participa de modo especial da
vida de Deus (cf. 2Pd 1,4). Por isso, os batizados são de
fato "filhos de Deus" (cf. Jo 1,12-13) e com razão chamam
a Deus de Pai (cf. Rm 8,14-17; Gl 3,26ss).
84. Pelo batismo, o homem recebe o
Espírito Santo (cf. At 1,5; 4,2; 19,1-13). É o Espírito
que faz do cristão filho de Deus (Rm 8,14-17; Gl 4,6).
Ensina são Cirilo de Jerusalém: "A água corre sobre o
corpo externamente, mas é o Espírito que batiza totalmente
a alma, no interior" (PG 33,1009). Renascemos da água e do
Espírito (cf. Jo 3,5); Fomos lavados pelo poder
regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele
ricamente derramou sobre nós (Tt 3,5-6). "O que é mais
importante no batismo é o Espírito Santo, por quem a água
opera" (Crisóstomo, PG 60, 21). Por isso, o cristão há de
ter consciência desta presença do Espírito Santo.
A água lava
85. Depois de um dia de trabalho, um banho
de água lava o corpo e renova o espírito, dando boa
disposição. As chuvas tiram o pó das estradas e da rua. É
com água que lavamos a roupa, a louça e os utensílios da
casa.
86. Em muitas passagens, a Bíblia fala da
água que lava e limpa (2Rs 5; Zc 13,1-2; Ex 36,25). O
Salmo 50 pede a limpeza interior: "Lava-me mais e mais da
minha culpa e purifica-me do meu pecado" (Sl 50,2).
87. "O banho com água
unido à palavra da vida, que é
o batismo (cf. Ef 5,26), lava o homem
de toda culpa, tanto original, como
pessoal" (Rito para o Batismo de Crianças; A
Iniciação Cristã, nº 5).
88. "Morrer ao pecado" (cf. Rm 6,2) é assim
a primeira condição de quem se batiza, "porque o Senhor
nos renovou no batismo e fez de nós homens novos"
(Agostinho, PL 36,966). "O homem novo" é o homem
transplantado do pecado para a vida pelo batismo, é o
homem tornado filho de Deus, membro de Cristo e da Igreja,
é o homem chamado a viver como cristão e não como pagão ou
pecador.
A água destrói a corrupção
89. Paradoxalmente, a mesma água que é fonte
de vida, também tem um poder destruidor natural.
90. Através do dilúvio (Gn 6,7), Deus quis
acabar com a corrupção e maldade dos homens. As águas da
chuva subiram até cobrir tudo e todos. Somente Noé e sua
família se salvaram na árca.
91. Os israelitas ficaram livres dos
egípcios, atravessando o Mar Vermelho a pé enxuto, ao
passo que os egípcios foram sepultados nas águas (Ex 14).
A água foi a salvação de Israel e a perdição dos egípcios.
92. O Salmo 68 é uma profecia da morte e
ressurreição de Jesus. Os maus querem afogar o justo nas
águas, mas Deus não permite. Salva-o das águas da morte,
conservando-lhe a vida.
93. O batismo é como o dilúvio, que destrói
a corrupção e liberta do pecado. É início duma nova
humanidade. Exige que vivamos uma vida nova de filhos de
Deus. O batismo é como a passagem do Mar Vermelho: liberta
da escravidão e da maldade e introduz no reino dos filhos
de Deus. Jesus Cristo é quem dá esta força ao batismo.
b) Promessas do batismo
94. Antes do batismo, os pais e padrinhos,
em nome dos batizados, proferem as promessas batismais,
renunciando ao pecado e proclamando a fé em Jesus Cristo.
95. O batismo infunde nas crianças uma vida
nova, nascida "da água e do Espírito Santo" (Jo 3,5). Em
sua condição de crianças, elas são, real e
verdadeiramente, enxertadas em Cristo e na Igreja. Recebem
uma vida nova, são lavadas do pecado original nas águas do
batismo, a fé lhes é infundida, são consagradas ao serviço
do Reino de Deus, tornam-se templo do Espírito Santo e
co-herdeiras da vida eterna.
96. Não têm, porém, consciência disso, como
também nós não tínhamos à época do nosso batismo. Não são
capazes de renunciar a nada nem abraçar compromisso algum.
97. Os adultos que as apresentam para o
batismo, ao renovarem as promessas do seu batismo, assumem
o compromisso de "educá-las na fé", a fim de que a vida
nova do batismo possa desenvolver-se e, um dia, ser
consciente e livremente assumida pelos próprios batizados.
98. Na fé da Igreja, as crianças são
batizadas; no compromisso de viverem autenticamente como
filhos de Deus, como irmãos, como seguidores de Cristo,
pais e padrinhos se propõem a educar a fé de seus filhos e
afilhados, pelo testemunho de vida, pela palavra, pela
vivência comunitária e pela participação da liturgia.
Renúncia
99. Renuncia-se ao pecado e às suas
manifestações, ou então, ao demônio, autor e princípio do
pecado, às suas obras e seduções.
100. No início da história, nossos pais
foram tentados (Gn 3,1-5.13) e sucumbiram (Gn 3,6). No
deserto, o povo tentado cedeu às forças escravizadoras do
mal (cf. Nm 11). Jesus, ao inaugurar a etapa final da
história da salvação, também é tentado no deserto,
antes de iniciar a sua missão, mas resiste, vence
o demônio em seu próprio terreno (cf. Lc 4,1-13; Mt
4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 11,14s). O novo Adão (1Cor
15,45; 15,21-22; Rm 5,12-21), cabeça do novo Povo de Deus
(cf. Rm 9,25; Tt 2,14; 1Pd 2,9-10; Ap 21,3), ao passar
pelas mesmas provações do primeiro Adão e do antigo povo,
resiste com a mesma naturalidade com que possui o
Espírito.
101. O povo israelita esquecera sua missão e
seu Deus e quer voltar às cebolas do Egito; ao ser
convidado a transformar as pedras em pães, Jesus diz que
não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da
boca de Deus (cf. Dt 8,3), denunciando assim a tentação de
querer a salvação por seus próprios meios e não por
aqueles que Deus quer.
Os israelitas tentaram a Deus, exigindo um
sinal; recusando-se a saltar do alto do templo, Jesus
recusa-se a apresentar um espetáculo sensacional (cf. Dt
6,16). Entregara-se o povo ao serviço dos ídolos;
negando-se a adorar o demônio, Jesus renuncia a qualquer
riqueza e dominação mundana (cf. Dt 6,3).
102. O modelo de renúncia é Jesus, o Servo
de Javé. Jesus não veio para ser servido, mas para servir
a Deus e ao seu povo, dando sua vida pela salvação de
muitos (cf. Mc 10,45). Não usa sua condição messiânica
para "matar a fome", para a "vanglória" ou para "dominar".
Evita este caminho, por mais sedutor que apareça à
primeira vista. Decide trilhar o caminho da pobreza, da
fraqueza, do serviço simples e humilde até a morte, seu
maior e decisivo serviço. "Humilhou-se a si mesmo, feito
obediente até a morte, e morte de cruz" (Fl 2,8).
103. A tentação de não servir a Deus e aos
seus desígnios nega a vocação fundamental do homem à
filiação e à fraternidade, subtrai-se ao Espírito,
que impele o homem de dentro (cf. Ez 37,14.24) a
chamar a Deus de Pai (cf. Rm 8,15) e a viver como filho de
Deus (cf. Rm 8,13-14; 5,5), amando os demais como Cristo
nos amou (cf. Cl 5,22; Jo 15,12).
104. Jesus é fiel até o fim à realização de
sua missão em forma de servo, superando todas as
tentações, não só do inimigo, mas também do seu amigo
Pedro: "Afasta-te, Satanás, tu és para mim um escândalo,
pois te deixas levar por considerações humanas e não por
pensamentos divinos" (Mt 16,22-23).
105. São Pedro nos alerta: "Sede sóbrios e
vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor,
como um leão que ruge, buscando a quem devorar.
Resisti-lhe, firmes na fé..." (1Pd 5,8-9).
Profissão de fé
106. A contrapartida da renúncia é a
profissão de fé. Imediatamente antes do rito da água, os
que participam da celebração do batismo professam a fé.
107. O batismo, com efeito, é o
sacramento que proclama e celebra a fé em Cristo e
em tudo o que ele fez e anunciou. É o "sinal"
sacramental da fé, sto é, um rito que manifesta e
realiza o que cremos, pelo poder de Cristo (Rito
para o Batismo de Crianças. A Iniciação Cristã, nº 3).
108. Para alguém ser batizado, é preciso que
faça sua profissão de fé. É preciso proclamar publicamente
que acredita em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que
derramou sobre nós o Espírito Santo e nos quer conduzir ao
Pai (cf. Mc 16,15-16).
109. "Mas como crerão sem terem ouvido
falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue?
(Rm 8,14). Por isso, a primeira tarefa da Igreja para com
os batizandos é anunciar-lhes Cristo e seu Evangelho. É
procurar que conheçam o Filho de Deus, se convertam a ele
e queiram segui-lo (cf. Mt 28,19).
110. O batizando, através dos responsáveis
por ele — seus pais e padrinhos — aceita o anúncio de
Cristo mediante o ato de fé e a conversão (cf. SC 6). "É
necessário que todos reconheçam a Cristo e a ele se
convertam e pelo batismo sejam implantados nele e na
Igreja, seu Corpo "(AG 7).
111. O batismo é apenas o início da vida
cristã. Deve ser completado pelo crescimento na fé que se
celebra na Confirmação e na Eucaristia e por toda a vida
do cristão. "O batismo é só o início que tende a conseguir
plenamente a vida em Cristo. Por isso, o batismo se ordena
à completa profissão de fé... e à total participação na
comunhão eucarística (UR 22).
112. O batismo de crianças, acenado no Novo
Testamento, quando se fala do batismo de "casas inteiras"
(cf. At 16,15-33, 1Cor 1,16), é motivado na necessidade
ordinária do batismo para a salvação.
113. Além disso, argumenta-se, sobretudo, a
partir das discussões em torno de um maior esclarecimento
sobre a doutrina do pecado original, que as crianças
contraem o pecado original sem culpa pessoal e, por isso,
devem poder libertar-se dele, mesmo sem decisão pessoal. A
fé atual, que as crianças não têm, é suprida pela fé dos
pais, dos padrinhos e de toda a Igreja, que, ao pedir o
batismo para as crianças, aceitam também a obrigação de
levar a criança à plena realização pessoal, antecipando,
assim, de alguma maneira, a fé pessoal futura.
A fé, sendo dom de Deus, não depende dos
homens, dos cuidados dos educadores e dos esforços das
crianças, mas da graça de Deus. A fé, infundida no batismo
como capacidade sobrenatural, se transforma em ato sempre
e somente através da graça preveniente de Deus que, de sua
parte, mantém o empenho assumido na hora do batismo. Da
mesma forma que outras capacidades e atividades, a fé será
pessoalmente assumida quando o batizado for capaz de
colocar atos verdadeiramente pessoais. A educação no
ambiente familiar e eclesial deverá propiciar este
florescimento da fé em termos pessoais.
c) Batismo
114. A liturgia sacramental culmina com o
batismo, por imersão, infusão ou aspersão, invocando
simultaneamente as três pessoas da Santíssima Trindade.
115. "O banho com água unido à palavra
da vida" (cf. Ef 5,26), que é o batismo, lava os homens de
toda culpa, tanto original como pessoal e os torna
"participantes da natureza divina" (cf. 2Pd 1,4) e da
"adoção de filhos" (cf. Rm 8,15; Gl 4,5). O batismo é,
pois, o "banho da regeneração" (cf. Tt 3,5) e do
nascimento dos filhos de Deus, como é proclamado nas
orações para a bênção da água. "Invoca-se a Santíssima
Trindade sobre os batizandos, que são marcados em seu
nome, para que lhe sejam consagrados e entrem em comunhão
com o Pai, o Filho e o Espírito Santo..." (Rito para o
Batismo de Crianças, nº 5).
116. Por que se batiza em nome do Pai, do
Filho e do Espírito? Qual o significado desta invocação?
117. O batismo em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo baseia-se no mandato de Jesus, segundo o
Evangelho de Mateus (cf. Mt 28,19).
118. Pelo batismo, tornamo-nos morada da
Santíssima Trindade (cf. Jo 14,15-17.23; 1Jo 2,6.24.27-28;
3,6.24; 4,12-16; 5,20).
119. O batismo nos faz filhos do Pai, irmãos
do Filho, templos do Espírito Santo.
120. Na economia da salvação, o Pai toma a
iniciativa de enviar o Filho para que nos tornemos
filhos de Deus (cf. 1Cor 8,6); o Filho se encarna e,
redimindo-nos, abre-nos a possibilidade de nos tornarmos
filhos de Deus (cf. Rm 8,14-17.28); o Pai e o Filho
mandam-nos o Espírito Santo que renova os nossos corações
e nos leva a dizer: "Pai" (cf. Gl 4,4-7).
121. Somos elevados à condição de filhos
enquanto recebemos do Pai e do Filho uma participação no
Espírito filial de que Cristo possuía a plenitude passando
a ter para com o Pai uma relação semelhante à que Cristo
tinha (cf. Mc 14,36).
122. Criado à imagem e semelhança de Deus
(Gn 1,27), que é comunhão de pessoas, e portanto,
destinado a viver em comunhão, o homem, pelo pecado,
separa-se de Deus e dos outros. Desfigura-se. O batismo
transforma intrinsecamente e regenera o homem (cf. Tt
3,4-7; 1Pd 1,3-5; Jo 3,38) divinizando-o.
Torna-o capaz de viver, nos limites da
natureza humana, uma comunhão semelhante à comunhão
trinitária, tanto com Deus como com os outros. É o
Espírito Santo que une os batizados numa família, na qual
todos são chamados a viver, em Cristo, o Filho, sua
comunhão filial para com o Pai e, em Cristo, o Irmão, sua
comunhão fraternal com os irmãos.
d) Unção com o crisma
123. Logo depois do batismo com água, a
criança é ungida com o santo crisma.
124. Cristo quer dizer Ungido. Jesus foi ungido com o Espírito Santo (cf. Lc 4,16-22; Is
61,1-6), para realizar sua missão libertadora, como
sacerdote, profeta e rei.
125. O cristão, no batismo, torna-se membro
de Cristo e de seu povo. É ungido para, como membro de
Cristo e da Igreja, continuar a missão de Cristo hoje.
126. A missão que Cristo confia aos
batizados é, portanto, tríplice: sacerdotal, profética e
real-pastoral.
Missão sacerdotal
127. O povo cristão, por força do batismo,
oferece sua vida a Deus e aos irmãos no serviço de cada
dia (cf. Rm 12,1; 1Jo 3,16) e, como fonte e cume desta
doação, participa "conscia, plena e ativamente das
celebrações litúrgicas" (SC 14). "Os fiéis são consagrados
para formar um povo de sacerdotes e reis (cf. 1Pd
2,4-10), de sorte que... por toda parte dêem testemunho de
Cristo" (AA 3).
Missão profética
128. Onde quer que vivam, pelo exemplo da
vida e pelo testemunho da palavra, devem todos os cristãos
manifestar o novo homem que pelo batismo vestiram" (AA,
11). "Os fiéis são obrigados a professar diante dos homens
a fé que receberam de Deus pela Igreja" (LG 11).
Missão real-pastoral
129. Cristo é o Rei e o Senhor do mundo
inteiro. Os batizados têm a missão de se esforçar para que
todos os homens aceitem e amem a Cristo Senhor (cf. AG
36). Os cristãos, vivendo seu compromisso, são como o
fermento que vai transformando o mundo, segundo o plano de
Deus (cf. AG 15).
130." Além disso, o batismo é o sacramento
pelo qual os homens passam a pertencer ao corpo da Igreja,
co-edificados para constituir a habitação de Deus no
Espírito" (Ef 2,22), como "povo santo, sacerdócio régio"
(1Pd 2,9); é também o "vínculo sacramental da unidade
existente entre aqueles que com ele são marcados" (cf. UR
22). Por causa desse efeito imutável, declarado na própria
celebração do sacramento na liturgia latina, quando os
batizados são ungidos pelo crisma na presença do Povo de
Deus, o rito do batismo deve ser tido em alta estima
por todos os cristãos, e não pode ser novamente
conferido a quem já o tenha recebido validamente
das mãos de irmãos separados" (Rito para o Batismo de
Crianças, nº 4).
e) A veste branca
131. A veste branca que o batizando recebe é
o sinal exterior da vida nova gerada pelo batismo. Pelo
batismo, a criança revestiu-se de Cristo, vestiu o "homem
novo" (cf. Gl 3,27; Ef 4,24).
132. A cor branca manifesta que o cristão já
participa da ressurreição de Jesus (cf. Mc 9,13; Ap 4,4;
7,9). Ele começa uma vida nova, deixa para trás o "homem
velho" (Rm 6,6), o homem entregue ao pecado.
f) A vela acesa
133. "Recebei a luz de Cristo", diz o
celebrante. Os pais acendem no Círio Pascal a vela de cada
criança.
134. Temos aqui o rito da luz e do fogo.
135. A luz é benfazeja. Antes que Deus
criasse a luz, a escuridão cobria o mundo (Gn 1,2). O fogo
ilumina e dá calor. É uma imagem do ser vivo, que se move.
É também símbolo do amor ardente. Sem a luz, ninguém pode
encontrar o caminho, contemplar a natureza, evitar perigos
escondidos.
136. Na Bíblia, Cristo é chamado "luz para
iluminar os povos" (Lc 2,32). Uma estrela brilhante conduz
os Magos até o Salvador recém-nascido (Mt 2, 2.10). A
Escritura compara o céu com a luz eterna, e o inferno com
as trevas exteriores (cf. Ap 22,5; Mt 25,30).
137. O próprio Cristo diz de si mesmo: "Eu
sou a luz do mundo" (Jo 8,12) e dos discípulos: "Vós sois
a luz do mundo... Assim brilhe a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras" (Mt 5,14-16).
O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos sob a forma de
fogo (cf. At 2,3).
138. No batismo, Cristo ilumina todos os
batizados com sua luz. Diz Pedro: "Cristo vos chamou das
trevas para a sua luz admirável" (1Pd 2,9). E são Paulo:
"Outrora, éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor.
Andai, pois, como filhos da luz (Ef 5,8).
139. Assim, como a vela tende a difundir em
torno de si a sua luz e o seu calor, também o cristão,
feito membro de Cristo e da Igreja pelo batismo, deve
difundir em torno de si o Reino de Deus. Participa da
missão da Igreja: "Os leigos pelo batismo foram
incorporados a Cristo, constituídos no Povo de Deus e a
seu modo feitos partícipes da missão sacerdotal, profética
e real de Cristo, pelo que exercem sua parte na missão de
todo o povo cristão, na Igreja e no mundo" (LG 31).
g) "Efeta"
140. O rito do efeta, em que o celebrante
toca os ouvidos e os lábios do batizando, recorda os
gestos salvíficos de Jesus, libertando as vítimas da
surdez e da mudez, que, além de seu valor próprio,
remetiam para uma realidade mais profunda: a libertação da
surdez e da mudez espirituais. Pede-se que o Senhor Jesus,
que libertou a tantos (cf. Mt 11,4-5), abra os ouvidos do
batizando para a Palavra de Deus e sua boca para a
proclamação da fé. A audição da Palavra de Deus, na fé e
na caridade, deve tender à sua proclamação, pela palavra,
pela vida e pela celebração.
Rito final
141. A celebração do batismo termina com a
oração do pai-nosso e a bênção às mães, aos pais, às
crianças e a todos os presentes.
a) Oração do Senhor
142. A oração do pai-nosso é o desfecho
lógico de toda a liturgia do batismo. A criança, que se
tornou filha de Deus pelo batismo, chama a Deus de Pai
pela voz de seus pais e padrinhos, com as mesmas palavras
de Jesus, o Filho eterno de Deus que se fez homem. Pela
primeira vez, unido a Cristo, o Filho de Deus, e aos seus
irmãos, filhos de Deus em Cristo, o batizando dirige-se
como filho Aquele que, por Cristo e no Espírito Santo, o
gerou sobrenaturalmente, tornando-o seu filho. Como membro
da família dos filhos de Deus, ele reza a oração com a
qual a família saúda o próprio Pai.
b) Bênção
143. Pelas bênçãos, agradece-se a Deus pelos
bens que ele nos dá e pede-se que não venha a faltar o
conjunto de bens necessários à vida do novo cristão em
tudo dependente de sua família — de modo especial da mãe e
do pai — e da comunidade maior. A vida humana acha-se
envolvida pela vida divina que a cria, sustenta, enriquece
e plenifica. O Deus que nos quer bem, em sua bondade, não
nos pode deixar sem os bens necessários à nossa
bem-aventurança.
II - PARTE
SUGESTÕES PARA A PREPARAÇÃO DO BATISMO
144. A Pastoral da Celebração do Batismo é
apenas um aspecto da Pastoral Orgânica da Igreja em seus
vários níveis.
145. Para se tender a uma celebração ideal
do batismo, o presente documento poderá ser de real ajuda.
Mas requer-se também a contribuição de outros setores da
pastoral, orientada como um todo orgânico, tais como a
ação missionária, a catequese, a pregação, a criação e o
desenvolvimento de verdadeiras comunidades eclesiais de
base, a diversificação dos ministérios etc.
146. Além disso, é indispensável que todos
os ministros hierárquicos de uma região adotem os mesmos
padrões de preparação e celebração do batismo. A fuga de
fiéis para outros lugares, onde o batismo se celebra sem
exigências, é ruptura da unidade e sinal de uma pastoral
que não educa o povo.
1. Preparação remota para o batismo
147. Aplicam-se à preparação remota do
batismo todos aqueles elementos que se afiguram de grande
importância para a renovação da vida eclesial, dentro de
uma pastoral orgânica e global: a luz do Concílio Vaticano
II e da IIIª Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano em Puebla: o relacionamento pessoal sobre
o qual se deve construir todo o trabalho de evangelização;
a necessidade de fazer da recepção, às vezes mecânica e
passiva, dos sacramentos, uma autêntica celebração da fé;
a formação de verdadeiros centros de comunhão e
participação nas "igrejas domésticas", comunidades
eclesiais de base, coordenadas e animadas a nível
paroquial e diocesano; uma participação mais qualificada e
diversificada dos leigos na Igreja e no mundo.
148. Todos os meios aptos ao alcance devem
ser utilizados na educação dos fiéis para a vivência
eclesial-comunitária, cuja origem e fundamento encontra-se
no sacramento do batismo, de tal forma que a Igreja possa
ser, cada vez mais e melhor, sinal e instrumento de
comunhão, de participação e de libertação integral.
2. Preparação próxima para o batismo
149. Todo o esforço do conjunto da pastoral
resulta necessariamente numa preparação da celebração do
batismo. Mas é necessária também uma preparação específica
para este sacramento.
150. No caso de batizandos adultos, o "Rito
da Iniciação Cristã dos Adultos" apresenta todo um roteiro
de formação. Tratando-se de crianças, a preparação é feita
sobretudo com os pais e os padrinhos. É importante,
todavia, motivar também a participação dos outros membros
da família e da comunidade eclesial de base em que a
família esteja inserida.
151. Segundo o ensino e a prática autêntica
da Igreja, é função dos pais e padrinhos assumir a
educação cristã da criança, batizada antes do uso da
razão. Durante a preparação, devem tomar consciência clara
desta responsabilidade.
152. Na realidade, os principais educadores
cristãos da criança serão normalmente os pais, e mais
raramente os padrinhos. É, pois, com os pais que se deve
ter especial atenção durante a preparação para o batismo.
O Ritual sublinha esta responsabilidade primeira dos pais,
preferindo que a mãe ou pai segure a criança no momento de
derramar a água (Rito, nº 60).
153. Uma equipe de agentes de pastoral,
quando bem formada, será de inestimável proveito na
preparação do batismo. Esta equipe representa a comunidade
no empenho de levar novos membros à fonte batismal:
valoriza o leigo na Igreja; reparte as responsabilidades
com o sacerdote; muitas vezes, atinge melhor a família dos
batizandos que o próprio padre. O conteúdo da preparação,
dentro do amplo tema do batismo, inclua o compromisso do
cristão com a Igreja e com o próximo, numa autêntica vida
comunitária.
154. Quanto ao modo de preparação, é preciso
insistir que ela seja mais vivencial e educativa do que
intelectual e instrutiva. Não se deveria falar em cursos,
mas em reuniões ou encontros de preparação, nos quais haja
reflexão, diálogo, oração e alguma celebração. Muito
recomendáveis são as visitas às famílias dos batizandos,
com o fim de integrá-las melhor à comunidade eclesial por
laços de verdadeira amizade e de fé.
155. Onde for necessário, faça-se uma
preparação mais longa dos pais (cf. Ritual para o Batismo
de Crianças. Observações Preliminares, nº 25). Ao lado da
preparação, serão ajudados a crescer na vida cristã, e a
criar, assim, um ambiente familiar propício ao
desenvolvimento da graça batismal de seus filhos.
3. Preparação e rito em etapas
156. A preparação em etapas, com ritos, é
o procedimento normal no batismo de adultos.
157. No batismo de crianças, esta
modalidade serve a mais de um objetivo: preparar melhor os
pais para o cumprimento de sua importante missão;
aproximar da comunidade eclesial todas as famílias,
especialmente as mais afastadas, a fim de conhecer mais
exatamente suas condições de vida.
158. Recomenda-se esta modalidade de
preparação, integrando palestras, orações e ritos,
inclusive para os casos normais de pais já preparados.
159. Tratando-se de famílias afastadas da
convivência eclesial, o período de preparação deve
estender-se por um espaço de tempo maior. Neste caso,
sobretudo, é muito eficaz a associação de palestras com
orações e ritos adaptados ao nível de consciência eclesial
dos participantes.
160. Cabe ao ministro ou responsável pelo
catecumenato batismal adaptar as etapas a cada família.
161. Damos alguns exemplos de ritos que
poderiam ser associados a palestras durante a preparação
ao batismo. A forma e o número de sua utilização ficam a
cargo dos agentes pastorais. Não serão viáveis em toda
parte. Principalmente, é preciso averiguar as reais
possibilidades das famílias dos batizandos e dos agentes
de pastoral.
a) Inscrição do nome
162. Nesta etapa, os filhos são apresentados à
comunidade, dentro da celebração da missa ou do culto,
após a homilia e antes da oração dos fiéis. Cada família
entrega a ficha completa de seu filho, para a futura
inscrição no livro de batizados. Esta ficha deve concordar
com os dados do registro civil. Estabelece-se um diálogo
com os pais sobre o valor da iniciativa que estão tomando
de pedir o batismo para seus filhos e as responsabilidades
daí decorrentes. Recebe-se a promessa dos pais de
prepararem-se devidamente para o batismo dos filhos.
Eventualmente, dá-se uma bênção especial para os pais e os
filhos, no fim da celebração.
b) Reuniões comunitárias ou visitas domiciliares
163. Na casa dos pais ou na igreja, faz-se uma
leitura bíblica relacionada com o batismo, conversa-se
sobre o sentido da Palavra de Deus em nossa vida,
alertando os pais para a responsabilidade que têm de
transmitir o Evangelho aos filhos, pela palavra, mas,
sobretudo, pela vida.
164. Pede-se realizar o rito do "efeta",
segundo o Ritual do Batismo de Adultos (nº 83) e o rito da
imposição do sinal da cruz, segundo o Ritual do Batismo de
Crianças (nº 41). Como sinal do compromisso dos pais em
preparar-se convenientemente para o batismo dos filhos,
eles poderiam dirigir-se à estante da leitura e beijar a
Bíblia.
c) Entregas
165. A preparação por etapas, com ritos,
culminaria com a entrega do Símbolo e do Pai-Nosso,
conforme o Rito da Iniciação Cristã dos Adultos (nº
181-192).
Os ritos realizados durante a preparação poderão ser
repetidos ou omitidos na celebração do próprio batismo.
III PARTE
SUGESTÕES PARA UMA CELEBRAÇÃO MAIS ADEQUADA DO BATISMO
1. Observações prévias
a) O batismo como entrada na Igreja e na comunidade
166. Na celebração do batismo, é
importantíssimo realçar que este sacramento é a porta de
entrada para a Igreja, Povo de Deus e Corpo de Cristo.
Ora, a Igreja não subsiste em forma de indivíduos avulsos,
mas se organiza em comunidades locais, maiores e menores,
como as dioceses, paróquias, comunidades eclesiais de base
e famílias.
Os batizandos devem, pois, normalmente
receber o batismo na sua própria comunidade, e não fora
dela, por exemplo, em algum santuário ou maternidade ou
noutra paróquia.
167. O Rito atual do batismo de crianças
exprime apenas vagamente a entrada do batizando na Igreja.
Como se poderia tornar mais explícito este aspecto
fundamental do batismo?
Aqui vão algumas sugestões:
168. • Por princípio, batizar as crianças em
suas próprias comunidades locais.
169. • Normalmente, devem estar presentes os
pais (pai e mãe) das crianças, pois terão parte saliente
na celebração e assumirão compromissos especiais.
170. • Onde for viável, celebre-se o
batismo, ao menos de vez em quando, em uma
missa dominical, em que se faz a aspersão da
água, conforme o Missal prevê (cf. Rito para Batismo
de Crianças, nº 29).
171. • Os pais em cerimônia própria podem
apresentar seus filhos à comunidade, durante uma missa
dominical, depois da homilia e antes da oração dos fiéis.
Nesta ocasião, pode-se fazer a inscrição prévia e a
cerimônia do diálogo inicial sobre o nome.
172. • Os pais e padrinhos sejam acolhidos
cordialmente à porta da igreja e tomem parte na procissão
de entrada.
173. • Dê-se preferência à celebração do
batismo simultâneo de várias crianças.
174. • Sempre que possível, nas saudações,
nas exortações e orações, mencione-se claramente o nome da
comunidade em que se realiza a celebração.
175. • À entrada da igreja poderiam ser
colocados cartazes murais representando uma família, um
povo em marcha, uma comunidade reunida. Retratos do Papa e
do Bispo diocesano mostrariam a unidade da comunidade
local com a Igreja particular e com a Igreja universal.
176. • Para mostrar que o batismo é o
primeiro passo para a vida sacramental, pode-se levar uma
das crianças até o altar, explicando o sentido deste
gesto.
b) Promover a participação segundo a índole do nosso povo
177. Sendo que a maioria dos nossos fiéis
pertence às camadas populares, é imprescindível, na
celebração do batismo, como, de resto, em toda a pastoral,
respeitar a sua maneira própria de ser e de expressar-se.
178. O homem do povo é, em primeiro lugar, o
homem do "agir" e do "fazer". Prefere gestos e símbolos às
muitas palavras. Convém, pois, na celebração litúrgica,
dar-lhe muitas ocasiões de participar por meio de gestos e
atitudes corporais.
Para tanto, sugerimos o seguinte:
179. • Valorizar as procissões durante o
desenrolar da cerimônia: da porta de entrada no centro da
igreja, na passagem dos Ritos Iniciais para a Liturgia da
Palavra; do centro da igreja para os bancos em frente do
presbitério, durante a primeira parte da Liturgia
Sacramental: daí à fonte batismal, no momento do batismo,
e, por último, ao altar, formando um círculo em redor
dele.
180. • Dramatizar as leituras bíblicas,
propiciando a participação de vários leitores.
181. • Fazer com que os pais e padrinhos
acendam juntos a vela no Círio Pascal e a segurem juntos,
em seguida.
182. • Dar tempo suficiente para que os pais
e padrinhos marquem, com o sinal da cruz, a testa de seus
filhos e afilhados; valorizar gestos como as unções, o
acender a vela no Círio Pascal, o colocar a veste branca.
183. • O homem do povo exprime-se de modo
concreto, contando fatos reais, sem longos raciocínios
abstratos. Por isso, na homilia, nas preces e nos
comentários dos ritos, mas, especialmente, durante toda a
preparação, é muito importante mencionar fatos concretos,
solicitar breves depoimentos e apresentar exemplos tirados
da vida do povo.
184. É sabido que o povo alimenta um forte
sentimento de solidariedade, que traduz em mil gestos de
apoio mútuo. Esta qualidade pode ser enriquecida sob o
impulso da caridade cristã e do espírito
comunitário-eclesial. Acentue-se, pois, na celebração do
batismo, a dimensão comunitária deste sacramento, conforme
se explicou acima.
São meios aptos para isso:
185. • A escolha de padrinhos que
se destaquem pela participação na vida comunitária e na
solução de problemas comuns.
186 .• A participação da família
dos batizandos na celebração do batismo das crianças.
187.• A celebração do batismo na comunidade
eclesial de base, onde os laços de comunhão são mais
fortes, ou, pelo menos, a presença de representantes das
várias comunidades do batismo celebrado na sede da
Paróquia.
188. • A acolhida dos batizandos à
porta da igreja pelo pároco e pela equipe responsável pelo
batismo, tanto na fase preparatória como durante a
celebração.
189. Toda complexidade e multiplicidade de
ritos e palavras causa confusão na mente do povo.
Evitem-se, portanto, os longos monólogos do celebrante, o
acúmulo de ritos, a linguagem e o vocabulário alheios ao
falar comum do nosso povo. Um animador ou comentarista
pode ser de muito proveito na explicação e introdução dos
ritos. Deve-se preferir o tom pessoal e informal, que
comunica mais, ao linguajar literário e artificial.
c) Cantos apropriados
190. O uso de cantos apropriados facilita e
aumenta a participação do povo na liturgia. Apropriados
são os cantos litúrgicos que exprimem louvor, súplica,
ação de graças. Mensagens evangélicas, conteúdos
catequéticos, pequenos conteúdos doutrinários podem ser
muito bem transmitidos através do canto.
191. Instrumentos musicais poderão animar o
canto.
192. O Ritual do Batismo permite, por
exemplo, cantar um canto alegre de entrada, um canto de
meditação após a leitura, um canto de agradecimento a Deus
pela água, um ato de fé, uma aclamação após o batismo, um
canto de agradecimento, e um hino à Virgem Maria, entre
outros.
d) Clima de alegria
193. O batismo é morte e ressurreição com
Cristo. Por conseguinte, o clima geral de toda a
celebração deve ser de alegria, festa, ressurreição,
esperança, e não de tristeza, apatia, pressa, formalidade.
194. No momento de derramar a água, ou logo
após a celebração, um alegre toque do sino traduz, em
algumas comunidades, o júbilo pelo renascimento de mais um
filho. Um cântico apropriado também ajudará o clima de
alegria. Em alguns lugares, soltam-se foguetes.
195. Concluída a cerimônia, dê-se o abraço
da paz e, onde for costume, a comunidade presente felicita
a família do batizado.
196. Algumas comunidades celebram a alegria
do batismo, realizando uma festinha comunitária nos dias
de batizados. Deve-se ao menos lembrar ao povo o
significado das festividades que já se fazem,
tradicionalmente, em seus lares, por ocasião de um
batizado.
e) Ministros do batismo
197. "Os Bispos, os presbíteros e os
diáconos são os ministros ordinários do batismo. Em cada
celebração desse sacramento, lembrem-se de que operam na
Igreja em nome de Cristo e pela força do Espírito Santo.
Por conseguinte, sejam cuidadosos na administração da
Palavra de Deus e na celebração do mistério.
Que evitem a todo custo qualquer
censura razoável dos fiéis por acepção de pessoas"
(cf. SC 32; GS 29) (A Iniciação Cristã — Observações
Preliminares Gerais, nº 11).
198. É, porém, muitas vezes aconselhável,
dada a nossa realidade pastoral, que nas paróquias, com
muitas comunidades ou nos grandes centros divididos em
setores ou áreas de evangelização, sejam formados
ministros leigos do batismo, que disponham de tempo para
preparar e realizar o batismo. Uma Igreja, verdadeiramente
Povo de Deus, incentiva seus membros a que assumam tarefas
diversificadas.
199. Os ministros sejam aceitos e indicados
pela comunidade e por seu pároco e instituídos pelo
bispo.
200. A fim de aprimorar a formação e a
experiência desses ministros, convém promover encontros
periódicos com os mesmos.
201. Evite-se o perigo de clericalizar os
leigos e se instruam os fiéis sobre a plena validade do
batismo celebrado pelos ministros leigos, nas condições
previstas pelo direito.
202. Em vista desta situação, "todos
os leigos, uma vez que são considerados membros
de um povo sacerdotal (...), procurem aprender,
conforme sua possibilidade, a maneira correta de
batizar em caso de necessidade" (cf. Rito para
Batismo de Crianças, nº 17).
f) A equipe de celebração
203. A comunidade paroquial designa algumas
pessoas que formem uma equipe para cuidar dos vários
aspectos da celebração: arrumação da igreja, acolhida,
canto, leituras, comentários, ajuda ao celebrante, aos
pais e aos padrinhos. Esta equipe pode coincidir ou não
com o grupo de agentes de pastoral que preparou as pessoas
para o batismo.
204. Tal distribuição de tarefas valoriza as
pessoas, desperta o interesse e a participação e tem
fundamento teológico na diversidade de ministérios com
que a Igreja é enriquecida (cf. SC 14,26 e 28).
2. Os ritos do batismo
a) Ritos iniciais
205. RECEPÇÃO — Os pais e padrinhos podem
aguardar, junto à entrada da igreja, a chegada do
celebrante com a equipe do batismo.
206. CANTO DE ENTRADA — Pode-se também
organizar uma procissão de entrada dos pais, dos padrinhos
e das crianças, enquanto se entoa um alegre canto de
batismo ou de convite à reunião da comunidade.
O celebrante e seus ministros recebem o
grupo no interior da igreja. Se o número de batizados for
grande, não permitindo a procissão, haja sempre um bom
acolhimento. A procissão poderá ser feita com apenas a
família de um batizando, representando as demais.
207. SAUDAÇÃO — O celebrante saúda os pais e
os padrinhos com um aperto de mão, quando possível, e com
palavras amigas. Depois, incentiva a todos os presentes
com palavras como estas: "Sejam bem-vindos. A comunidade
estava ansiosa por recebê-los. Vocês se prepararam
seriamente...".
208. DIÁLOGO — Segue o diálogo sobre o nome
da criança, o pedido do batismo e advertência sobre o
compromisso que pais e padrinhos vão assumir. De
preferência, tudo se faça em forma de diálogo direto e
simples, usando a terceira pessoa, com expressões como
estas: "Que nome deram para a criança", "qual o nome da
criança?", "como se chama a criança?", e a seguir: "O que
vieram pedir à Igreja de Deus para seu filho?", "por que
vieram à casa de Deus hoje?". Em algumas regiões do
Brasil, a forma usual de tratamento é a segunda pessoa.
209. SINAL DA CRUZ — Encerram-se os ritos
iniciais, traçando o sinal da cruz sobre a fronte de cada
criança. O gesto de traçar a cruz sobre a fronte deve ser
feito pelo celebrante, pelos pais e pelos padrinhos. O
mesmo se presta admiravelmente a uma pequena catequese
sobre a redenção e pertença a Cristo.
210. Se os ritos iniciais foram realizados à
entrada da igreja, faz-se, neste momento, uma procissão
até o centro da igreja.
b) Liturgia da Palavra
211. IMPORTÂNCIA DA LITURGIA DA PALAVRA —
Uma forma de realçar a importância da palavra seria trazer
processionalmente a Bíblia até o centro da igreja, dando
uma brevíssima explicação deste rito.
212. Onde for possível, convém que um dos
pais faça uma das leituras. No fim, para melhor exprimir
sua adesão e compromisso, os pais beijam a Bíblia ou
realizam outro gesto adequado.
213. Se o batismo for celebrado numa missa
dominical, convém que se leia o Evangelho do domingo, para
acompanhar a liturgia dominical, escolhendo-se um texto
batismal para a primeira ou segunda leitura.
214. As leituras sejam ordinariamente
introduzidas com breves palavras, aptas a prender a
atenção dos ouvintes e a facilitar a compreensão do texto.
215. A proclamação da Palavra de Deus seja
feita da melhor maneira: clara, pausada, comunicativa. A
repetição, às vezes, agrada e aproveita mais ao povo do
que a multiplicidade ou extensão dos textos.
216. Nunca se omita a proclamação do texto
bíblico, embora possa, a seguir, ser recontado ou
parafraseado por um ou mais dos presentes.
217. Além das versões da Bíblia já admitidas
para a liturgia, pode-se usar qualquer outra versão
aprovada por autoridade eclesiástica e que seja mais
adequada à cultura e linguagem dos ouvintes.
218. HOMILIA — Na homilia, seria
interessante oferecer a todos (pais, padrinhos e equipe de
batismo) a possibilidade de dar testemunhos sobre a
preparação que se faz e de participar na reflexão sobre o
texto sagrado.
219. Não se deixe de apontar também os
deveres da comunidade inteira para com os recém-batizados.
220. Depois da homilia — que convém seja
breve — o Ritual sugere uma oração em silêncio. Este
silêncio talvez seja mais proveitoso durante ou após a
ladainha.
221. ORAÇÃO DOS FIÉIS E LADAINHA — A
ladainha, enriquecida pela invocação dos santos padroeiros
das crianças e da comunidade local, lembra que formamos
uma só Igreja com os santos. A ladainha poderá ser
cantada.
222. CONCLUSÃO DA LITURGIA DA PALAVRA —
Apesar de termos, na XI Assembléia Geral da CNBB em 1970,
permitido a omissão da unção pré-batismal no caso de serem
muito numerosos os batizandos, esta permissão deve ser
interpretada restritivamente, de modo que não se perca,
pelo desuso, a riqueza de conteúdo deste gesto. A unção
pré-batismal é muito apreciada pelo povo. É sinal da força
de Cristo penetrando na criança. O comentador, como em
outros momentos da celebração, poderá intervir,
esclarecendo os presentes sobre o significado deste gesto,
aliás, muito diferente da unção pós-batismal.
223. Terminada a Liturgia da Palavra, todos
ou, pelo menos, o celebrante, os pais, os padrinhos e as
crianças, dirigem-se ao local do batismo, normalmente
situado no presbitério.
c) Liturgia sacramental
224. BÊNÇÃO DA ÁGUA — Por este rito,
agradece-se a Deus pelo dom da água e invoca-se a força do
Espírito Santo. Como participação de todos na invocação do
Espírito Santo, poderia haver orações espontâneas ou um
canto, como "A nós descei, divina luz".
225. A ligação entre batismo e ressurreição
se exprime pelo rito de mergulhar o Círio Pascal na água
do Sábado Santo. Este rito poderia ser repetido aqui.
226. PROMESSAS BATISMAIS: RENÚNCIA E
PROFISSÃO DE FÉ — A exortação que se faz aos pais e
padrinhos, antes de receber deles a renovação das
promessas batismais, deve deixar claro o empenho dos pais
e padrinhos em viver o próprio batismo, de modo que sejam
capazes de educar cristãmente seus filhos e afilhados.
A renovação das promessas batismais é
ocasião de os pais e padrinhos e de toda a comunidade
reassumirem conscientemente a graça de seu batismo e o
compromisso de vivê-la.
227. RENÚNCIA — Em lugar da palavra
"renunciar", pode-se usar outra expressão, como "lutar
contra", "desistir de", "não querer nada com", "combater".
228. Conserve-se a palavra "demônio". É
muito concreta e popular, ainda que seja necessário
esclarecer a fé do nosso povo a respeito.
229. Na renúncia, é útil mencionar, como
recomenda o próprio Ritual, alguns pecados que mais
ocorram na comunidade. Os próprios pais e padrinhos,
durante a preparação para o batismo, podem sugerir quais
sejam estes pecados. As renúncias ou promessas que as
manifestam poderão, pois, ser de várias formas, além das
previstas no Ritual.
230. PROFISSÃO DE FÉ — Convém, conforme as
circunstâncias, acrescentar aos textos da profissão de fé,
para torná-los mais acessíveis ao nosso povo, o que segue:
— Vocês acreditam em Deus, Pai, que fez
tudo o que existe, que nos ama e deseja a felicidade de
todos os seus filhos?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam em Jesus Cristo, Deus
Filho, que se fez homem como nós, nasceu da Virgem Maria,
sofreu e morreu para nos salvar, foi sepultado,
ressuscitou dos mortos e subiu ao céu?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam em Deus, Espírito
Santo, que mora em cada um de nós e dirige invisivelmente
a Igreja?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam na Igreja Católica,
pela qual cada um de nós é responsável?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam que nós, aqui na terra,
vivemos uns dependendo dos outros e em união com os que já
estão junto com Deus?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam que Deus perdoa os
pecados, quando nos arrependemos e nos confessamos?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam que os mortos vão
ressuscitar com Jesus e que os bons vão entrar na vida
eterna?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam que Jesus está presente
na Eucaristia como nossa oferta a Deus e nosso alimento?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam que o Papa e os Bispos
continuam a missão dos Apóstolos e de Pedro, mantendo a
Igreja unida e fiel?
— Acreditamos.
— Vocês acreditam que a família deve ser
uma comunidade de vida e de amor e é a primeira
responsável pela vida cristã de seus membros?
— Acreditamos.
231. A realização de um gesto concreto,
durante a renúncia e a profissão de fé, como colocar a mão
sobre a Bíblia ou sobre a cruz, no caso de os batizandos
serem poucos, ou de manter a mão estendida em direção ao
altar ou ao sacrário, no caso de serem muitos os
batizandos, reforçará o sentido deste rito. Pode-se
pronunciar as promessas falando ou cantando.
232. BATISMO — O celebrante alerta para a
importância do momento. O rito da água é o ponto
culminante da liturgia batismal.
233. A pergunta "Vocês querem que seu filho
seja batizado nesta mesma fé da Igreja que acabamos de
professar?" — dirigida aos pais — lembra, mais uma vez, a
responsabilidade que eles e os padrinhos estão assumindo.
234. Sendo possível, o acólito pode chamar
as crianças uma a uma pelo nome ou pelo nome dos pais para
que se aproximem da pia batismal.
235. No momento do batizado, é preferível
que a própria mãe segure a criança, uma vez que são os
pais que pedem o batismo para seus filhos e são os
principais responsáveis por seu crescimento na fé. Os
padrinhos devem tocar a criança. Caso não haja
incompreensão do gesto, conforme os costumes locais, o pai
também deve tocar a criança.
236. A pia batismal pode ser um recipiente
ou ainda uma fonte da qual jorra água continuamente.
Ambos devem apresentar-se limpos e belos. O espaço
destinado ao batismo deve conter o maior número
possível de pessoas presentes (cf. Iniciação Cristã —
Observações Preliminares Gerais, nº 25). Leve-se isto em
consideração na construção de novas igrejas e na reforma
de antigas.
237. Ensine-se ao povo a usar a água benta
como recordação do batismo e dos compromissos batismais
nele assumidos. Na missa dominical, use-se de vez em
quando, o rito do "asperges" como lembrança do batismo,
início da celebração.
238. UNÇÃO COM O CRISMA — Convém lembrar que
esta unção é o sinal da verdadeira consagração a Deus que
o batismo realiza, tornando os batizandos participantes da
missão profética, sacerdotal e real de Cristo, o Ungido.
239. Para que o rito seja mais expressivo,
use-se realmente óleo, e não apenas algodão umedecido com
pouquíssimo óleo. O algodão que se usa é para secar o dedo
do celebrante, não para enxugar o lugar da unção.
240. VESTE BRANCA — A imposição da veste
branca oferece algumas dificuldades práticas. Por isso, ou
se procure realizar bem esse rito ou se omita.
241. É bom lembrar que esse rito será mais
significativo se a criança for revestida com a veste
branca neste preciso momento. Contudo, é mais prático que
as crianças estejam vestidas de branco desde o início da
celebração. Os pais e os padrinhos devem ser orientados
sobre esse assunto na preparação para o batismo, para que
não comprem enxoval de outra cor para as crianças.
242. Deve ser abolido o costume de impor à
criança um simples lencinho branco ou uma toalha em lugar
da veste verdadeira. As igrejas poderiam ter uma "veste",
aberta nas costas, que se usasse por cima da roupa da
criança.
243. A VELA ACESA — O Círio Pascal é símbolo
de Cristo, vivo e ressuscitado, luz do mundo. O batizado é
iluminado pela verdadeira luz, que é Cristo. A vela acesa
também representa a fé viva, o amor ardente, a vida cristã
em geral.
244. Os pais e padrinhos acendem suas velas
no Círio Pascal, exprimindo, assim, o seu compromisso de
manter acesa a chama da fé em si mesmos e na criança.
245. Oportunamente, pode-se aproveitar algo
da liturgia do Sábado Santo, como por exemplo, levantar o
Círio Pascal e cantar: "a luz de Cristo", enquanto todos
respondem: "a Deus damos graças" ou então: "ilumine-nos,
Senhor".
246. Se o batismo for realizado à noite,
podem-se apagar as luzes e deixar que o Círio Pascal
ilumine todo o ambiente.
247. Recomende-se aos pais que guardem a
vela batismal, para que a criança a use por ocasião da
primeira comunhão.
248. EFETA — Este rito, apesar de ser
significativo, no Ritual do Batismo para o Brasil não é
obrigatório.
Ritos finais
249. PROCISSÃO ATÉ O ALTAR — A procissão com
canto e velas acesas até o altar significa a comunhão de
todos em Cristo, a quem o altar simboliza, e o direito que
as crianças batizadas têm de participar do culto cristão,
sobretudo da Eucaristia.
250. Os filhos têm direito à mesa da
família. Pode significar também que pertencem à Comunidade
eclesial. Não viverão o cristianismo isoladamente, mas em
comunidade, uma vez que, em Cristo, são filhos do mesmo
Pai e irmãos entre si.
251. A procissão até o altar significa
também que os pais e padrinhos devem acompanhar a criança,
pelo ensino e testemunho de vida, especialmente no período
de formação, levando-a à maturidade cristã.
252. O PAI-NOSSO — A exortação exprime a
idéia de que o batismo é a porta para os demais
sacramentos e para a vida em comunidade eclesial. O
pai-nosso é um resumo do Evangelho e é a oração que os
cristãos rezam, desde a antigüidade, antes das refeições,
inclusive antes da refeição eucarística. É a oração dos
"filhos de Deus" que se dirigem ao "Pai".
253. Pode-se rezá-lo com os braços abertos e
levantados, numa atitude filial.
254. BÊNÇÃO E DESPEDIDA — Na bênção final,
conviria mencionar também os padrinhos, usando para eles
uma fórmula como esta:
Deus todo-poderoso, pelo batismo, tornou-se nosso Pai e
nos presenteou com uma grande família. Que ele abençoe os
padrinhos destas crianças, para que ajudando seus pais e
representando o compromisso de toda a comunidade com seus
novos membros, levem seus afilhados a serem dignos de
Deus.
255. Para encerrar a celebração, cante-se um
hino de louvor, por exemplo, "O Senhor fez em mim
maravilhas", durante o qual o celebrante poderá aspergir
os participantes com água batismal, a fim de que se
recordem de seu batismo e de seus compromissos batismais.
256. A despedida final, num clima de festa,
seja feita com palavras cordiais e espontâneas. Uma salva
de palmas ou canto de parabéns pode expressar a alegria de
todos.
257. CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA — A
"consagração" a Nossa Senhora, que o Ritual põe como
facultativa, por vezes assume, na mentalidade popular, uma
importância tal que parece ter valor igual ao batismo.
258. Alguns falam em padrinhos e madrinhas
de consagração.
Para se chegar a certo equilíbrio, seguem algumas
sugestões:
259. — Acentuar que a verdadeira
consagração a Deus e a Cristo é o batismo.
260. — Usar uma fórmula apropriada,
em que Maria apareça como o modelo de perfeição consagrada
a Deus.
261. — Realizar a consagração depois
de toda a cerimônia do batismo e não logo depois do
pai-nosso.
262. — Respeitar os costumes da
religiosidade popular, deixando, por exemplo, que os pais
levem a criança batizada até o altar de Nossa Senhora, ou,
antes da despedida, rezando todos juntos a ave-maria.
3. Depois da celebração
263. Sugere-se que sempre se dê à família
uma certidão de batismo.
264. Como recordação do batismo, pode-se
entregar à criança ou aos pais um texto com uma pequena
dedicatória, contendo, por exemplo, os pontos mais
importantes da doutrina sobre o batismo e suas
conseqüências para a vida do cristão.
265. Para incentivar o espírito comunitário,
sugere-se que a comunidade promova uma festa de
confraternização depois do batismo.
266. A celebração do aniversário do batismo,
à semelhança do aniversário natalício, teria um sentido
muito cristão. A comunidade local, talvez a nível de
comunidade de base, poderia, pelo menos, mandar um cartão
de felicitações.
CONCLUSÃO
267. Apresentamos com este documento aos
pastores das nossas comunidades e seus agentes de
pastoral, de modo especial às equipes que ajudam os pais e
padrinhos na preparação para o batismo de crianças,
subsídios teológico-pastorais para a celebração do
primeiro sacramento. O documento será de proveito na
medida em que ele for estudado e aplicado.
Temos certeza de que ele poderá contribuir
para uma melhor evangelização da sociedade brasileira, a
partir da opção pelos pobres, como o exige o Objetivo
Geral da Ação Pastoral no Brasil, em seqüência à III
Conferência do Episcopado Latino-americano em Puebla.
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