Cristologia doutrina de Cristo
CRISTOLOGIA
SUMÁRIO
I. EIXO CENTRAL DA CRISTOLOGIA
II. CRISTOLOGIA ORTODOXA
III. A PESSOA DE CRISTO
IV. A UNIÃO HIPOSTÁTICA
V. A OBRA MEDIADORA DE CRISTO
VI. OS OFÍCIOS DE CRISTO
VII. OS ESTADOS DE HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO
NOTAS
BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO:
A Cristologia é o estudo sobre Cristo, é uma parte da teologia cristã que estuda e define a natureza de Jesus, a doutrina da pessoa e da obra de Jesus Cristo, com uma particular atenção a sua relação com Deus.
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I. EIXO CENTRAL DA CRISTOLOGIA
A
Cristologia tem sido debatida incansavelmente durante séculos, em
várias nações, dentro de várias correntes cristãs, com pontos de vista
semelhantes, divergentes e mesmo com algumas controvérsias. Alguns
aspectos deste assunto muito debatidos no eixo central da cristologia no
decurso da história do cristianismo são:
- a natureza divino-humana de Jesus (União Hipostática);
- a sua encarnação;
- a sua revelação de Deus;
- os seus milagres;
- os seus ensinamentos;
- a sua morte expiatória;
- a sua ressurreição;
- a sua ascensão;
- a sua intercessão em nosso favor;
- a sua parousia ( segunda vinda );
- os seus ofícios (profeta, sacerdote e rei);
- a sua posição como Cabeça de todas as coisas; e
- a sua centralidade dentro do mistério da vontade de Deus, dentro da restauração.
Talvez a disputa mais antiga dentro do cristianismo centrou-se sobre se Jesus era Deus. Um número de cristãos primitivos acreditavam que Jesus não era divino, mas fora simplesmente o Messias humano prometido no Antigo Testamento. A inclusão das genealogias de Jesus Cristo
em Mateus 1. 10-17 e em Lucas 3. 23-38 são explicadas às vezes por esta
opinião. Uma explanação alternativa é que eram uma oposição às
doutrinas dos Cristãos Gnósticos
que afirmavam que Jesus Cristo teve somente a ilusão de um corpo humano
e, assim, nenhuma ancestralidade humana. A opinião que Jesus era humano e divino foi oposta por líderes da igreja tais como Paulo. E se desenvolveu posteriormente na doutrina da igreja.
II. CRISTOLOGIA ORTODOXA
2.1. O Concílio de Calcedônia - A Cristologia ortodoxa tem por base o Concílio de Calcedônia (em 451
d.C.), o qual estabelece as bases desta corrente, na qual o Cristo é
verdadeiro Deus e verdadeiro Homem e se apresenta em duas naturezas sem
distinção, indivisíveis e inseparáveis, de tal forma que as propriedades
de cada uma permanecem ainda mais firmes quando unidas numa só pessoa.
(1)
2.2. A Cristologia dos Reformadores e dos Batistas antigos:
2.2.1. Confissão de Fé de Westminster (1647): Lemos no capítulo VIII, sob o Título: De Cristo, O Mediador:
“II.
O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e
eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o
cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas
propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado,
sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e
da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas -
a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só
pessoa, sem conversão composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre
Deus e o homem.
Jo.1:1,14; I Jo.5:20; Fp.2:6; Gl.4:4; Hb.2:14,17; Hb.4:15; Lc.1:27,31,35; Mt.16:16; Cl.2:9; Rm.9:5; Rm.1:3-4; I Tm.2:5.”
2.2.2. Confissão de Fé Batista de 1689: No Capítulo 8, sob o título Cristo, O Mediador lemos no parágrafo 2:
“2.
O Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade Santa – sendo o próprio
Deus eterno, o resplendor da glória do Pai, da mesma essência e igual ao
Pai - Ele fez o mundo, sustém e governa todas as coisas que criou.
Quando veio a plenitude do tempo, Ele tomou sobre si a natureza humana,
com todas as suas propriedades essenciais e fraquezas comuns9 – porém, sem pecado.10
E
foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria (pois o
Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu). Foi
nascido de mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e de
Davi, segundo previam as Escrituras.11
Desse
modo, duas naturezas completas, perfeitas e distintas foram
inseparavelmente unidas, em uma única pessoa, sem conversão, composição
ou confusão. E essa pessoa é verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem; no entanto, um só Cristo, o único mediador entre Deus e os
homens.12
9 João 1:14; Gálatas 4:4.
10 Romanos 8:3; Hebreus 2:14,16-17; Hebreus 4:15.
11 Mateus 1:22-23; Lucas 1:27,31,35.
12 Romanos 9:5; I Timóteo 2:5.”
III. A PESSOA DE CRISTO
3.1. Fatos bíblicos concernentes à Pessoa de Cristo – Os que a Bíblia ensina sobre a pessoa de de Cristo são:
1. que ele era verdadeiramente homem, ou seja, tinha uma natureza humana perfeita ou completa;
2. que ele era verdadeiro Deus, ou tinha uma natureza divina perfeita;
3. que era uma pessoa.
3.2. Provas da natureza humana de Cristo - Vejamos:
1. Cristo possuía um corpo verídico
– Isto é, um corpo material, composto de carne e sangue, em tudo
semelhante ao que é essencial ao corpo dos homens ordinários. “Ele
tomou sobre si a natureza humana, com todas as suas propriedades
essenciais e fraquezas comuns – porém, sem pecado.( João 1:14; Gálatas
4:4.10 Romanos 8:3; Hebreus 2:14,16-17; Hebreus 4:15.) (4) . Ele
nasceu de uma mulher, era de carne e sangue (Hb 2.14). Ele próprio
afirmou ter carne e ossos (Lc 24.39). “Portanto nada se revela acerca de
Cristo com maior clareza do que o fato de possuir ele um corpo
genuíno”, concluí Charles Hodge. (5)
2. Cristo possuía uma alma racional
– Ele pensava, raciocinava, sentia alegria e tristeza; cresceu em
sabedoria; desconhecia quando chegaria o dia do juízo. Portanto ele
possuía uma inteligência humana finita. Tais elementos prova que a
natureza humana fez da composição da pessoa de Cristo.
3.3. Provas da natureza divina de Cristo – Cristo é verdadeiramente Deus. “O
Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade Santa – sendo o próprio Deus
eterno, o resplendor da glória do Pai, da mesma essência e igual ao Pai”
(6). Assim reza a confissão de Fé dos Batistas de 1689. Vejamos mais detalhadamente:
1. São aplicados a ele os mesmos nomes e títulos divino;
2. Ele é chamado Deus;
3. Fala-se dele como onipresente, onisciente, onipotente e imutável;
4. Ele é apresentado como Criador, Sustentador e Governador de todo o universo;
5. Todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele;
6. Ele é o objeto de adoração de todas as criaturas inteligentes;
7. Ele é o objeto de todos os sentimentos religiosos; de reverência, amor, fé e devoção;
8. Ele exige que os homens o honrem como honram o Pai;
9. Declara que Ele e o Pai são um, que aqueles que o viram, viram igualmente o Pai;
10. Promete perdoar pecados, enviar o Espírito Santo, dar repouso e paz, ressuscitar no último dia e dar a vida eterna.
Na conclusão de Hodge temos: “Deus não é mais, não pode prometer mais, nem fazer mais do que se diz de Cristo, que promete e faz”. (7)
3.4. Cristo é uma pessoa una - Não
existe absolutamente nenhuma evidência de que Cristo tenha dupla
personalidade. Outra vez quero citar a autoridade da Confissão de Fé dos
Batistas de 1689, que desfez qualquer dúvida a respeito desta unidade: “E
foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria (pois o
Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu). Foi
nascido de mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e de
Davi, segundo previam as Escrituras.11
Desse modo,
duas naturezas completas, perfeitas e distintas foram inseparavelmente
unidas, em uma única pessoa, sem conversão, composição ou confusão. E
essa pessoa é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; no entanto,
um só Cristo, o único mediador entre Deus e os homens.” (8).
No
entender destes teólogos esta unidade é possível mediante a encarnação.
“Desse modo”, conforme grifado acima, refere-se a encarnação e a
concepção miraculosa do Espírito Santo.
IV. A UNIÃO HIPOSTÁTICA
4.1. Quando admitimos que o filho de Deus está revestido dos atributos da humanidade,
com um corpo nascido de mulher, que cresceu em estatura, foi visto,
sentido e tocado; que tem uma alma racional que se pertubava, que
desfrutava e que crescia em sabedoria e desconhecia certas coisas,
estamos dizendo que ele não é um complexo de propriedades sem a
substância da humanidade, nem uma abstração, não um fantasma, mas um
homem real, como os demais homens, porém isento do pecado.
4.2. De igual modo quando declaramos que ele é Deus
sobre todas as coisas, onisciente, onipotente e eterno, significa que
ele é o sujeito que possui uma natureza verdadeiramente divina; que a
substância de Deus nele é o sujeito ao qual são inerentes todos esses
atributos divinos.
4.3. Esta foi a fé da Igreja universal. Nos credos antigos que foram adotados pelas igrejas grega, latina, protestante, declara-se que Cristo é, com respeito à sua humanidade, consubstancial conosco; e quanto à sua divindade, consubstancial com o Pai..
4.4. Definição de união hipostática.
Duas naturezas completas, perfeitas e distintas foram inseparavelmente
unidas, em uma única pessoa, sem conversão, composição ou confusão, a
isso chamamos de união hipostática.
4.5. Quatro princípios estão aqui admitidos. São eles:
1. Aquilo do qual podemos asseverar os atributos, sejam em matéria, sejam em mente, tem de ser necessariamente uma realidade;
2. Não é menos verdade que, onde os atributos são incompatíveis, as substâncias tem de ser diferentes e distintas;
3. Igualmente verdade é que os atributos não podem existir distintos e separados da substância.
4. Os atributos de uma substância não podem ser transferidos para outra substância.
4.6. Pontos a ressaltar na nossa definição. Nossa definição de união hipostática extraída da “Confissão de Fé dos Batistas de 1689” tem os seguintes pontos a ressaltar:
1. Unidas ,porém sem conversão
– Isso é, não há nesta união uma conversão daquilo que é humano
passando a ser divino, nem o que é divino, passando a ser humano. Isso
seria Eutiquismo (9)
2. Unidas, porém sem composição – ou seja, não consiste essa união numa composição das duas naturezas a ponto de formar uma nova e terceira natureza.
3. Unidas, porém sem confusão – Não há transferência de atributos de uma natureza para a outra natureza. “As
Escrituras ensinam que a natureza humana de Cristo manteve sua
integridade depois da encarnação; e que a natureza divina permaneceu
divina”. (10)
4. A União é uma união Pessoal –
Isso tem um grande peso doutrinário, pois estamos afirmando,
primeiramente que esta união não se trata de mera habitação da natureza
divina na natureza humana, nem uma mera união moral e solidária, nem tão
pouco uma relação temporal e mutável, mas sim que a união é tal que
Cristo se torna uma pessoa. A personalidade de Cristo está na natureza
divina. Cristo desde toda a eternidade é uma Pessoa da
Deidade. Não foi uma natureza divina (entenda-se substância), que
assumiu a humanidade, ou que encarnou, mas uma pessoa divina. O filho de
Deus não se uniu a uma pessoa humana, mas a uma natureza humana,
portanto Ele tem duas naturezas, porém continua sendo uma só pessoa.
4.7. Consequências da União Hipostática – Vejamos algumas delas:
1. A koinonía idiomáton ( comunhão de atributos) – Comunhão e não transferência de atributos, isso é a pessoa é o koinonós,
ou seja, o participante dos atributos de ambas as naturezas. Isso quer
dizer que tudo que é verdade de ambas as naturezas é verdade na pessoa.
Vejamos algumas referências bíblicas sobre o assunto:
A). Passagens nas quais o predicado pertence a toda a pessoa:
Ø Lucas 2. 11: “ É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
Ø João 10.11: “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.”
Ø Efésios 5.23: “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo.”
Ø Atos 17.31: “Porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.”
Todas estas coisas são verdadeiras a respeito de Cristo, não como o Logos, o Filho, nem como o homem Cristo Jesus, mas como o “Theántropos”, o Deus – Homem.
B). Passagens nas quais a pessoa é o sujeito, mas o predicado é procedente só da natureza divina, ou do Logos
Ø João 8.58: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”
Ø João 17.5: “ Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse.”
C). Passagens nas quais a pessoa é o sujeito, porém o predicado é pertencente somente a natureza humana
Ø João 19.28: “ Depois, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam consumadas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede.”
Ø João 11.35: “Jesus chorou.”
D). Passagens nas quais o predicado não procede da natureza divina nem humana, mas apenas do “Theántropos”, Deus - Homem
Ø 1 Coríntios 15.28: “E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará
àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em
todos.” Aqui a designação Filho pertence à natureza divina, mas a
sujeição asseverada não pertence ao Filho como tal, ou ao Logos, nem
simplesmente a natureza humana, mas oficialmente refere-se ao Deus –
Homem. É na qualidade de Deus – Homem que ele está economicamente sujeito ao Pai.
Ø João 5.26: “Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmo.”. Nesta passagem a comunicação de vida não seria do Pai para o Filho, mas do Pai para o Teantropo.
Ø Hebreus 1. 2a: “ Nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho...” filho aqui refere-se ao logos encarnado.
Ø Hebreus
1.2b : “...a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem
fez também o mundo”. Diz-se respeito ao Filho eterno.
Ø Hebreus
1.3a : “ Sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do
seu Ser, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,...”
Também diz respeito ao Filho eterno.
Ø Hebreus
1.3b: “...havendo ele mesmo feito a purificação dos pecados...” a
referência é à natureza humana, porquanto o que morreu foi só seu corpo.
Ø Hebreus
1.3c: “...assentou-se à direita da Majestade nas alturas”. O que é
verdade do Deus – Homem. Pois ao ser elevado ao céu, ele assunta com a
natureza humana.
Todas estas classes de referências confirma a comunhão de atributos das duas naturezas de Cristo.
2. Os Atos de Cristo
– Esta é a segunda consequência da união hipostática de Cristo que
vamos analisar. Cristo é uma pessoa, e uma única pessoa. Portanto seus
atos, são atos de sua pessoa como um todo. Os atos de Cristo se divide
em três:
1. Puramente divinos: Criação e preservação.
2. Puramente humanos: comer, beber, dormir.
3. Teantrópicos: a obra da Redenção.
Embora
aqui dividimos os atos, não significa que era atos de três pessoas.
Todos são atos de Cristo, de uma e da mesma pessoa. Foi Cristo que criou
o mundo, foi Cristo que comia e bebia, e é Cristo quem nos redime.
Destes atos de cristo podemos tirar os seguintes ensinos:
A). A obediência e o sofrimento de Cristo foi a obediência e o sofrimento de uma pessoa divina.
A personalidade de Cristo está na sua natureza divina. A alma de uma
pessoa não pode ser ferida, mas quando o corpo é ferido é a pessoa quem
sofre. A obediência de Cristo foi a justiça de Deus, e o sangue de
Cristo era o sangue de Deus, não era apenas o sangue da natureza humana.
Era da pessoa inteira. Daí a eficácia de sua obra redentora.
B). O homem Cristo Jesus é o objeto de culto.
A base do culto não é a humanidade de Cristo, mas entra na constituição
dessa pessoa que é Deus acima de todos e o objeto de adoração para os
santos e os anjos. Por isso os apóstolos o cultuaram como seu Senhor e
Deus.
C). Cristo é um sacerdote misericordioso e fiel.
Deus como o Logos eterno não podia solidarizar-se com o seu povo. E
muito menos como apenas homem, por mais sábio, santo e benevolente que
fosse, poderia satisfazer nossa necessidade espiritual. Tudo o que
precisamos é de um Salvador que seja Deus e Homem ao mesmo tempo em duas
naturezas distintas e em uma única pessoa. Como Deus,
está presente em todos os lugares, onipotente e infinito em todos os
seus recursos para salvar e abençoar; e como homem, pode compadecer de
nossas debilidades pois foi tentado em tudo, para ser-nos acessível.
D). O logos encarnado é a fonte da vida. Ele
possui vida em si mesmo, e é a fonte da vida física, intelectual e
espiritual. A encarnação foi a condição necessária de comunicação da
vida espiritual aos filhos dos homens. O homem participa desta vida
mediante a sua união com ele. Esta união é:
1. Em parte federal, estabelecida nos conselhos eternos;
2. Em parte vital, pela habitação do Espírito Santo;
3. E
em parte voluntária e consciente pela fé. É aos que crêem, aos que o
recebem como Deus manifestado em carne, que ele se torna vida eterna.
3. Exaltação da humanidade de Cristo
– A humanidade de Cristo em virtude de sua união com a natureza divina,
é indiscritivelmente exaltada em dignidade, honra e em poder acima de
todas as criaturas inteligentes. Todavia esta exaltação não elimina a
sua humanidade. Isso causaria um sério erro doutrinário, pois romperia o
vínculo de solidariedade entre Cristo e nós.
V. A OBRA MEDIADORA DE CRISTO
5.1. Cristo, o único mediador - A Confissão de Fé dos Batistas de 1689 no capítulo 8, parágrafo 1 diz:
“Em
seu propósito eterno, e de acordo com o pacto estabelecido entre ambos,
aprouve a Deus escolher e destinar o Senhor Jesus Cristo, seu Filho
unigênito, para ser o mediador entre Deus e os homens;1 para ser o profeta,2 sacerdote3 e rei;4 o cabeça e Salvador de sua Igreja;5 o herdeiro de todas as coisas6 e juiz do mundo.7
Desde toda a eternidade, Deus deu-Lhe um povo para ser sua
descendência, e para que, em tempo, esse povo seja por Ele redimido,
chamado, justificado, santificado e glorificado.8
1 Isaías 42:1; I Pedro 1:19-20.
2 Atos 3:22.
3 Hebreus 5:5-6.
4 Salmo 2:6; Lucas 1:33.
5 Efésios 1:22-23.
6 Hebreus 1:2.
7 Atos 17:31.
8 Isaías 53:10; João 17:6; Romanos 8:30.” (11)
A
obra de mediação é a obra de reconciliação das partes inimizadas. O
mediador é aqule que intercede eficazmente para a reconciliação. Deus
escolheu e destinou o Senhor Jesus Cristo para ser o mediador entre Ele e
os homens. Cristo foi escolhido para ser o mediador, porque a
reconciliação com Deus envolve a necessidade de satisfação pelo pecado
cometido contra Deus, então somente ele é o mediador que pode fazer a
expiação pelo pecado. Só tem as qualificações para tal obra.
5.2. Qualificações exigidas para a obra de mediação – Vejamos o que as Escrituras exigem:
1. Ele tem de ser homem ( Hb 2.14-16): “ Portanto,
visto como os filhos são participantes comuns de carne e sangue, também
ele semelhantemente participou das mesmas coisas, para que pela morte
derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo; e
livrasse todos aqueles que, com medo da morte, estavam por toda a vida
sujeitos à escravidão. Pois, na verdade, não presta auxílio aos anjos,
mas sim à descendência de Abraão.”
2. Ele tem de ser insento de pecado ( Hb 4.15): “Porque
não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.”
Cristo iria oferecer em sacrifício a Deus pelos pecados dos homens,
logo tinha de ser isento de pecado. Essa ausência de pecado em Cristo
não equivale a impecabilidade absoluta. Se ele era homem genuíno, então
seria capaz de pecar. Tentação implica a possibilidade de pecar. Se para
Cristo era impossível ele pecar, então sua tentação não foi real,
portanto não pode solidarizar-se com seu povo. Mas esta não é a Fé da
Igreja, os batistas e todos os Reformadores asseguram que em Cristo
estava todas as propriedades essenciais e fraquezas comuns, podendo sim a
vir a pecar. “Ele tomou sobre si a natureza humana, com todas as suas propriedades essenciais e fraquezas comuns – porém, sem pecado” (12) . Então como ele não pecou ? A
Bíblia assim o diz e a fé da Igreja também. O Parágrafo V, do Capítulo 8
da Confissão de Fé dos Batistas de 1689, assim explica: “ O Senhor
Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo,
sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez,
satisfez plenamente à justiça do Pai. e para todos aqueles que o Pai lhe
deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável
no Reino dos Céus.” (13).
3. Ele precisa ser uma pessoa divina – enumeramos as seguintes razões sobre a afirmação deste tópico:
1. Para destruir o poder de Satanás e libertar os que eram conduzidos cativos à vontade dele;
2. Para poder ser a fonte de vida espiritual e eterna para o seu povo;
3. Para controlar todos os acontecimentos até a final consumação do plano de redenção;
4. Para ter sabedoria e conhecimento infinito para julgar todos os homens e ser cabeça sobre todas as coisas em prol de sua igreja.
5. Para ser o objeto, bem como a fonte de vida religiosa de todos os seus redimidos.
Tais qualificações são essenciais para o ofício de mediador e exigidas pela natureza da obra que ele veio concretizar e Cristo as cumpre todas.
Tal
necessidade da natureza divina não excluí a natureza humana, nem a
humana exclui a divina, mas toda esta obra acima descrita é a obra do Theántropos, Deus – Homem.
VI. OS OFÍCIOS DE CRISTO
Os
ofícios de Cristo fazem parte da obra mediadora. Durante longo tempo os
teólogos apresentam a obra mediadora de Cristo sob os tópicos de seus
ofícios profético, sacerdotal e régio. Esse método, além de óbvio e
conveniente, é de essencial importância e conta com um sólido fundamento
bíblico. Vejamos:
1. No VT, os vários ofícios eram distintos.
O profeta não era sacerdote, e o rei não era nem sacerdote, nem
profeta. Apenas dois destes ofícios foram em dadas ocasiões unidos na
mesma pessoa. Moisés foi ao mesmo tempo sacerdote e profeta, e Davi foi
rei e profeta. Não obstante os ofícios eram distintos.
2. O Messias foi predito como profeta, sacerdote e rei.
2.1. Como profeta: “O Senhor teu Deus te suscitará do meio de ti, dentre teus irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás... do meio de seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar”. (Dt 18.15,18)
2.2. Como sacerdote: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4)
2.3. Como Rei – “ Ele mesmo edificará o templo do Senhor; receberá a honra real, assentar-se-á no seu trono, e dominará. E Josué, o sacerdote, ficará à sua direita; e haverá entre os dois o conselho de paz.” (Zc 6.13).
3. No NT, o Redentor ao assumir o ofício do Messias prometido, apresentou-se ao povo como seu profeta, sacerdote e rei;
e os que o receberam, receberam no seu tríplice ofício. A conclusão do
teólogo Charles Hodge sobre este tríplice ofício vale ser citado aqui: “Como
pessoas apostatadas, ignorantes, culpadas, contaminadas e impotentes,
necessitamos de um Salvador que seja profeta para ensinar-nos; de um
sacerdote para que faça expiação e interceda por nós; e de um para
governar-nos e proteger-nos.” (14)
6.1. O ofício profético de Cristo - “O Senhor teu Deus te suscitará do meio de ti, dentre teus irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás”. (Dt 18.15).
A). A natureza do ofício profético
– Um profeta é alguém que fala em nome de outro ( Êx 7.1). Deus
comunica e o profeta anuncia a mensagem de Deus. Portanto deve ser o
órgão imediato de Deus. É assim que vemos Jesus exercendo este ofício.
Lemos nas seguintes passagens:
João 14.24: “a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.”
Lucas 24.19: “Ao que ele lhes perguntou: Quais? Disseram-lhe: As que dizem respeito a Jesus, o nazareno, que foi profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo.”
B). Como Cristo executa o ofício profético :
1. Como o Verbo eterno, o LOGOS, ele é a fonte de todo o conhecimento e sabedoria.
2. Antes do advento da encarnação, ele fez Deus conhecido
através de manifestações especiais aos patriarcas e profetas e através
do Espírito Santo, revelando a verdade e a vontade de Deus e inspirando
os designados para registrar tais revelações e iluminando a mente de seu
povo , conduzindo-os ao conhecimento salvífico.
3. Enquanto
na terra continuou seu ministério profético através de instruções
pessoais, em discursos, parábolas e exposições da lei e dos profetas.
4. Depois
de sua ascensão trouxe a revelação completa do evangelho aos apóstolos e
em sua inspiração como mestres e escritores canônicos infalíveis.
Também continua seu ofício através do ministério a qual instituiu e
chama homens para este ofício, bem como pelas influências do Espírito
Santo no coração humano, tornando a verdade eficaz para a santificação e
salvação de seu povo.
6.2. O ofício sacerdotal de Cristo – Para compreender este ofício precisamos definir o que vem a ser um sacerdote.
A). Definição de sacerdote:
1. Um
sacerdote é um homem devidamente designado para agir em prol de outros
homens nas coisas pertencentes a Deus. Isso se entende pelo fato dos
homens serem pecadores e não poderem chegar-se a Deus por si mesmo.
Consequentemente um sacerdote é por natureza de seu ofício um mediador.
2. Um
sacerdote é designado para oferecer dons e sacrifícios pelos pecadores.
Sua função é reconciliar os homens com Deus; fazer expiações pelos
pecados deles.
3. Um
sacerdote intercede pelo povo. Não apenas como um homem ora pelo outro,
mas recomendando a eficácia de seu sacrifício e a autoridade de seu
ofício como bases sobre as quais suas orações devem ser respondidas.
B). Cristo, nosso único sacerdote:
Se
aceitamos esta definição acima segue-se que o único sacerdote, ou a
única pessoa que pode verdadeiramente exercer este ofício é Cristo.
Sabemos que o sacerdócio do AT era simbólico e típico. O que o
sacerdócio arônico era simbolicamente, Cristo o é realmente. Isso nos
leva a afirmar que só Cristo pode ser nosso único sacerdote. Vejamos:
1. Nenhum
homem, salvo o Senhor Jesus, tem liberdade de acesso a Deus. Sendo
todos pecadores, necessitam de alguém para que se aproxime de Deus em
nosso favor;
2. Nenhum outro sacrifício além do seu pode tirar o pecado;
3. Deus só se faz propício aos pecadores mediante Cristo;
4. Todo favor divino emanam dele e por ele são comunicados ao seu povo.
C). Vários aspectos sob os quais é apresentada a obra sacerdotal de Cristo:
Antes de mais nada
devemos tentar definir os termos que aparecem constamente em discussões
teológicas sobre a obra de mediação de Cristo. São eles:
1. Expiação
– É uma palavra que ocorre com grande frequência no AT. O verbo expiar é
propriamente estar, ou levar a estar em alguém. Neste sentido, expiar é
reconciliar; e expiação é reconciliação. Portanto a palavra
expiação não expressa a natureza da obra de Cristo, mas seu efeito. Por
isso os teólogos usa o verbo expiar significando reconciliar por meio
de expiação, ou seja a reconciliação só se dá por meio da expiação. No
VT o sacerdote fazia por meio do sacrifício a expiação pelo pecado do
povo (Lv 5.16). Quando falamos da expiação de Cristo referimos aos seus
sofrimentos e morte para nos reconciliar com Deus. A segunda palavra que
vamos analisar é melhor para falar da obra redentora de Cristo.
2. Satisfação – É a palavra empregada pelos teólogos ao longo do século para designar a obra especial de Cristo na salvação dos homens. “Pela
satisfação de Cristo se pretende tudo o ele fez para satisfazer as
demandas da lei e da justiça de Deus, em lugar e em favor dos
pecadores”. (15) . Existe duas classes de satisfação. São elas:
1. Satisfação pecuniária ou comercial
: Quando um devedor paga a demanda de seu credor de maneira plena, ele
dá satisfação a suas demandas e fica livre de toda demanda posterior. É
um simples assunto de justiça comutativa. Tanto por tanto. Nem mais, nem
menos do que se deve. Não importa quem pague a dívida seja o devedor ou
alguém que paga em seu lugar; porque a reivindicação do credor é
simplesmente na quantia devida, e não com base na pessoa do devedor.
2. Satisfação legal o forense :
No caso de crimes, a questão é diferente. A demanda se concretiza na
pessoa do ofensor. É ele mesmo quem esta sob a reivindicação da justiça.
A alma que pecar esta morrerá.
A satisfação de Cristo
não foi comercial, mas penal ou forense. Foi uma satisfação em prol de
pecadores, e não em prol de alguns que devia certas quantias de
dinheiro. Quando a Igreja ensina que Cristo satisfez a justiça divina
pelos pecados dos homens está afirmando que o que ele fez e sofreu foi
uma verdadeira e adequada compensação pela pena remitida e pelos
benefícios conferidos.
Mas
que isso a satisfação de Cristo era uma questão de graça. Deus não
estava obrigado a prover um substituto para os homens apostatados, nem o
Filho obrigado a assumir tal ofício. Foi um ato de pura graça que Deus
suspendesse a execução da pena da lei, e consentisse em aceitar os
sofrimentos vicários do Filho em lugar da morte do pecador.
3. Penalidade – Quanto a esta penalidade algumas dificuldades são levantadas na teologia. Vejamos:
A). Primeiro no que diz respeito a definição da palavra.
Por penalidade de uma lei, se compreende uma classe ou grau específico
de sofrimento. A penalidade da lei divina é a morte eterna. Logo se
Cristo sofreu a penalidade da lei, então deve ter sofrido a morte
eterna; ou seja ele teria sofrido o mesmo gênero de sofrimento daqueles
que sofrem o abandono de Deus, e morrem eternamente.
B).Segundo, diz
respeito que Cristo sofreu o que a lei denunciava contra os pecadores
quanto à essência da pena, mas não quanto a seus acidentes. Assim
temos que, a essência da lei divina é a manifestação do desagrado de
Deus, a retração do favor divino. Isso Cristo sofreu. Ele suportou a ira
de Deus. No caso dos pecadores isso induz a uma perdição sem fim,
eterna, porque eles não tem vida em si mesma.
C). Uma terceira
objeção levantada e mais satisfatória é que as palavras penal e
penalidade não designam nenhum gênero ou grau particular de sofrimento,
mas qualquer gênero ou qualquer grau que é aplicado judicialmente
para satisfação de justiça. A palavra morte nas Escrituras, é utilizada
para designar o pagamento ou retribuição do pecado, e inclui todos os
tipos e graus de sofrimentos infligidos como castigo. Por exemplo o
sofrimento sem referência a razão é uma case infligido para benefício do
que sofre é disciplina; se para satisfação de uma sentença judicial é
castigo. Neste caso quando afirmamos que Cristo sofreu a penalidade da
lei, não estamos dizendo nada concernente à natureza ou o grau de dores
que ele sofreu. Apenas afirmamos que ele morreu para que Deus pudesse
ser justo e justificador dos ímpios. Não queremos dizer com isso que o
gênero e o grau do sofrimento de Cristo não tem importância. Uma gota de
sangue não seria suficiente para redimir o mundo. O valor
do sofrimento de Cristo está ligado, primeiramente à dignidade de sua
pessoa, em segundo lugar ao caráter e a intensidade de seu sofrimento,
finalmente ao desígnio de seu sacrifício.
4). Vicário –
Esta palavra segundo seu significado e uso, inclui a idéia de
substituição. Sofrimento vicário é um sofrimento suportado por uma
pessoa em lugar de outra. Um substituto vicário, preenche o lugar de uma
pessoa e a absolve da necessidade de fazer ou sofrer a mesma coisa.
Isso aplicado a Cristo, significa que ele sofreu em lugar dos pecadores.
O que ele fez e sofreu desfaz a necessidade de eles cumprirem os
requerimentos da lei em sua própria pessoa.
5). Culpa – A
palavra culpa, expressa a relação que o pecado tem com a justiça, ou com
a penalidade da lei. Essa relação é dupla. Vejamos:
A). Primeiro ele expressa criminalidade, desmerecimento e demérito.
Ela é inseparável do pecado. Ela pertence a todos os pecadores e
acompanha permanentemente a todos os que tem pecado. Ela não é removida
pela justificação, muito menos pelo perdão. Nem pode ser transferida
para outra pessoa.
B). Em segundo lugar culpa significa a obrigação de satisfazer a justiça.
Ela pode ser resolvida pela satisfação da justiça pessoal ou vicária.
Pode ser transferida de uma pessoa para outra, ou assumida por uma
pessoa no lugar de outra. É neste sentido que nos foi imputada a culpa
do pecado adâmico; e também é neste sentido que Cristo assumiu a culpa
de nosso pecado; e que seu sangue nos purifica da culpa. Sendo a culpa a
obrigação de satisfazer a justiça, ela só pode ser removida mediante o
castigo. Ou o próprio pecador tem de ser castigado, ou é preciso prover
um substituto para que assuma a culpa e leve o castigo, conseguindo
assim a libertação da culpa, ou justiça, para o ofensor. Essa é a idéia bíblica da doutrina da satisfação de Cristo.
6). Redenção - A
idéia é de livramento, aplicada à obra de Cristo significa livramento
mediante compra. É livramento através de sangue, pelo pagamento de um
resgate, comprar a liberdade de um escravo ou cativo.
7). Expiação e Propiciação
– Estas duas palavras são termos correlativos. O pecador, ou sua culpa é
expiado; Deus, ou a justiça, é propiciado. Charles Hodge explica estes
termos da seguinte maneira: “ A culpa tem de ser, pela
natureza de Deus, visitada com castigo, o qual é a expressão do
desagrado de Deus contra o pecado. A culpa é expiada, na descrição
bíblica, coberta, por meio de satisfação, ou seja, por meio de castigo
vicário. Deus é assim propiciado, ou seja, agora é consistente com sua
natureza perdoar e abençoar o pecador”.(16) Quando falamos que
Cristo efetuou a obra de expiação e propiciação do pecador estamos
dizendo que ele assumiu a nossa obrigação de satisfazer a justiça divina
e deu plena satisfação pelos nossos pecados, suportando em nosso lugar a
penalidade da lei.
A). O propósito da Expiação – “A
expiação foi destinada a afetar a relação de Deus com o pecador, o
estado e a condição de Cristo como o Autor Mediatário da salvação, e o
estado e a condição do pecador”.(17) Não estamos dizendo que a
expiação efetuou mudanças no ser interior de Deus, pois Ele é imutável. A
mudança é na relação de Deus com os objetos de seu amor expiatório.
Significa que por meio da expiação a ira de Deus foi desviada. A
expiação removeu os obstáculos à manifestação do amor de Deus no perdão
dos pecadores, satisfazendo a justiça de Deus e as exigias da lei.
B). A Extensão da Expiação
– Esta é uma das questões mais debatidas na Teologia. Aqui se levanta
questões tais como: A satisfação dada por Cristo é suficiente para todos
os homens ? Se os benefícios salvíficos são realmente aplicados a todos os homens, porque que todos os homens não são salvos ? A
oferta da salvação é feita somente aos que ouvem o evangelho, de quem é
a culpa daqueles que nunca ouviram o evangelho ? Quando Deus enviou
Cristo, fizera isso com o propósito de salvar somente os eleitos, ou
todos os homens ? Vejamos algumas respostas:
1. Os arminianos holandeses
– Sustentavam que Cristo morreu com o propósito de tornar a salvação
possível para todos os homens, sem exceção, embora nem todos sejam
salvos. A salvação lhes é oferecida com a condição de haver fé e
obediência evangélica.
1.1. Provas bíblicas:
Todo sistema arminiano defende uma expiação ou propiciação universal.
Para eles Cristo fez uma “propiciação ampla por toda a humanidade”. São
citados os seguintes textos bíblicos ( Jo 3.16; Rm 5.18; 2 Co 5.14,15; 1
Tm 2.3-6; 4.10; Tt 2.11; Hb 2.9: 1 Jo 2.1,2). Procuram argumentar sobre
a expiação ilimitada com os seguintes argumentos:
a). Que Cristo morreu
por todos é evidente pela sua solidariedade com a nossa espécie. A
propiciação, fez com que a raça humana se perpetuasse depois de haver
sido privada da vida pelo pecado original.
b). Visto que o
Espírito Santo é dado aos homens em virtude da propiciação e rejeitá-la e
ultrajar o Espírito da graça, é óbvio que todos os seres humanos tem
parte na morte sacrificial de Cristo (Jo 16.8-11; At 7.51; Hb 10.29).
c).Homem nenhum tem
capacidade de pensar, sentir ou fazer coisa alguma que seja boa sem o
auxílio divino, (tais coisas só são possível por meio de Cristo), e já
que todo homem é consciente de que pode voltar-se do pecado para a
justiça, está claro que todo homem tem parte na morte sacrificial de
Cristo.
d). Sendo o
arrependimento uma graça proveniente do Espírito Santo, e como Deus,
anuncia agora que todos os homens, em todo lugar, que se arrependam,
então todos os homens tem parte na misericórdia de Deus em Cristo (At
17.30);
e). Visto que de todos os homens são convidados a crer no Evangelho, logo há um interesse natural pela salvação, de outra maneira ele não seria convidado a crer e nem ameaçado com a condenação no caso de não crer (Mc 16.16).
f). A proclamação do
evangelho deve ser levado a todos. Portanto, não pode haver pessoa
alguma pela qual Cristo não tenha morrido (Mc 16.15).
g). Se Cristo será juiz de todos os homens, então Cristo também morreu por todos os homens (Jo 5.22; At 17.31).
2. Os calvinistas
– A posição reformada é que Cristo morreu com o propósito real de
salvar os eleitos, e somente os eleitos. Todos os agostinianos tem o
costume de dizer que Cristo morreu “sufficienter pro omnibus, efficaciter tantum pro electis” ( suficiente para todos, eficaz somente para os eleitos).Hogde afrima: “Há um sentido no qual ele morreu por todos, e há um sentido no qual ele morreu somente para os eleitos”. (18)
2.1. Provas bíblica da expiação limitada:
a). Primeiramente
temos como princípio geral que os desígnios de Deus são eficazes e não
podem ser frustados pelas ações do homem. Se a intenção foi salvar todos
os homens, esse propósito não poderia ser frustado pela incredulidade
do homem.
b). As Escrituras
qualifica aqueles pelos quais Cristo morreu de tal maneira que indica
uma limitação muito definida. Veja os textos:
Aqueles por quem ele sofreu e morreu são chamados de:
1. suas “ovelhas”, “minhas ovelhas” (Jo 10.11,15,26);
2. Sua “igreja” (At 20.28; Ef 5.25-27);
3. “o seu povo” ( Mt 1.21;
4. “os eleitos” (Rm 8.32-35).
c).A
obra sacrificial de Cristo e sua obra intercessória são simplesmente
dois aspectos diferentes da sua obra expiatória, portanto uma não pode
ser mais ampla do que a outra. Em João 17.9, sua oração intercessória
excluí o mundo e limita-se a “aqueles que me deste”. Por que limitaria a
sua oração intercessória, se de fato pagou o preço por todos? Cristo morreu por aqueles por quem Ele não orou?
d). Se Cristo morreu
com o propósito de salvar todos os homens, logo é impossível que aqueles
por quem Cristo pagou o preço, cuja culpa ele removeu, se percam por
causa desta culpa. Os arminianos precisam caminhar até o fim, e no fim
deste caminho está o universalismo absoluto.
e). Se Cristo tornou a
salvação possível para todos, mas de fato salva apenas um número
limitado de pecadores, estamos dizendo que há uma inseparável ligação
entre a aquisição e a real dádivas da salvação. A finalidade e o efeito
da obra expiatória de Cristo não consistem apenas em tornar possível a
salvação, mas, em reconciliar Deus com o homem e dar aos homens efetiva
posse da salvação eterna, uma salvação que muitos não consegue obter (
Mt 18.11; rm 5.12; 2 Co 5.21; Gl 1.4;3.13;Ef 1.7).
f). Se o propósito de
salvar foi condicional, dependendo da fé e da obediência do homem,
contradizemos o efeito da obra expiatória de Cristo, que foi adquirir a
fé, o arrependimento e todos os demais efeitos da obra do Espírito
santo, a favor do seu povo. Se Cristo teve que morrer para adquirir tais
bençãos, significa que isso não depende da vontade do homem ( Rm 2.4;
Gl 3.13,14;Ef 1.3,4: 2.8; Fp 1.29; 2 tm 3.5,6).
2.2.O maior problema
com a expiação definida ou limitada é encontrado nas passagens que as
Escrituras usam referentes à morte de Cristo “por todos” ou pelo “mundo
todo”.
O mundo por quem Cristo morreu não pode significar a família humana inteira. Deve referir-se à universalidade dos eleitos (povo de todas as tribos e nações),
ou à inclusão dos gentios em acréscimo ao mundo dos judeus. Foi um
judeu que escreveu que Jesus não morreu meramente por nossos pecados,
mas pelos pecados do mundo todo. Será que a palavra nossos refere-se aos crentes ou aos judeus crentes?
Precisamos nos lembrar de que um dos pontos cardeais do Novo Testamento
refere-se à inclusão dos gentios no plano da salvação de Deus. A
salvação era dos judeus, mas não restrita aos judeus. Onde quer que seja
dito que Cristo morreu por todos, algum limite precisa ser
acrescentado, ou a conclusão teria de ser o universalismo ou a mera
expiação potencial. Vejamos algumas passagens bíblicas que parecem ser
provas da expiação universal:
1. João 3 16 e I João. 2:2:
Parecem ensinar que Cristo morreu por cada indivíduo. Contudo, a
palavra "mundo" raramente significa cada indivíduo da raça humana. A
palavra "mundo" às vezes, é usada para distinguir:
Ø salvo do perdido (I João. 5:19);
Ø o judeu do gentio (Rom. 11:11-15);
Ø e os poucos dos muitos (João 12:19).
“Creio
que João 3:16 e I João 2.2 ensinam que Cristo morreu tanto pelos
gentios como pelos judeus. Ele morreu pelos homens como pecadores e não
como qualquer classe ou tipo de pecadores. Os judeus pensavam que seu
Messias, quando viesse, os livraria e destruiria os gentios. Mas João
diz que Ele é a propiciação para todos os crentes, independente de
classe ou cor. Em outras palavras: Cristo não é um salvador de uma
tribo. Se pensarmos na morte de Cristo como substituta, então concordo
com Spurgeon, que Ele morreu só pelos eleitos. Se Ele morreu como
substituto por cada indivíduo, então cada indivíduo deve ser salvo, ou
então Sua morte foi em vão. Mas creio que há um sentido no qual a morte
de Cristo afeta cada pessoa. Por sua morte Ele comprou a raça humana,
não para salvar cada indivíduo, mas a fim de dispor de cada indivíduo. 0
direito de julgar este mundo é a recompensa de Cristo por Seu
sofrimento. Todo juízo foi confiado ao Filho. João. 5:22.” (19)
2. Em II Pe. 3:9:
O apóstolo está explicando porque o Senhor ainda não voltou à esta
terra, e a razão é, que Ele não quer que nenhuma alma pereça, mas que
todos cheguem ao arrependimento. Isto se refere à Sua vontade de
propósito. É o propósito de Deus que todos se arrependam e sejam salvos.
Com longanimidade Ele espera até que todos os escolhidos sejam trazidos
ao arrependimento. Os escolhidos são descritos como aqueles que
obtiveram a tão preciosa fé (1:2) que receberam todas as coisas que
pertencem à vida e à santidade (1:3); e escaparam da corrupção que está
no mundo (1:4). Em Pe. 3:15 o apóstolo diz aos mesmos "para conosco",
que eles devem considerar a grande benignidade do Senhor como salvação. A
benignidade de Cristo para com os eleitos 0 mantém em Seu trono
mediatório, até que todos sejam salvos. Se Ele viesse mais cedo que o
planejado, muitos dos eleitos não seriam salvos. Não é Sua vontade de
propósito que nenhum dos que o Pai Lhe deu pereça. As palavras "todo" e
"cada" dificilmente são usadas no sentido absoluto. Veja Mat. 3:5-7; I
Cor. 4:5. O "todos" de II Pe. 3:9 são todos os "para conosco" que serão
trazidos ao arrependimento. Esta não é uma gramática boa, mas é uma
ótima teologia, necessária à clareza. Cristo não virá para julgar, até
que todos que o Pai Lhe deu se arrependam. E quando Ele vier introduzirá
a nova era do "novo céu e nova terra". onde habita a justiça.
3. 1 João 2.1-2:
Esta é outra passagem das Escrituras freqüentemente usada por aqueles
que iriam argumentar que morte de Cristo é para todos e cada um dos
homens. Diz-se que a expressão "todo o mundo" tem que significar "todas
as pessoas do mundo", e que a expressão contrastante "não somente pelos
nossos" inclui, deliberadamente, todos e cada um dos homens como aqueles
pelos quais Cristo morreu, além dos crentes.
Qual é o significado de "todo o mundo"? Esta frase ocorre várias vezes no Novo Testamento, e freqüentemente não significa todos e cada um dos homens. Por exemplo:
Lucas 2.1 – “Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado.” Mas o alistamento somente aconteceu no Império Romano.
Romanos 1.8 – “Primeiramente dou graças ao meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.” Mas muitas partes do mundo não tinham ouvido a respeito da igreja de Roma naquele tempo.
Colossenses 1.6 – “ Que já chegou a vós, como também está em todo o mundo, frutificando e crescendo, assim como entre vós desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade”. Mas muitas partes do mundo ainda não haviam recebido o evangelho.
Apocalipse 3.10 – “Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra”. Mas isso não significa todos, sem exceção, pois alguns serão preservados disso.
Nessas e em outras passagens, todo o mundo significa nada mais que muitas pessoas, indefinidamente.
Além
disso, em certos versículos das Escrituras, frases como "toda a carne"
significam nada mais que todos os tipos de pessoas, como por exemplo:
Salmo 98.3; Joel 2.28 (cumprida em Atos 2.17).
Algumas vezes, de fato, o mundo significa todos, exceto os crentes, como por exemplo: 1 João 5.19; Apocalipse 12.9.
Esses
exemplos nos mostram, claramente, que não é essencial entender a
expressão "todo o mundo" como sentido de "todos inclusive". O sentido
não precisa ser outro senão o que o contexto da expressão sensatamente
permite.
A expiação de Cristo
foi real. Ela efetivava tudo o que Deus e Cristo pretendiam dela. O
desígnio de Deus não foi e não pode ser frustrado pela incredulidade
humana. O Deus soberano soberanamente enviou seu Filho para propiciar
pelo seu povo
8. Intercessão - Cristo,
tendo se oferecido na cruz como sacrifício por nossos pecados,
ultrapassou os céus para comparecer diante de Deus em nosso favor. Seu
ofício sacerdotal é agora exercido no céu, onde vive para interceder por
nós. Esta obra de Cristo se acha descrita da seguinte maneira nas Escrituras:
1. Cristo, nosso Intercessor:
A). Dizendo que ele comparece agora diante de Deus por nós: “Pois
Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de
Deus”. (Hb 9.24)
B). Sua intercessão é expressa dizendo que ele se apresenta diante de Deus em nosso favor: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.”
(Hb 7.25). Expressando-se em linguagem humana, este interceder de
Cristo por nós é Cristo falando com Deus em nosso favor. Na expressão de
João 17.9, ele ora por nós.
C). Cristo é nosso “parácletos”, (Paracleto): O Paracleto é, pois, no sentido amplo do termo, um ajudador. Também Paracleto é traduzido ppor advogado em 1 João 2.1, e por consolador em João 14.16;15.26;16.7. significa também invocado,
chamado para socorrer. O termo melhor para descrever a obra
intercessória de Cristo é advogado. Ele comparece diante do tribunal de
Deus em nossa defesa. Advoga nossa causa. Apresenta diante de Deus sua
obra de obediência e sofrimento como a base da nossa justificação, usa
da influência que lhe é devida em virtude do pacto da redenção, e o
perfeito cumprimento de suas condições, a fim de assegurar para o seu
povo todo o bem de que ele necessita.
2. Natureza da intercessão: Quando a natureza da intercessão de Cristo é suficiente dizermos:
a). Seu comparecimento diante de Deus em nosso favor, como sacrifício pelos nossos pecados;
b). Defesa contra a sentença da lei e as acusações de Satanás;
c). Sua oferta de si mesmo como nossa garantia de justificação e de condição de sermos obediente e fiel;
d). A
apresentação diante de Deus de nossos sacrifícios, nosso coração e
nosso serviço, tornando-os aceitos diante dele por meio do suave aroma
de seus próprios méritos, a saber, os méritos de Cristo.
3. Os objetos da intercessão:
Os luteranos fazem distinção entre sua intercessão como geral e
especial. Para eles, Cristo intercede em geral por todos os homens,
especialmente pelos eleitos. A base desta interpretação é Lc 23.34, onde
Cristo intercede pelos seus algozes. Por causa desta intercessão,
dizem, os ímpios não são totalmente destruídos, lhes são
dados a pregação do evangelho e a oportunidade de voltarem para Deus. Em
segundo lugar existe a intercessão especial, feita unicamente pelos
eleitos ( João 17.9,20). Nossa dificuldade em aceitar a teologia
luterana da intercessão geral , vem da natureza do ofício de Cristo como
Sacerdote, por sua própria e expressa declaração em João 17.9,20, e
pelo fato de sua intercessão ser certamente eficaz. A ele o Pai sempre
ouve. Se ele intercede por todos, logo todos se salvariam. Como ninguém
em sã hermenêutica afirmaria a salvação de todos, ficamos com o teor da
Confissão de Fé dos Batistas de 1689: “Cristo certamente aplica e
comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos Ele a obteve:
fazendo intercessão por eles;38 unindo-os a si mesmo por seu
Espírito; revelando-lhes o mistério da salvação, na Palavra e pela
Palavra; persuadindo-os a crer e obedecer;39 governando os corações deles por seu Espírito e sua Palavra;40 e vencendo todos os inimigos deles, por seu poder e sabedoria infindos,41
de modo tal e por caminhos que são os mais harmoniosos com a sua
maravilhosa e insondável providência; e tudo por sua graça livre e
soberana, sem a precondição de neles ter sido vista de antemão uma busca
pela redenção.42
38 João 6:37; João 10:15-16; João 17:9; Romanos 5:10.
39 João 17:6; Efésios 1:9; I João 5:20.
40 Romanos 8:9,14.
41 Salmo 110:1; I Coríntios 15:25-26.
42 João 3:8; Efésios 1:8.” (20)
6.3. O Ofício Régio de Cristo
– Cristo é apresentado em todo o AT como o Rei que viria. No NT ele foi
tratado como o Rei que havia chegado, e em sua pregação procurou
apresentar a natureza do reino que ele veio estabelecer. Vejamos:
1. A natureza do reino de Cristo: Tratando da natureza do reinado de Cristo, o Teólogo Louis Berkhof escreve: “É
um reinado espiritual, porque se relaciona com uma esfera espiritual. É
o governo mediatário estabelecido nos corações e nas vidas dos crentes.
Ademais, é espiritual porque leva direta e imediatamente a um fim
espiritual, a salvação do seu povo. E, finalmente, é espiritual porque
administrado, não pela força ou por meios externos, mas pela Palavra e
pelo Espírito, que é o Espírito de verdade, de sabedoria, de justiça e
santidade, de graça e misericórdia..” (21)
2. Características do Reino:
A). É um reino espiritual –
Isso quer dizer que não é deste mundo. Não se compará-lo com outros
reinos que existiram ou que existem hoje. Sua origem é distinta, bem
como seu fim é distinto. Todo reino humano foi organizado para promover o
bem-estar temporal da sociedade. O reino de Cristo foi organizado para
promoção de objetivos religiosos. Como escreveu Berkhof, citado acima “a salvação do seu povo”, este é o fim imediato do reino espiritual de Cristo.
B). É um reino católico ou universal
– Ele não se limita a uma organização, nem as inclui todas, porque
todas estão debaixo da autoridade de Cristo. Todo cristão deve
reconhecer-se mutuamente como pertencendo a uma grande comunidade e como
súditos do mesmo soberano.
C). Essa forma de reino é temporal – Ela passará para outra forma quando Cristo vier na sua parousia,
ou seja, na sua segunda vinda, como organização externa, ele está
disposto a responder a certos fins e cessará quando estes fins forem
cumpridos.
D). É um reino no qual Cristo é o soberano absoluto –
Isso significa que o Estado não tem qualquer autoridade para legislar
sobre a fé da Igreja; nem qualquer oficial civil pode ser cabeça da
Igreja; que o poder da Igreja, não reside no povo ou no clero. Seu poder
é puramente ministerial, deriva de Cristo e é exercido por outros em
nome de Cristo e com bases na Palavra de Cristo. No reino de Cristo a
adesão é a Cristo. O povo é obrigado a obedecer outros somente até onde a
obediência a esses for obediência a Cristo.
3. O Reinado de Cristo sobre o Universo – Entendemos como
reinado de Cristo sobre o universo, o seu domínio, sua administração
providencial e judicial de todas as coisas, no interesse da Igreja.
Cristo como rei do universo guia de tal maneira os destinos dos
indivíduos, dos grupos sociais e das nações, promovendo o crescimento, a
purificação gradual e a perfeição final dos seus redimidos. Ele também
protege seus eleitos dos perigos do mundo e vindica sua justiça com a
sujeição e destruição de todos os seu inimigos.
4. Duração deste reinado
– Cristo foi formalmente investido neste reinado sobre o universo
quando foi exaltado à destra de Deus. Foi a prometida recompensa pelos
seus labores ( Sl 2.8,9; Mt 28.18; Ef 1.20-22: Fp 2.9-11).Este reinado
de Cristo durará até completar a vitória sobre os inimigos e a morte for
abolida ( 1 Co 15.24-28). Na consumação de todas as coisas ele
devolverá a Deus o encargo para o qual foi comissionado, para que Deus
seja tudo em todos. O propósito terá sido cumprido; a humanidade estará
redimida; e, com isso, a realeza original do homem terá sido
estabelecida.
VII. OS ESTADOS DE HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO
7.1. A doutrina dos estados de Cristo na história
– Tem início no século XVII, embora já se encontrassem indícios dela
nos escritos dos reformadores, e mesmo em alguns dos Pais da Igreja. Foi
desenvolvida pelos luteranos, mas logo foi adotada pelos reformados
(calvinistas).
A). Os luteranos divergem dos reformados, quando ao real sujeito dos estados. Para eles, o sujeito é a natureza humana de Cristo.
B). Os reformados afirmam que o sujeito dos estados é a pessoa do mediador.
C). Os teólogos liberais, sobre a influência de Shleiermacher, fizeram desaparecer gradativamente a idéia dos estados do Mediador, esta idéia foi banida de sua teologia, em muitas obras de dogmática moderna, não se encontra um capítulo sobre os estados de Cristo.
7.2. O Estado de Humilhação de Cristo: De acordo com Filipenses 2.7,8 há dois elementos na humilhação de Cristo. São:
Ø A kénosis (esvaziamento, exinanitio)
– Consiste na renúncia do Salvador de sua majestade divina, a majestade
do supremo governador do universo ao assumir a natureza humana na forma
de um servo.
Ø A tapeinosis (humiliatio)
– Sua sujeição às exigências da maldição da lei, e em toda a sua vida
ter-se feito obediente em ações e em sofrimento, até o próprio limite de
uma morte ignominiosa.
A
teologia luterana e a teologia reformada se divergem quanto ao número
dos estágios da humilhação. A primeira enumera oito. A segunda cinco.
Trabalharemos com os cinco estágios da humilhação, de acordo com a
teologia reformada. Sendo eles:
1. Encarnação;
2. Sofrimento;
3. Morte;
4. Sepultamento;
5. Descida ao hades.
7.2.1. A encarnação:
O sujeito da encarnação não foi o trino Deus, mas o Verbo, a segunda
pessoa da trindade. “O Verbo se fez carne”. Todavia devemos lembrar que
cada pessoa da trindade agiu na encarnação. A encarnação foi necessária
devido a entrada do pecado no mundo. Quando pensamos na encarnação do
Verbo, não devemos pensar que o Verbo deixou de ser o que era antes. Ele
permaneceu sendo o mesmo, antes e depois da encarnação. Ele não se
transformou em carne, alterando assim a sua natureza essencial, mas
simplesmente contraiu um caráter particular, uma forma adicional, sem
alterar sua natureza original. Com a encarnação Cristo se fez um membro
da raça humana. Mas de onde veio a substância da sua natureza humana? Os
anabatistas afirmavam que Cristo trouxe sua natureza humana do céu, e
Maria foi apenas o canal pelo qual a natureza humana passou. Neste caso a
natureza humana de Cristo foi uma nova criação,
semelhante á nossa, mas não uma organicamente ligada a nossa. Todavia
temos aí uma grande erro. Se a natureza humana de Cristo não derivou do
mesmo tronco que a nossa, mas apenas se assemelha a ela, não existe
relação entre nós e Ele, não havendo assim possibilidade de sua mediação
eficaz para o nosso bem. Afirmamos sim, que Cristo assumiu a sua
natureza humana da substância da Sua mãe. Isso porque a encarnação foi
efetuada por uma concepção sobrenatural e um nascimento virginal,
operado pelo Espírito Santo (Mt 1.18-20; Lc 1.34,35; Hb 10.5). Esta
operação do Espírito Santo concernente à concepção de Cristo foi dupla:
Ø Ele
foi a causa eficiente do que foi concebido no ventre de Maria,
excluindo assim, a atividade do homem como fator eficiente. Com isso
Cristo, uma Pessoa Divina, ficou isento da culpa do pecado original;
Ø Ele
santificou a natureza humana de Cristo logo no início, e assim a
manteve livre da corrupção do pecado. Não sabemos como isso ocorreu, mas
sabemos que a influência santificadora do Espírito Santo não se limitou
à concepção de Cristo, mas teve continuidade por toda a sua vida (Jo
3.34; Hb 9.14).
Agora perguntamos, a encarnação constitui humilhação ? Dizemos
que sim. O fato do Logos assumir a “carne”, isto é, a natureza humana,
que desde à queda está enfraquecida, sujeita ao sofrimento e morte,
constitui sim uma humilhação, ainda que sua natureza humana estivesse
isenta do pecado.
7.2.2. Os sofrimentos do Salvador: Várias pontos podem e devem ser tomados com relação ao sofrimento de Cristo.
1. Ele sofreu durante toda a sua vida
– Sua vida foi uma vida de sofrimento. Foi uma vida de servo. A vida de
um santo num mundo amaldiçoado pelo pecado. Ele sofreu com as
investidas de Satanás, com o ódio e a incredulidade do seu
povo, com a perseguição de seus inimigos. E seu sofrimento chegou ao
clímax na sua paixão e morte. Foi quando pesou sobre ele toda a ira de
Deus contra o pecado.
2. Ele sofreu no corpo e na alma - A
dor no corpo acompanhada de angústia de alma e da consciência
mediatária do pecado da humanidade que pesava sobre ele, é claramente
demonstrada nas Escrituras. Ele agonizou no Jardim, onde a sua alma
esteve profundamente triste até à morte, e ao enfrentar seus algozes,
seu corpo foi esbofeteado, açoitado e crucificado.
3. Seus sofrimento foram únicos
– Devido seu caráter, sua perfeição ética, seu senso de justiça,
santidade e verdade. Ninguém poderia sentir como Jesus sentia a dureza
da dor, da tristeza e do mal moral.
4. Seus sofrimentos nas tentações
– Estas tentações se acham na vereda do sofrimento, ele iniciou seu
ministério com um período de tentação, que se repetiam a intervalos, até
culminar do Getsêmani. Isso foi necessário para Cristo poder ser o Sumo
Sacerdote compassivo nas provações e tentações dos homens. Por mais
difícil que seja devemos admitir que as tentações de Cristo, o segundo
Adão foi real.
7.2.3. A morte do salvador:
Os sofrimentos do Salvador culminaram em sua morte. De que tipo de
morte estamos falando, quando afirmamos que Cristo morreu ? Há dois
tipos de morte que precisamos considerar aqui.
a). Morte física:
Quando falamos da morte de Cristo, em primeiro lugar estamos falando da
sua morte física, isto é, a separação da alma do corpo. Mas por toda a
Bíblia temos uma conceituação sintética da morte, e a morte física é
apenas uma das suas manifestações. No caso de Cristo, que não possuía o
pecado pessoal, sua morte é vista como punição do pecado, como escreve
Louis Berkhof, “punição judicialmente imposta e infligida... é
segundo este ponto de vista judicial que se deve considerar a morte de
Cristo. Deus impôs judicialmente a sentença de morte ao Mediador, desde
que Este se incumbiu voluntariamente de cumprir a pena do pecado da raça
humana.”(22). Na sua morte na cruz Cristo suportou, no corpo e na
alma, a ira de Deus contra o pecado de toda a raça humana. Mas isso não
foi tudo.
b). Morte eterna: Cristo
também esteve sujeito a morte eterna. Se bem que não a sofreu
extensivamente, mas intensivamente quando agonizou no Getsêmani e quando
bradou na cruz , “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Num
curto período de tempo ele sofreu a ira infinita contra o pecado até o
fim. A morte eterna se revelou na consciência de Cristo como um
sentimento de desamparo de Deus. “Isto implica que a natureza humana perdeu por um momento o consciente e fortalecedor consolo que
podia auferir da sua união com o Logos divino, bem como a percepção do
amor divino, e esteve dolorosamente cônscia da plenitude da ira divina
que pesava sobre ela.” (23)
7.2.4. O sepultamento do Salvador: O sepultamento também faz parte da humilhação. Vejamos alguns destaques:
a). Voltar ao pó, do qual fora tomado, é descrito na bíblia como parte da punição do pecado (Gn 3.19);
b).
Diversos textos bíblicos implicam que a permanência do Salvador na
sepultura foi uma humilhação (Sl 16.10; At 2.37,31; 13.34,35). Foi uma
descida ao hades, lugar de corrupção, se bem que ele foi guardado da
corrupção;
c). Ser sepultado é ir para baixo, e, portanto humilhação. O sepultamento dos cadáveres simboliza a humilhação do pecador.
d).
O sepultamento de Jesus, serviu para provar que ele estava morto e
também para remover os terrores do sepulcro para os remidos e
santificá-los para eles.
7.2.5. A descida ao Hades: Precisamos analisar alguns documentos históricos sobre o assunto.
a). Credo de Aquiléia:
O Credo reza: “Desceu ao inferno (hades)”. Esta afirmação foi usada
pela primeira vez na forma do Credo de Aquiléia (cerca de 390 d.C.).
b). Credo Apostólico:
Depois de mencionar os sofrimentos, a morte e o sepultamento do Senhor,
o Credo prossegue com esta afirmação “Desceu ao inferno (hades)”.
c). Outras formas de Credo:
Algumas não mencionam o sepultamento e usam a descida ao hades, outros,
o romano e a forma oriental do Credo Apostólico, mencionam o
sepultamento e omitem a descida ao hades.
d). Calvino:
Para o reformador aqueles que acrescentaram a “descida ao hades”, após a
expressão “foi sepultado”, tão somente usaram para denotar uma coisa
adicional.
e). Análise da base bíblica para a expressão: Consideraremos quatro passagens bíblicas. Sendo:
1. Efésios 4.9: “Ora, que quer dizer subiu, senão que também desceu às partes mais baixas da terra?.” Os que procuram a apoio nesta passagem tomam a expressão “partes mais baixas da terra” como
equivalente de “hades”. Entre os gregos alguns traduziram “inferno” por
“hades”, e outros por “partes inferiores”, ou “partes mais baixas da
terra”. Esta interpretação é duvidosa. O argumento de Paulo é que a
subida de Cristo pressupõe uma descida. Sendo a ascensão o oposto da
encarnação, a maioria dos comentadores entende que a expressão se refere
“à vinda de Cristo à Terra na Encarnação” (24).
2. 1 Pedro 3.18,19: “Porque
também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos,
para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado
no espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão.” Alguns
teólogos supõem que esta passagem se refere a descida de Cristo ao
Hades e visa declarar o propósito desta descida. O “espírito”, nesta
passagem é uma referência a alma de Cristo. E pregação ocorreu entre a
morte a ressurreição. “A expressão “no espírito”, pode se referir ao Espírito Santo ou ao espírito de Cristo” (25). Por isso a interpretação dos protestantes sobre esta passagem é que, Cristo
pregou por meio de Noé aos desobedientes que viveram antes do dilúvio,
uma vez que estes morreram com o dilúvio, é correto Pedro se referir-se a
eles como “espíritos em prisão”.
3. 1 Pd 4.4-6: “E
acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de
dissolução, blasfemando de vós; os quais hão de dar conta ao que está
preparado para julgar os vivos e os mortos. Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.” Os
mortos a qual o evangelho foi pregado, evidentemente não estavam mortos
ainda, quando ouviram a pregação, visto que o propósito desta pregação
era, em parte, que “fossem julgados segundo os homens na carne” . Isto só poderia acontecer durante a vida deles na terra. “Com toda a probabilidade, o escritor se refere aos mesmos espíritos dos quais fala no capítulo anterior” .(26)
4. Salmos 16.8-10: “Tenho
posto o Senhor continuamente diante de mim; porquanto ele está à minha
mão direita, não serei abalado. Porquanto está alegre o meu coração e se
regozija a minha alma; também a minha carne habitará em segurança. Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” Especialmente o versículo 10. Desta passagem alguns eruditos afirmam que a alma
de Cristo esteve no inferno (hades, seol), antes da ressurreição, caso
contrário, não se diz que ela não foi deixada lá. Todavia, devemos
lembrar que a palavra “nephesh” no hebraico, traduzida por alma, é
muitas vezes empregada pelo pronome pessoal, e “sheol”, pelo estado da
morte. Se assim for a interpretação correta seria a de que Jesus não foi
deixado sob o poder da morte. E o evento deste livramento é a
ressurreição e tanto Pedro quanto Paulo, citou o texto para provar a
ressurreição de Jesus (At 2.30,31; 13.34,35).
f). Diferentes interpretações da expressão do Credo:
1). A Igreja Católica Romana: Entende no sentido de que, Cristo, após a sua morte, foi para o Limbus Patrum
(Limbo dos Pais), onde os santos do AT estavam aguardando a revelação e
aplicação da sua obra redentora, pregou-lhes o evangelho e os levou
para o céu.
2).Os Luteranos:
Cristo foi ao interior do inferno para revelar e consumar a sua obra
sobre Satanás e sobre os poderes das trevas, e para pronunciar a
sentença de condenação sobre eles.
3). A Igreja Anglicana: Sustenta, que enquanto o corpo de Cristo esteve morto, Cristo foi ao Hades, mais precisamente no paraíso, a habitação das almas dos justos, e lhes fez uma exposição mais completa da verdade.
4). Calvino:
Interpreta a frase metaforicamente, entendendo que se refere aos
sofrimentos penais de Cristo na cruz, onde ele realmente sofreu as
angústias do inferno.
5). Uma interpretação mais coesa seria: Que Cristo não desceu literalmente ao inferno. Pelas seguintes razões:
a). Ele não pode ter descido ao inferno quanto ao corpo, porque este estava sepultado;
b). Se ele desceu ao inferno só pode ter sido quanto à sua alma, neste caso somente metade da natureza humana teve participação neste estágio de humilhação;
c). Quanto a marcha triunfal proposta pelos luteranos, seria impossível, enquanto Cristo não ressurgissem dos mortos;
d). Finalmente,
na hora da sua morte Cristo entregou seu espírito ao Pai. Isto parece
indicar que ele esteve passivo e não ativo, desde a hora de sua morte
até a hora de sua ressurreição.
e). Por isso, é melhor combinar dois pensamentos, neste interpretação:
Ø Que Cristo sofreu as angústias do inferno, antes de sua morte, no Getsêmani e na cruz e,
Ø Que ele adentrou a mais profunda humilhação do estado de morte.
7.3. O Estado de Exaltação de Cristo:
7.3.1. Demonstrado biblicamente: Existe abundantes
provas bíblicas da exaltação de Cristo. Os evangelhos nos mostra
claramente que a humilhação de Cristo é seguida de sua exaltação. A
passagem clássica do estado de exaltação de Cristo é Filipenses 2.9-11,
onde lemos: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e
lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai.” Outras passagens podem ser lidas ( Mc
16.19; Lc 24.26; Jo 7.39; At 2.33; Rm 8.17, 34; Ef 1.20;; 4.10; 1 Tm
3.16; Hb 1.3; 2.9; 10.12).
7.3.2. Demonstrado racionalmente: O
estado de exaltação deve ser considerado como resultado judicial do
estado de humilhação. Cristo satisfez as exigências da lei, cumprindo a
pena do pecado e merecendo a vida eterna. Portanto, tinha de ser
recompensado. Visto que Cristo foi humilhado publicamente, a justiça
exigia que a exaltação de Cristo, também fosse publicamente.
7.3.3. Os estágios do estado de exaltação:
A ressurreição, ascensão, Sua sessão à destra de Deus e seu regresso
físico , são os quatro estágios do estado de exaltação de Cristo. Vamos
por parte:
7.3.3.1. A Ressurreição:
A ressurreição de Cristo é a verdade fundamental do evangelho ( 1 Co
15.14). E ainda pode-se asseverar com segurança que a ressurreição de
Cristo é o fato mais importante e mais comprovado da história do mundo.
Vejamos algumas provas a este respeito:
A). Provas da Ressurreição de Cristo
1. Foi profetizada no VT.
2. Foi predita pelo próprio Cristo.
3. Foi um fato que admitia fácil verificação.
4. Ofereceu abundante evidência de sua verdadeira ocorência.
5. As testemunhas do fato de que Cristo foi visto vivo após a sua morte eram numerosas.
6. O preço pago por estas testemunhas em decorrência deste fato foi muito grande.
7. Deus confirmou seu testemunho juntamente com eles, operando sinais, prodígios e maravilhas.
8. O
fato da ressurreição de Cristo ser comemorado como uma observância
religiosa no primeiro dia da semana, desde sua ocorrência até hoje.
9. Os
efeitos produzidos por seu evangelho, e a mudança que ele tem efetuado
no mundo. A igreja cristã é o seu monumento. Todos os crentes são suas
testemunhas.
B). Importância da Ressurreição de Cristo:
1. O
êxito de sua obra repousa sobre o fato de que ele ressurgiu dos mortos.
Se ele ressurgiu, então o evangelho é verdadeiro. Se não “é vã a nossa
pregação, e vã, a vossa fé” (1 Co 15.14).
2. De sua ressureição dependia a missão do Espírito Santo, sem a qual a obra de Cristo não se concretizaria.
3. Visto que Cristo morreu como cabeça e representante de seu povo, sua ressurreição assegura e ilustra a nossa ressurreição.
4. Se Cristo não ressuscitou todo o esquema de redenção seria um fracasso.
C). O corpo ressurrecto de Cristo: Como é a natureza deste corpo ressurrecto de Cristo ?
1. O
corpo ressurrecto de Cristo, guardou a identidade daquele que foi morto
na cruz, no obstante ele sofreu algumas mudanças. Os fatos registrado
na história a este respeito são:
a). Que ele não foi reconhecido como sendo o mesmo. Maria Madalena o confundiu com um jardineiro (Jo 20.15);
b). Os discípulos do caminho de Emaús não o reconheceram até o momento do partir do pão ( Lc 24.31);
c). Ele
apareceu subitamente no meio dos discípulos em uma sala fechada, no
obstante ele era o mesmo corpo material com “carne e ossos” (Lc 24.36;
Jo 20.19).
2. Este
foi o estado de seu corpo durante os quarenta dias que esteve na terra
após a ressurreição. Depois ele passou para seu estado de glorificação. “O
corpo ressurrecto de Cristo... tal como existe agora no céu, ainda que
retenha a identidade com seu corpo enquanto estava na terra, é glorioso,
incorruptível, imortal e espiritual. Continua ocupando determinada
porção de espaço e retém todas as propriedades essenciais como corpo” (27)
C). O agente eficiente da Ressurreição de Cristo: As Escrituras dizem que a ressurreição de Cristo foi obra do Pai, em Romanos 6.4, lemos: “ressuscitou dos mortos pela glória do Pai”.
Em contrapartida há referências que diz que a ressurreição de Cristo
foi obra do próprio Cristo. Ele referindo-se a seu corpo diz: “Destruí este templo e em três dias o reconstruirei” (Jo 2.19). Mas já em Romanos 8.11 a ressurreição de Cristo é atribuída ao Espírito Santo: “E,
se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós,
aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também
os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.” Não
há confusão nestas três classes de referências quanto ao agente da
ressurreição de Cristo. Mas sim, que a ressurreição de Cristo é um ato
das várias pessoas da Trindade. Sendo as três pessoas da Deidade iguais em substância, o ato de uma é o ato das outras. Portanto o que as Escrituras ensinam é que Cristo foi levantado da sepultura pelo poder divino.
7.3.3.2. A Ascensão de Cristo:
O relato mais completo da ascensão de Cristo está registrado em Atos
1.9-11. Mas acerca deste assunto ainda lemos em Mc 16.19; Lc 24.50,51.
Destes relatos, fica evidente o seguinte ensino:
A). Ensino bíblico sobre a ascensão:
1. Que a ascensão de Cristo foi de toda a sua pessoa. Foi o Teantropo, que subiu;
2. Que a ascensão foi visível;
3. Foi uma transferência local de uma pessoa. Da terra para o céu;
B). Necessidade da Ascensão de Cristo:
1. Porque
ele veio do céu. O céu era o seu lar. E devido o mal e o pecado
existente na terra, este mundo não é adequado para a morado do Redentor
em seu estado de exaltação.
2. Foi necessário que Cristo como Sumo Sacerdote, depois de haver oferecido em sacrifício compareça diante de Deus em nosso favor.
3. Era necessária para que viesse o consolados (Jo 16.7).
4. Era necessária para a consolidação de sua obra (Jo 14.2,3).
7.3.3.3. Assentado à destra de Deus: Ao assentar à destra de Deus, Cristo associou com ele em glória e domínio. Vejamos:
A). A base da exaltação de Cristo:
É dupla. Primeiramente, a posse dos atributos divinos pelos quais ele
tinha direito à honra e estava qualificado a exercer o domínio universal
absoluto. Segundo, sua obra medianeira, ambas as realidades se encontram em Hebreus 1.3.
B). O sujeito dessa exaltação: É o Logos ou o Homem? Nenhum dos dois. O sujeito desta exaltação é o Teantropo. A pessoa exaltada, é a pessoa teantrópica.
7.3.3.4. A vinda de Cristo para julgar o mundo: Este
é o último passo de sua exaltação. Aquele que foi julgado e morto,
ressurgiu, assentou-se a destra de Deus, Pai, há de vir outra vez para
com poder e grande glória, proferir a sentença final sobre a humanidade.
A). Ensino das Escrituras:
1. Que Cristo há de vir segunda vez;
2. Que esta vinda é pessoal, visível e gloriosa;
3. Que o objetivo desta vinda é para julgar o mundo;
4. Que a as pessoas a serem julgadas serão os vivos e os mortos;
5. Que a regra do juízo será a lei de Deus, escrita no coração ou revelada na Palavra;
6. Que a base do juízo será as ações realizadas no corpo;
7. Que a sentença será final, determinando o destino dos interessados para a eternidade.
Detalhes desta área pertence a Escatologia, aonde teremos considerações mais detalhadas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivN99nxMVZzeUrMJ3P3UO8HYpZgPRRx0NVBE79HZQunZf4SuofvACFtmmblJl1Pc9SqXB0lxAhnEF6sZ4fuMdvvNC6Pe3_vFdi1hC6VQplj8622B6WuRMwhZPIwfEM8EncFFdV-7MQji4C/s400/Cristologia.bmp)
NOTAS
(1). Veja ainda, DUPUIS, Jacques – Introdução à Cristologia – pg. 123-132 – Ed. Loyola.
(2). Confissão de Fé de Westminster (1647) - Nota Histórica de J.M.K., extraída da edição da EPPL - Rio de Janeiro, 1943)
(3). Confissão de Fé Batista de 1689 - Tradução: Júlio Filho
Revisão: Walter Andrade Campelo
Revisão: Walter Andrade Campelo
(4). Confissão de Fé Batista de 1689: Capítulo 8, sob o título Cristo, O Mediador , parágrafo
(5). Teologia Sistemática – pg. 766 – Ed. Hagnos.
(6). Op. Cit. Capítulo 8, parágrafo 2.
(7). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Pg. 767 – Ed. Hagnos.
(8). Op. Cit. Capítulo 8, parágrafo 2.
(9). Veja também HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Pg. 782 – 784
(10). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Pg. 773 – Ed. Hagnos
(11). Confissão de Fé Batista de 1689: Capítulo 8, sob o título Cristo, O Mediador , parágrafo
(12). Confissão de Fé Batista de 1689: Capítulo 8, sob o título Cristo, O Mediador.
(13). Confissão de Fé Batista de 1689 - Tradução: Júlio Filho
Revisão: Walter Andrade Campelo
Revisão: Walter Andrade Campelo
(14). Teologia Sistemática – Pg. 826 – Ed. Hagnos
(15). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Pg. 834 – Ed. Hagnos
(16). Teologia Sistemática – Pg. 840 – Ed. Hagnos
(17). BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 3a Ed. 1994 – Pg. 393
(18). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Pg. 891 – Ed. Hagnos
(19). ROCHA, Pedro - Uma abordagem da doutrina da eleição sob a perspectiva bíblica, histórica e teológica – Monografia
(20). Op. Cit. Do Capítulo 8. Parágrafo 8
(21). Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 3a Ed. 1994 – Pg. 407
(22). Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 3a Ed. 1994 – Pg.
407
(23). BERKHOF, Louis - Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 3a Ed. 1994 – Pg. 340
(24).REINECKER, Fritz/ ROGERS, Cleon – Chave Linguística do Novo Testamento Grego – Ed. Vida Nova – 1a Ed. 1985 – Pg. 393
(25).REINECKER, Fritz/ ROGERS, Cleon – Chave Linguística do Novo Testamento Grego – Ed. Vida Nova – 1a Ed. 1985 – Pg. 563
(26). BERKHOF, Louis - Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 3a Ed. 1994 – Pg. 342
(27). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Pg. 953 – Ed. Hagnos.
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[02]. BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 3a Ed. 1994
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[05]. LANGSTON, A. B. – Esboço de Teologia Sistemática – JUERP – 11a Ed. 1994
[06]. GUNDRY, Stanley – Teologia Contemporânea – Ed.Mundo Cristão – 2a Ed. 1987
[07]. BARTH, Karl – Introdução à Teologia Evangélica – Ed. Sinodal –8a Ed. Revisada- 2003
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[10].BARTH, Karl – Dádiva e Louvor –Artigos Selecionados – Ed. Sinodal -2a Ed. 1996
[11]. MCGRATH, Alister E. – Teologia – Sistemática, Histórica e Filosófica – Shedd Publicações – 1a Ed. 2005
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[13].RIENECKER, Fritz/ROGERS, Cleon – Chave linguística do Novo Testamento Grego – Ed.Vida Nova – Ed. 2003
[14].SHOLTZ, Vilson – Novo Testamento Interlinear – Grego/Português – SBB – Ed. 2004
[15]. CHAMPLIN, R. N. – Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia – vol. 1,3 – Ed.Hagnos – 5a Edição – 2001
[16].FEIBERG, John/GEISLER, Norman/REICHENBACH, Bruce/PINNOCK, Clark –Predestinação e Livre-Arbítrio – quatro perspectivas sobre a soberania de Deus e a liberdade humana – Ed. Mundo Cristão – 1a Ed. 1986
[17].JOLIVET, R. – Curso de Filosofia – Ed. Agir – 16a Ed. 1986
[18]. MUIRHEAD, H. H. – O Cristianismo Através dos Séculos – Casa Publicadora Batista – 3a Ed. – 1951
[19]. Nova Bíblia de Estudo de Genebra – Cep. Ed. 2003
[20]. A Bíblia de Jerusalém – Nova Edição – Ed. Paulinas – 1985
[21]. ALMEIDA, João Ferreira de – A Bíblia Sagrada – Ed. Revista e Corrigida Sociedade Bíblica do Brasil – 1998
[22]. MCNAIR, S. E. – A Bíblia Explicada – CPAD – 1985
[23]. CHAMPLIM, Russell Norman - “O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo”- Vol III – Sociedade Religiosa a Voz Bíblica Brasileira
[24]. PEARLMAN, Myer – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Ed. Vida – 1989
[25]. TRIBLE, H. W. – Nossas Doutrinas – JUERP – 1969
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