Como
formar cristãmente os pais? Esta pergunta, sempre pertinente, tem hoje
uma ressonância peculiar, sobretudo em razão duma nova configuração da
família: família nuclear, família com pouco tempo para o convívio
familiar, família influenciada pelos meios de comunicação social,
famílias com indefinição de papeis e de responsabilidades, família
privatizada, família atípica, em número cada vez maior, etc.
Esta nova situação da família, designadamente da família na Europa, exige “à Igreja que anuncie com renovado vigor aquilo que diz o Evangelho sobre o matrimónio e a família,
para individuar o seu significado e valor no desígnio salvífico de
Deus. (…). Impõe-se redescobrir a verdade da família, enquanto íntima
comunhão de vida e de amor, aberta à geração de novas pessoas; e também a
sua dignidade de « igreja doméstica » e a sua participação na missão
da Igreja e na vida da sociedade.
Segundo
a Exortação apostólica Pós-Sinodal, “A Igreja na Europa”, “é
necessário reconhecer que muitas famílias, pela sua existência vivida
quotidianamente no amor, são testemunhas visíveis da presença de Jesus
que as acompanha e sustenta com o dom do seu Espírito. Para apoiá-las no
seu caminho, dever-se-á aprofundar a teologia e a espiritualidade do matrimónio e da família; proclamar,
com firmeza, integralmente e mediante exemplos eficazes, a verdade e a
beleza da família baseada no matrimónio, visto como união estável e
fecunda dum homem e duma mulher; promover, em cada comunidade eclesial, uma pastoral familiar adequada e orgânica. Ao mesmo tempo é preciso prestar, com materna solicitude por parte da Igreja, uma ajuda
àqueles que se encontram em situações difíceis, como, por exemplo,
mães solteiras, pessoas separadas, divorciadas, filhos abandonados. Em
todas as circunstâncias é necessário estimular, guiar e apoiar o devido protagonismo das famílias,
singularmente ou associadas, na Igreja e na sociedade, e diligenciar
para que se promovam políticas familiares autênticas e adequadas por
parte dos diversos Estados e da própria União Europeia” (EE, 90-91)
Esta
nova situação da família é um claro desafio à evangelização e ao
trabalho sério e responsável com os pais das crianças e adolescentes que
participam na catequese das nossas comunidades paroquiais.
Como
vimos já, o trabalho com pais exige uma análise cuidada da realidade
familiar local e sua participação na catequese, a proposta de objectivos
e acções concretas, uma planificação (partilhada), uma temática
significativa, e uma didáctica atraente e esmerada.
Para
conseguir tais objectivos, e tendo em conta apenas o que nos cabe de
ajuda possível, deixamos aqui duas pistas: uma relativamente à temática e
outra relativamente à didáctica ou estratégia a desenvolver
UMA PROPOSTA TEMÁTICA
Em
1989, sob a orientação do então director do Secretariado da Catequese
de Coimbra e hoje Bispo de Santarém e presidente da Comissão Episcopal
de Educação Cristã, a Gráfica de Coimbra publicou um livro intitulado “Formação Cristã de Pais (Temas para reuniões de pais) — Da catequese dos filhos à formação dos Pais”.
Este
guião, como se lhe chama na apresentação, segue “de perto o itinerário
de catequese dos filhos até à Profissão de Fé ou Comunhão Solene” e
oferece “dezoito temas para reuniões de pais (prevendo três reuniões por
ano ao longo de seis anos) que nos ajudam a reflectir as principais
realidades da fé que são comunicadas nesse período da catequese”.
O
“guião” não oferece todavia a planificação ou operacionalização desses
temas. Tendo em conta a nossa realidade diocesana, e reconhecendo a
actualidade dos temas, ainda que sugerindo uma actualização considerável
no tratamento e desenvolvimento dos mesmos, sobretudo em razão dos
anos e acontecimentos ocorridos, das recentes orientações do magistério
e da análise circunstancial de cada região, ousamos apresentar aqui
uma estruturação possível destes temas para a infância e sugerir (o que
não acontece no guião referido) estrutura idêntica para a catequese da
adolescência:
REUNIÕES DE PAIS — CATEQUESE DA INFÃNCIA
1º Ano
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2º Ano
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3º Ano
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4º Ano
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5º Ano
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6º Ano
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Tema 1
(1º Periodo)
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A Catequese hoje:
O que é e como se organiza
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A educação moral da consciência
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Lugar da Eucaristia na vida cristã
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(Iniciação à ) Leitura do Evangelho em família
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Desenvolvimento psicológico e educação da fé
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Em que acredita o cristão
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Tema 2
(2º Periodo)
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Catequese dos filhos e formação cristã dos pais
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Iniciação ao sentido do pecado e reconciliação
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O Domingo,
Celebração indispensável para o cristão
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Lugar da Palavra de Deus na vida cristã
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Diálogo em família
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A Dinâmica da fé cristã
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Tema 3
(3º Periodo)
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Iniciação à oração e oração em família
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Primeira Comunhão, iniciação cristã das crianças
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Família, paróquia e escola na educação da fé
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A paróquia, comunidade de fé, esperança e caridade
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Família Cristã, Igreja Doméstica
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A Profissão de Fé
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REUNIÕES DE PAIS — CATEQUESE DA ADOLESCÊNCIA
7º Ano
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8º Ano
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9º Ano
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10º Ano
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Tema 1
(1º Período)
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Traços psicológicos da Adolescência
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O Adolescente, ser em relação
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A tarefa de ajudar a viver com sentido
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Comprometidos com a ousadia de crer
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Tema 2
(2º Período)
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Valores para uma vida com projecto
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Em relação com a pessoa de Jesus
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Viver ou não viver segundo o Evangelho
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Esta é a fé da Igreja
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Tema 3
(3º Período)
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A religiosidade do Adolescente
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A Igreja, lugar de relação vital
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Escolher a esperança
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A fé que celebramos
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Esta
proposta temática tem como suporte os objectivos e competências
assinaladas em cada bloco do guia do Catequista. Na preparação do que
dizer, seria conveniente analisar com cuidado o que se aponta em cada
bloco e adoptar ou reformular os objectivos aí propostos.
ESTRATÉGIA A DESENVOLVER
(Aspectos sobre “Como orientar as reuniões de pais”).
Uma
Reunião de Pais, em catequese, nada tem a ver com uma Assembleia de
Pais escolar. São encontros para sensibilizar, formar e evangelizar. Não
podem ser uma instância de juízo ou censura de comportamentos, nem
para “sermões ou discursos” mais ou menos moralizantes.
Assim,
o orientador duma reunião de pais (padre ou catequista) deve ser um
facilitador do processo comunicativo. O objectivo é transformar “pais
clientes” em “pais colaboradores” e parceiros educativos. A reunião de
pais “precisa de ser participada por todos os presentes sem deixar de
ser orientada”. Há que interpelar, incentivar a participação, motivar,
“manter o rumo da reunião e ajudar a alcançar uma conclusão clara”.
“Importa preocupar-se também do como vai dizer e de quem e como vai
ouvir”.
Há
que cuidar com atenção e esmero das questões relativas ao encontro
propriamente dito. Neste contexto, há que ter em atenção (que é
preciso):
1) A convocatória / convite e a agenda
— Esta convocatória / convite deve ser enviada atempadamente (nem
muito antecipadamente nem em cima da hora); deve ser graficamente bem
apresentada e agradável (não necessariamente de ser sempre em papel —
podemos socorrer-nos de outros materiais baratos e acessíveis — apenas
mais trabalhosos); deve ser mais criativa que formal; deve utilizar uma
linguagem (não simplesmente verbal) simples e acessível; deve suscitar
curiosidade e interesse pelo tema a apresentar; deve indicar de modo
claro e inequívoco o tema, o local onde se realiza e a hora a que se
começa;
2) O acolhimento
— Como na catequese também o acolhimento aos pais é relevante. O
acolhimento ambiencial deve ser cuidado: em sala limpa, bem iluminada,
com cadeiras para todos, aquecido ou arrefecido, disposta
convenientemente de acordo com os meios ou estratégias que se vão
desenvolver; com arranjos florais convenientes, música de fundo, etc; O
acolhimento humano deve ser significativo, acolhendo cada um dos casais
que vão chegando e à medida que vão chegando, identificando-os como
pais de, cumprimentando-os, suscitando à vontade; já em grande grupo,
saudar cordialmente todos e dar as boas vindas.
3) A apresentação do tema
— Na apresentação do tema sugerimos que se utilize o itinerário
catequético, isto é, que se parta sempre d(e algum)a experiência humana
significativa e comum a todos, se faça a leitura desta situação à luz
da Palavra (escrita ou transmitida) e se possibilite a conversão em
ordem a um agir novo e diverso; Seia também utilizarmos, tanto quanto
possível, métodos activos: dinâmicas de grupo e audiovisuais. Para
alguns dos temas propostas poder-se-á convidar pessoas mais habilitadas
e de reconhecida qualidade intelectual (e se possível também
espiritual). O convite a estas pessoas terá de ser devidamente
enquadrado dentro dos objectivos a atingir e competências a
desenvolver. Nesta situação também se pode fazer uma parceria entre o
convidado, o orientador e os pais.
4) Trabalhos de Grupo e/ou reuniões de grupo
— Se a reunião for para um grupo muito grande de pais (o que de todo
se desaconselha) podem reunir-se, em algum dos momentos por grupos,
seja para qualquer trabalho relativo ao tema, seja para diálogo
concreto e orientado com o catequista respectivo. Os trabalhos de grupo
podem funcionar como uma estratégia para “fazer falar”, sobretudo na
abordagem de temas difíceis.
5) Oração e cântico finais.
Se se seguiu o itinerário catequético, este momento será obviamente
dispensável. Noutra situação será recomendável terminar com uma breve
oração e cântico (ensaiado durante o acolhimento, do conhecimento de
todos ou de fácil aprendizagem).
6) Breve convívio.
Às vezes, entre dois dedos de conversa, entre dois goles de chá ou
café, descobrem-se e dizem-se coisas profundamente sérias e
significativas sobre os filhos, o modo de ser pais, etc. Seria oportuno,
no final ou num intervalo, convidar e proporcionar um chã ou café.
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