Pai querido, pela
força do Espírito Santo, nós vos pedimos a Graça de mergulhar no Vosso
Mistério de Amor, revelado em Jesus de Nazaré. Concedei-nos
discernimento e consciência amorosa para celebrar nossa fé e, reunidos
em comunidade e alimentados pelos Sacramentos, buscar novos caminhos
para a humanidade, enquanto aguardamos a Páscoa definitiva. Amém.
Quando orardes não useis de
muitas palavras...Vós, portanto, orai assim:
Pai nosso que estais no Céu... (Mt 6,7.9ss)
A fé da Igreja,
transmitida ao longo dos séculos, é anunciada, vivida e testemunhada
cumprindo o mandato de Jesus: “Vocês vão e façam discípulos meus todos
os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a observar tudo o que lhes ordenei. Eis que Eu estarei
com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.
A celebração do
Mistério de Cristo envolve o ser humano em todas as dimensões e
circunstâncias, e a participação consciente e fervorosa nas
celebrações da comunidade é um meio privilegiado de crescimento na
santidade.
A Igreja – Povo
de Deus que proclama e celebra a sua fé, é comunidade de santificação
e de culto. Com gratidão e alegria, vivemos a fé recebida dos
Apóstolos. É bom lembrar que a Liturgia supõe a fé e que a fé deve ser
aprofundada pela catequese.
O Pai, conforme
promessa, atende à oração da Igreja feita em nome de Jesus, e o
Espírito Santo transforma em vida divina o que é submetido ao Seu
poder. As celebrações litúrgicas exprimem e desenvolvem a comunhão na
Igreja, e são eficazes porque nelas está presente e age, por Seu
Espírito, o próprio Cristo Jesus.
A Liturgia é a
celebração do Mistério de Cristo e, em particular, do Seu Mistério
Pascal, que é o centro da obra da salvação. Cristo, morrendo e
ressuscitando, destruiu a nossa morte e nos introduziu na vida nova.
Este é o grande
Mistério da fé que celebramos com reverência e alegria. Toda vez que
fazemos memória de Jesus pela ação litúrgica, participamos de sua
morte e ressurreição – Páscoa. Esse fato central de nossa fé é
atualizado: acontece para nós e em nós, hoje, aquilo que é celebrado.
Na Liturgia
acontece a nossa salvação, a comunhão de vida com Deus e os irmãos.
Por isso, a Igreja jamais deixou de reunir-se para celebrar o Mistério
Pascal de Cristo.
Jesus está
presente nos Sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza, é
Cristo mesmo que batiza; está presente pela sua Palavra, pois é Ele
mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras; está presente,
sacramentalmente, nas espécies de pão e vinho consagrados.
A conversão,
nossa conformação com Cristo, é o objetivo final do Plano de Salvação
e a razão porque nós nos reunimos para celebrar a Liturgia. É bom
lembrar que a celebração ritual deve exprimir uma realidade interior,
espiritual e coerente com a vida que se vive.
Como celebração
do Mistério de Cristo, a Liturgia ocupa um lugar fundamental e
insubstituível na vida da Igreja. Ação sagrada por excelência, ela
constitui o ideal para o qual tende a ação da Igreja e ao mesmo tempo
é a fonte de onde emana a sua força vital. Mediante a Liturgia, Cristo
continua na Sua Igreja, com ela e por meio dela, a obra da nossa
redenção.
É celebrando
juntos que nos tornamos Igreja e temos a possibilidade de viver a
realidade de ser Igreja. Cada assembléia litúrgica é “Páscoa” e
“Pentecostes”. Não pode ser considerada como uma atividade em
meio a outras. Ela é fonte de vida da Igreja e de cada discípulo.
A Liturgia faz a
Igreja. Porque é nela que o Ressuscitado vem ao encontro da comunidade
de fé e com Seu Espírito nos ilumina e transforma, faz-nos participar
de sua vida de comunhão com o Pai e nos envia de volta ao mundo,
renovados e santificados.
A Liturgia é, ao
mesmo tempo, ação de Deus em favor do Seu Povo, fazendo-o passar da
morte para a vida, e participação do Povo, que serve e glorifica a
Deus. Na tradição cristã, a Liturgia quer significar que o povo de
Deus toma parte na obra redentora de Cristo Jesus, até que se realize
plenamente entre nós o Reino de Deus.
Quem celebra,
portanto, é todo o povo santo de Deus reunido em assembléia; é toda a
comunidade unida ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. O agente
visível é a assembléia reunida, com ministérios e serviços
organizados. No entanto, nesse povo de batizados, trabalha o Espírito
Santo. Deus e a assembléia litúrgica atuam em conjunto, mas, antes de
ser uma obra nossa, a Liturgia é ação da Santíssima Trindade.
O sacerdócio de
Cristo é fundamental, pois, na Liturgia Ele exerce sua ação mediadora
por nós junto ao Pai e forma Seu Corpo, a Igreja. A participação da
assembléia é essencial, e não apenas uma exterioridade.
Participar é “ter
parte” no Mistério que está sendo celebrado. Com espírito orante, a
Comunidade participa por meio de gestos e palavras, que significam e
realizam, conforme a natureza de cada um dos Sacramentos, a obra da
salvação.
A celebração
litúrgica se realiza através de sinais e símbolos que têm suas origens
na cultura humana. Sinais e símbolos que foram adquirindo significado
progressivo nos eventos da Antiga Aliança e que se revelaram
plenamente na Pessoa e na Vida de Jesus Cristo.
O encontro dos
filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo, é uma
experiência de fé e de vida. As ações litúrgicas significam e celebram
esse encontro vital, expressando-o com palavras e ações. As
celebrações se caracterizam pela unidade ritual e significam o que a
Palavra de Deus exprime: a Sua iniciativa gratuita e, ao mesmo tempo,
a resposta de fé do Seu povo.
As palavras
acompanham as ações sacramentais e expressam o seu sentido profundo. O
canto e a música têm função na Liturgia, cuja finalidade principal é a
glorificação de Deus e a santificação da assembléia, levando-a a
mergulhar no Mistério da unidade com Ele.
A Igreja
prescreve que as celebrações sejam realizadas com nobre simplicidade,
que seu sentido seja transparente e inteligível e que o silêncio
sagrado seja respeitado. Que a linguagem verbal, gestual e musical
esteja em consonância com o clima orante que as caracteriza.
“Quem canta reza
duas vezes”, disse Santo Agostinho. Mas, quanto ao canto e à música,
existem critérios que devem ser respeitados: a conformidade dos textos
com a doutrina católica; sua origem preferencial nas fontes
litúrgicas; a beleza, a delicadeza expressiva da oração; a qualidade
da harmonia; a possibilidade de participação da assembléia; a riqueza
da expressão cultural do Povo de Deus e o caráter sagrado e solene da
celebração.
A Liturgia é
fonte da espiritualidade da comunidade. Ao longo do ano, as
celebrações do Mistério Pascal de Cristo constituem momentos de
intensa experiência de Deus que impregnam e transformam a nossa vida.
A santidade do
cristão brota do encontro com o Senhor na Liturgia, expande-se na
oração e se expressa na vida pessoal, familiar, profissional e social.
As ações rituais
nos permitem “reunir” o coração e todo o nosso ser para entrar na
presença d’Aquele que nos espera; permitem-nos “tocar” nas realidades
que acolhemos; “provar” e “dizer”, como São João escreveu em sua
Primeira Carta: “O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que
vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos
apalparam do Verbo da Vida – porque a Vida manifestou-Se – nós a vimos
e dela damos testemunho, (...) para que vocês estejam em comunhão
conosco (...) e a nossa alegria seja completa’’.
A Liturgia
celebra a novidade de Jesus Cristo, o Filho de Deus: vida, paixão,
morte e ressurreição – a Sua Páscoa, palavra hebraica que
significa Passagem. Enviando ao mundo o Seu Filho, Deus-Pai
elevou a história humana à plenitude. Nenhum fato poderá ultrapassar o
significado dessa dádiva divina.
O acontecimento
Jesus Cristo é contemplado ao longo de um ano, em três formas
alternadas: são os chamados anos litúrgicos A, B e C. Cada um
deles baseia as reflexões no texto de um evangelista: Mateus, Marcos
ou Lucas, sempre mesclado com passagens do Evangelho de João.
Ano a ano, o
seguimento do caminho percorrido por Jesus de Nazaré se organiza em
torno de dois acontecimentos fundamentais: o nascimento (Natal) e a
ressurreição (domingo de Páscoa). Desses pólos irradiam dois ciclos
litúrgicos, ambos com tempos de preparação, de realização e de
repercussão. Fora desses dois ‘ciclos’, vivemos, durante o ano, o
chamado “Tempo Comum”.
O ciclo do Natal
é iniciado com as quatro semanas do Advento e prossegue, além do
nascimento, até a Epifania – o popular Dia de Reis.
O ciclo da Páscoa
é preparado pela Quaresma (40 dias) e se prolonga, além da
Ressurreição, até o dia de Pentecostes.
O Tempo Comum
contempla a caminhada de Jesus: Ele passou pelo mundo fazendo o bem...
A memória de
Jesus celebrada na Liturgia transfigura a nossa vida, que vai sendo
iluminada pela luz do Mistério da sua Encarnação, Vida, Paixão, Morte,
Ressurreição e permanência em nós.
A Páscoa do
Senhor constitui a culminância do ano litúrgico. A vigília pascal –
noite que antecede o Domingo de Páscoa – é a mãe de todas as noites,
pois nela celebramos o Mistério Central de Cristo, sua Ressurreição.
A Maria são
dedicadas datas festivas no decorrer do ano litúrgico. Nós veneramos
com carinho a Mãe de Jesus e da Igreja, porque ela está
indissoluvelmente ligada à obra libertadora do seu Filho. E mais, a
Igreja admira e enaltece, na pessoa de Maria, o Fruto mais bonito da
Redenção e a contempla como perfeita imagem daquilo que ela própria, a
Igreja, deseja ser.
Durante o ano
litúrgico, a Igreja também faz memória dos Mártires e de outros Santos
e Santas, que com Cristo, por Cristo e em Cristo viveram, com Ele
sofreram e foram glorificados. Essa memória é celebrada no dia em que,
terminada sua vida nesta terra, entraram em união plena com o Pai. A
Igreja os propõe como exemplos a todos os católicos, com o intuito de
mostrar aos fiéis que o ideal da santidade é atingível.
O centro de luz
do tempo litúrgico é o domingo, o dia da ressurreição de Cristo. O
domingo é o dia da Palavra e da Eucaristia. É o dia por excelência da
assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem e participam da “Ceia
do Senhor”.
A missa dominical
deve ser o coração da vida e a bússola da caminhada pascal das
comunidades cristãs. Nela está condensada, em palavras, gestos e
ritos, toda a nossa fé. A partir dessa compreensão podemos afirmar,
com convicção, que Celebrar o Mistério de Cristo é celebrar Cristo em
nossa vida e a nossa vida em Cristo.
Eles eram
perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos,
na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. (At 2,42)
na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. (At 2,42)
Durante muito tempo, Sacramento foi definido como ‘sinal’. Uma
definição que restringe e empobrece o sentido. Dizer que Sacramento é
sinal dirige nossa atenção para o que vemos – pão, água, óleo, vela,
sal, gestos e palavras – e não para o que o sinal aponta: a presença
amorosa do Pai em nós.
Trata-se de um Mistério. É o próprio acontecer de Deus no ser humano.
Nem ‘sinal’, nem ‘canal’ da Graça, mas a própria Graça celebrada. A
vida inteira de Jesus foi uma liturgia, uma celebração da presença do
Pai. Nosso rito também deve significar a nossa vida. Assim como Jesus
foi a transparência de Deus, nós devemos ser a transparência do Cristo
que habita em nós.
Uma realidade
viva e entusiasmante é motivo de contínua ação de graças dos
católicos: os Sacramentos da Igreja. No Sacramento, a promessa divina
de estar presente em nós e conosco, revelada em Cristo Jesus, torna-se
mais próxima, faz-se quase visível e palpável. Ela penetra em nosso
coração e suscita uma resposta ativa que nos liberta e faz testemunhas
do Amor de Deus e membros da Igreja.
A celebração dos
Sacramentos abrange todas as etapas da existência humana, do
nascimento até a morte, e é indispensável para alimentar a vida
cristã. O nascimento para a Igreja, a passagem da infância para a
maturidade da fé, a doença, o comer e o beber, a volta à Casa Paterna
que abandonamos, o compromisso para a construção da família ou da
comunidade eclesial são momentos singulares da vida que adquirem cor,
sabor e perfume especiais com a manifestação sacramental da Graça de
Deus.
Nos Sacramentos,
nosso anseio de Vida Divina é saciado. O próprio Cristo Jesus nos
comunica a Sua plena Comunhão com o Pai. Toda a vida cristã se
desenvolve em torno dos Sacramentos, especialmente o da Eucaristia.
Ao longo de sua
história bi-milenar, a Igreja foi discernindo que, entre suas
celebrações litúrgicas, existem sete que são, no sentido próprio da
palavra, Sacramentos instituídos pelo Senhor: o batismo, a confirmação
ou crisma, a eucaristia, a penitência ou reconciliação, a unção dos
enfermos, a ordem e o matrimônio. Jesus não é apenas o criador dos
Sacramentos, mas também o seu Ministro. É Cristo quem batiza, quem
consagra, quem perdoa, quem cura...
Além dos
sacramentos, a liturgia da Igreja mostra uma rica variedade de
manifestações da fé, chamadas genericamente ‘sacramentais’:
proclamação da Palavra de Deus; liturgia das horas ou ofício divino;
exéquias; dedicação de Igrejas e altares; Consagração de Virgens;
Profissão religiosa; distribuição da sagrada comunhão fora da Missa;
bênçãos em circunstâncias variadas, entre outras.
Nos Sacramentos,
pela ação do Espírito Santo, o Mistério Pascal de Cristo transforma a
vida dos cristãos e da comunidade eclesial.
Os Sacramentos
são sempre:
- Sacramentos de
Cristo: foram instituídos por Ele como obras primas da Nova e Eterna
Aliança;
- Sacramentos da
Igreja: existem através dela e para ela, constroem Igreja e dependem
dela;
- Sacramentos da
fé: eles dão e sustentam a fé para a sua reta e eficaz celebração;
- Sacramentos da
salvação: conferem a Graça que significam;
- Sacramentos da
vida eterna: celebram o Mistério do Senhor até que Ele venha.
Os Sacramentos
não eliminam na Igreja ou nos fiéis a sua condição humana. Antes, eles
purificam e integram toda a riqueza das palavras, dos sinais e dos
símbolos.
A vida litúrgica
começa pelos Sacramentos da iniciação cristã. Eles nos inserem no
Mistério Pascal do Senhor. O cristão é um iniciado – alguém que
foi introduzido na Verdade Divina revelada, que é conservada e
transmitida pela Igreja. A adesão afetiva e efetiva a Cristo é o
caminho da conversão. Acolhido na Igreja, comunidade de fé e comunhão,
o iniciado assume como própria a missão: o evangelizado passa a ser um
evangelizador.
O batismo é o
fundamento de toda a vida cristã e o nascimento para a vida nova em
Cristo Jesus. Libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus,
tornamo-nos membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos
participantes de sua missão.
O batizando é
incorporado a Cristo crucificado e ressuscitado. Neste sentido, o
batismo não pode ser compreendido apenas como uma bênção que se
concede às crianças. Supõe mudança de vida, conversão e adesão a
Jesus, uma resposta de fé, que se manifesta em um estilo de vida
coerente com os valores do Reino.
O significado do
batismo aparece claramente nos ritos e símbolos da celebração: imersão
na água, sinal da cruz, veste branca, unção e luz (vela).
Pelo batismo, o
cristão assume a tríplice missão: ele é sacerdote, profeta e rei.
Sacerdote é aquele que consagra; profeta, o que ouve Deus, vive Deus,
anuncia e denuncia; e rei – ou pastor –, o que assume o poder para
melhor servir aos irmãos.
Através do
matrimônio cristão, os pais tornam se responsáveis de pedir o batismo
para seus filhos.
È o sacramento
que confirma e consolida a Graça batismal, unindo o cristão a
Cristo e à sua Igreja e lhe dando força especial para testemunhar a
fé. Também chamado Crisma, porque a unção com o sagrado óleo do crisma
sinaliza a participação nas unções do Espírito – sobre Jesus, em Seu
Batismo e sobre os apóstolos e Maria, em Pentecostes.
O gesto de
estender as mãos sobre o confirmando e a unção com o crisma são os
sinais do dom do Espírito. É íntima a relação entre os Sacramentos da
Confirmação e do Batismo, mesmo que haja uma distância de anos entre
as celebrações.
Considerando-se a
prática comum do Batismo de crianças, a Confirmação adquire o sentido
de maturidade da fé e da personalização do compromisso batismal. A
celebração deve ter participação consciente e ativa, sendo precedida
de cuidadosa catequese. Que o sacramento da crisma seja uma
experiência especial na vida dos jovens.
A Eucaristia é
raiz e o centro da vida cristã. Ela faz da Igreja o Corpo de Cristo.
É a celebração da Ceia do Senhor e a renovação da Aliança que Deus
oferece ao Seu Povo. É o memorial do sacrifício de Jesus em favor da
humanidade. É sinal da unidade e é força para a caminhada dos
cristãos. A Eucaristia anuncia e realiza o Reino de Deus, fortalecendo
a prática da justiça e alimentando o amor, tanto para a partilha de
bens e dons, como para a entrega da própria vida, se for preciso.
A palavra
“Eucaristia” significa “ação de Graças”. Durante a celebração da
Missa, a Igreja, através do Celebrante, realiza duplo pedido a
Deus-Pai, suplicando que envie o Espírito Santo: 1) sobre o pão e o
vinho para que os transforme no Corpo e Sangue de Cristo; 2) sobre a
comunidade reunida, para que, recebendo o Corpo e Sangue do Senhor,
seja por Ele renovada e reunida num só corpo, o Corpo de Cristo.
Participar da Eucaristia nos concede o privilégio de uma grande
Missão: ser sinal, nos nossos ambientes, da Presença de Jesus.
“Senhor, fazei de
nós um só Corpo e um só Espírito!” Comungar é unir-se a Cristo, formar
um só corpo com Ele. É dispor-se a viver, em comunhão com a Igreja, a
missão de evangelizar, através da escuta e anúncio da Palavra, da
comunhão fraterna e do compromisso com a justiça. Nos ritos de
despedida de todas as celebrações eucarísticas, a assembléia é enviada
a viver e testemunhar a sua Fé em seu dia-a-dia para a edificação do
Reino de Deus.
Também quando os
fiéis de nossas comunidades se reúnem sem a presença do sacerdote para
celebrar a Páscoa do Senhor, alimentando-se com o pão da Palavra, eles
estão unidos à celebração da Eucaristia na Paróquia. Essa união é
estabelecida através de ministros não ordenados, autorizados a
presidir a celebração da Palavra e a conservar e distribuir a Sagrada
Comunhão.
O católico tem o
compromisso de participar da Eucaristia dominical, por ser celebrada
no dia em que Cristo venceu a morte, e nos fez participantes da sua
vida imortal (cf. Dies Domini 34).
A penitência e a
unção dos Enfermos são chamadas Sacramentos medicinais ou de cura. A
penitência é também chamada sacramento da reconciliação, perdão,
confissão ou da conversão. Deus, em Seu infinito amor, nunca abandona
a obra iniciada. Jesus Cristo, nosso redentor e salvador, instituiu
esses Sacramentos para resgatar a vida nova da graça perdida pelo
pecado.
Ao longo da vida
e até nos momentos de fraqueza e doença, ouvimos, em nosso íntimo, o
apelo de Jesus à conversão, Seu convite à Vida Plena. A conversão é
necessidade contínua para a Igreja, que é santa, mas que reúne também
os pecadores.
As celebrações
desses Sacramentos são verdadeiros encontros com Cristo Redentor
porque, através da Igreja, Jesus acolhe os que se encontram em estado
de pecado, de fraqueza ou de doença. Nesses encontros de oração, a
Palavra de Deus é proclamada e o Espírito Santo age. Por isso, esses
Sacramentos são verdadeiros remédios que realizam a cura interior. Na
unção dos enfermos, também é possível e desejável a cura da doença.
Penitência ou
reconciliação é o sacramento pelo qual o cristão obtém da misericórdia
divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo é reconciliado
com a Igreja que feriu pecando, e a qual colabora para sua conversão
com caridade, exemplo e orações (cf. Lúmen Gentium 11).
Quanto melhor se
conhece o sacramento da reconciliação, mais se aprecia esse verdadeiro
dom de Deus à sua Igreja. Cristo instituiu esse sacramento para a
conversão de todos os batizados que se afastaram de Deus e romperam
com a comunidade pelo pecado. O poder divino, atuando através do
ministério sacerdotal, restabelece a comunhão rompida.
O pecado é o
verdadeiro mal a ser vencido, pois impede a harmonia da pessoa consigo
mesma, com a comunidade de fé e com Deus. Provoca angústia e fere as
relações fundadas na verdade e no amor, na justiça e solidariedade. O
remédio do sacramento da penitência é a misericórdia de Deus que,
movido por compaixão, perdoa, reconcilia e restaura a pessoa que se
converte sob a ação do Espírito Santo e recebe a absolvição do
sacerdote em nome de Cristo Jesus.
Para receber esse
dom de Deus, o católico pede o Sacramento com fé, humildade, coração
contrito, ao menos uma vez por ocasião da Páscoa ou sempre que a
consciência lhe exigir, e se abre ao abraço de Cristo que, ao
perdoá-lo, reintegra-o em sua condição de discípulo e membro de sua
Igreja. Os atos do penitente são:
1) exame de
consciência;
2)
arrependimento;
3) o firme
propósito de não pecar mais;
4) a confissão
dos pecados perante o sacerdote, na confissão auricular, ou o
reconhecimento explícito da condição de pecador, expresso pela
presença perante o Sacerdote e a Igreja;
5) o cumprimento
dos atos de penitência indicados pelo sacerdote para reparar o dano
causado pelo pecado.
A celebração do
Sacramento sublinha o caráter pessoal, comunitário e social do pecado,
assim como da ação da Graça Divina. A Confissão é um momento
privilegiado de vivência do mistério pascal, pois o penitente passa da
morte do pecado para a Vida Nova em Cristo, e sob a ação do Espírito,
dá glória a Deus Santo e Misericordioso.
A unção dos
enfermos é o sacramento pelo qual a Igreja, através da unção e da
oração dos presbíteros, entrega os doentes aos cuidados do Senhor
sofredor e glorificado, para que os alivie e salva (cf. Lumen
Gentium 11).
Vem ao encontro
da fragilidade do ser humano. Pode ser pedido em condição de doença ou
velhice, seja ou não iminente o perigo de morte. Trata-se da ação
misericordiosa do Cristo Redentor, que se torna presente no Sacramento
para fortificar, sanar e reerguer o doente e o idoso.
O Evangelho
revela a compaixão de Jesus para com os doentes. As numerosas curas
realizadas são claros sinais de que, por Ele, chegou o Reino de Deus
prometido e esperado e, com Ele, a vitória sobre o pecado, o
sofrimento e a morte. Aceitando sua paixão e morte, Jesus deu sentido
ao sofrimento humano.
A Igreja, além do
cuidado com os doentes, acompanhando-os com orações, celebra o
sacramento da unção dos enfermos. Nós cremos que a união do próprio
sofrimento ao de Jesus pode se tornar meio de purificação e de
salvação para nós e para a Igreja.
A Unção, se
possível, deve ser precedida pela Confissão do doente. Torna-se,
assim, oração da Igreja e confissão da fé do penitente - remédio e
conforto espiritual para enfrentar a velhice, a enfermidade e a morte
à luz do mistério de Cristo.
O Sacramento
transmite o dom da fortaleza, para perseverar no caminho do bem e
resistir às tentações. Lembra que o doente pode fazer de seu leito de
dor, o altar de seu sacrifício, de sua imolação e de sua oferta ao
Pai.
Todos os
Sacramentos da Igreja têm sentido comunitário. A Ordem e o Matrimônio
são Sacramentos a serviço da comunhão e da missão. O Ministério
Ordenado e o amor conjugal consagrados pela Graça do Sacramento são
orientados para um fecundo dom de si para o outro e com os outros. Dom
que se manifesta sob formas diferentes, que têm como fonte e imagem, o
amor de Cristo pela Igreja. Ordem e matrimônio são Sacramentos de
serviço à Igreja-comunidade que evocam o Ministério de Cristo, que se
doa até o extremo por sua Igreja e pela família humana.
“A Ordem é o
sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo a seus
Apóstolos continua sendo exercida na Igreja até o fim dos tempos; é
portanto sacramento do ministério apostólico. Comporta três graus: o
episcopado, o presbiterado e o diaconado” (Catecismo da Igreja
Católica 1536).
Essencial para a
vida do Povo de Deus, mediante esse Sacramento alguns cristãos são
consagrados para estar à frente da comunidade, animando e articulando
o processo de edificação da Igreja, a serviço do anúncio e da
construção do Reino de Deus.
Toda a Igreja é
sacerdotal. Graças ao Batismo, os fiéis participam do sacerdócio de
Cristo. Esta participação se chama sacerdócio comum dos fiéis.
Existem, ainda, outros graus de participação na missão de Cristo,
conferidos pelo Sacramento da Ordem. Os Ministros Ordenados –
diáconos, presbíteros e bispos – têm a missão de servir à comunidade
em nome e na pessoa de Cristo Jesus.
Os bispos e os
presbíteros são, na Igreja, sinais da presença de Cristo, Servo do
Pai, no serviço da salvação da humanidade. O bispo recebe a plenitude
do sacramento da ordem, que o insere no Colégio Episcopal e faz dele o
chefe visível da Igreja Particular que lhe é confiada.
O exercício do
ministério, que exige contínua e generosa entrega pessoal, está
intimamente ligado à pregação do Evangelho e à celebração dos
sacramentos, especialmente da Eucaristia, fonte e cume da vida da
Igreja.
O matrimônio é a
aliança conjugal, em Deus, pela qual um homem e uma mulher constituem
entre si uma íntima comunidade de vida e de amor. É ordenado ao bem
dos cônjuges, como também, a geração e educação dos filhos.
O sacramento do
matrimônio tem sentido próprio no desígnio do Criador sobre o homem e
a mulher. Deus, que é amor e os criou por amor, chamou-os no
matrimônio a uma íntima comunhão de vida e de cuidados recíprocos.
Assim os cônjuges já não são dois, mas uma só carne e portadores da
bênção Divina: “Sejam fecundos e se multipliquem” (Gn 1,28).
Jesus Cristo
restabelece a ordem inicial querida por Deus e dá a Graça para viver o
Matrimônio na nova dignidade de Sacramento, que é o sinal do Seu amor
de esposo da Igreja. Os cônjuges cristãos, pela virtude do Sacramento,
participam do mistério da unidade e fecundo amor entre Cristo e a
Igreja, ajudam-se a se santificar um ao outro na vida conjugal, na
aceitação e educação dos filhos, e têm, por isso, no seu estado e
função, um dom especial dentro do Povo de Deus.
O amor do casal
abre-se em círculos concêntricos, que passam pela família, pela
sociedade e chegam à Igreja, numa perspectiva histórica e de
eternidade. Desta união procede a família, onde nascem os novos
cidadãos da sociedade humana que, pela Graça do Espírito Santo,
tornam-se filhos de Deus, para que o Povo de Deus se perpetue. Mais
ainda, a Graça do Sacramento do Matrimônio transforma a família em
Igreja Doméstica, espaço para o exercício do sacerdócio dos fiéis
casados.
O sacramento do
matrimônio concede aos esposos a Graça de se amarem com o mesmo amor
com que Cristo amou a sua Igreja. Os cônjuges cristãos participam no
Mistério da paternidade de Deus e da maternidade da Igreja.
Na liturgia dos
sacramentos, a pessoa e a comunidade celebram a gratuidade do amor de
Deus e fortalecem seu compromisso com o Reino de Deus e a vida nele
oferecida. A comunidade é o lugar privilegiado para a celebração dos
sacramentos, vida de fé e seguimento a Jesus Cristo.
Há um momento
para celebrar cada Sacramento. No ato da celebração, a vida da Graça é
posta como que em semente que deve ser cultivada. Os Sacramentos,
descobertos e vividos com participação consciente, tornam-se fontes
que jorram para a vida eterna.
Nossa existência
corre o risco de continuar no mesmo ritmo, repetitivo e monótono,
através dos anos, sem questionamentos ou atualizações. Os sacramentos
realizam a dinâmica transformadora do Mistério Pascal na comunidade e
na intimidade do cristão. A participação do católico nas celebrações
cria maior compromisso com a vida, com a luta e com o sofrimento dos
mais necessitados.
As injustiças,
cada vez mais, o tocam, o incomodam e o levam à opção radical pelo
Reino de Deus. Em nossa oração e ações estão sempre presentes os
excluídos. Eles nos recordam o compromisso com o seguimento de Jesus,
pobre e fiel, que veio para dar Vida para todos. E se Jesus Cristo é o
caminho, é preciso segui-lo.
O ser humano está
eternamente mergulhado no amor de Deus. N’Ele vivemos, existimos e nos
movemos. A vida, em suas diversas etapas e circunstâncias, só é
possível pela Graça – presença de Deus. Nós, cristãos, somos os que
temos consciência dessa realidade e, com profunda gratidão, a
celebramos nos Sacramentos da Igreja. É uma questão de opção e de fé,
de adesão a Jesus Cristo e à sua Igreja. Também é uma questão de
iniciação e de formação.
A Liturgia educa
nossa fé, o seguimento de Jesus Cristo, nossa espiritualidade. Porém
ela não atua automaticamente, depende de uma atitude fundamental de
nossa parte.
A Liturgia educa,
na medida em que as pessoas participam da própria ação litúrgica de
maneira plena, ativa e consciente, exterior e interiormente. Só assim
será uma participação fértil e transformadora. Então, a ação litúrgica
é capaz de formar (dar forma, alimentar, ajudar a crescer) o cristão,
o “novo ser” em cada um de nós. Isto acontece na medida em que
assumimos pessoalmente, depois da celebração, o jeito de viver de
Jesus de Nazaré que a Liturgia nos propõe.
O católico que se
coloca na presença de Cristo e se deixa tocar e transformar por Seu
Espírito na celebração dos Sacramentos, também se entregará a Cristo
no Seu Corpo visível – a família, e a comunidade, especialmente aos
que sofrem as várias formas de abandono e exclusão. Poderá viver em
Cristo e anunciar a alegria das Bem-aventuranças a todas as pessoas
que buscam, amam e procuram melhorar o mundo e a humanidade!
Certamente não
estamos sozinhos. Estamos muito bem acompanhados. É questão de fé e
amor acolher e seguir Jesus, presente na Liturgia dos Sacramentos e na
Liturgia da vida. Quem deu e quem dá sentido à nossa vida, às nossas
lutas, à nossa história é o próprio Jesus que, por amor ao Pai e a
toda humanidade, foi fiel à sua missão até o fim.
Celebrar a Páscoa
em todos os Sacramentos e na vida é isso! É participar no Mistério de
Cristo, deixando Deus trocar morte por Vida, a partir de pequenos e
grandes gestos de doação, de fidelidade, de entrega, recordando o que
Jesus fez e disse: “Façam isso em memória de mim”.
Assim, toda a
existência do cristão se torna sacramental, culto em espírito e
verdade, sacrifício da vida no serviço fraterno. Então, no rito e na
vida, a Liturgia será expressão de uma existência no Espírito, a
serviço do Reino. A vida de todos nós, católicos, unidos na comunhão
dos Sacramentos, vai se tornar Sacramento do encontro com Cristo para
todos os irmãos e irmãs.
Pai querido, conscientes de que Cristo nos libertou, nós queremos
segui-Lo. Fortalecidos pela Graça – a Vossa presença em nós -
comprometemo-nos com o diálogo fraterno, reconhecendo o nosso próximo
como o mais importante. Em especial, desejamos ser sinal de Vossa
ternura para as pessoas com deficiência, pobres, sofredoras e aflitas,
vivendo em alegre partilha do Amor, o Mandamento Maior. Amém.
“Se alguém está
em Cristo é nova criatura.”
(2Cor 5,17)
Vivemos um tempo
de mudanças radicais. Os problemas sociais se agravam com a
diversidade de comportamentos. Cada um julga possuir a verdade. É
comum a pessoa definir valores e normas por conta própria e adotar a
sua moral pessoal.
Mas o discípulo
de Jesus não cria valores e normas. Ele os recebe da Igreja e os vive
de modo consciente e responsável. A Igreja, por sua vez, os fundamenta
na Sagrada Escritura, na Tradição e no que conhece dos homens e
mulheres, estabelecendo diálogo fecundo com os diversos campos do
saber e da cultura, para compreender melhor a natureza humana, a vida
social e os desafios contemporâneos.
A Moral Cristã –
é adesão a Jesus Cristo e se manifesta na prática dos valores
evangélicos: caridade, fraternidade, justiça, misericórdia,
solidariedade, defesa da vida e da dignidade de pessoa. Portanto, não
deve ser vista como um conjunto de normas abstratas, um código frio de
leis e proibições.
A conduta do
discípulo de Jesus é a realização, na sua vida, das palavras e
atitudes do Mestre. A fé que professa e celebra é alimentada na
comunidade e concretizada no seu cotidiano. Vida Nova em Cristo é
isto: trazer a Palavra de Cristo para nossa participação na construção
da história.
Viver em Cristo é
não se acostumar e nem se acomodar às estruturas injustas da
sociedade, mas transformar o próprio jeito de pensar e de agir,
discernindo o que é bom e agradável a Deus e trilhando o processo de
conversão.
Cristo é o
caminho e segui-lo significa andar na direção da Vida Plena, da
realização do Reino.
A fidelidade
criativa e responsável a Jesus é dom precioso oferecido por Deus, a
que devemos responder com a nossa vida, uma resposta amorosa,
agradecida, e que multiplica e distribui o bem que Ele nos legou.
“É para a
liberdade que Cristo nos libertou.”
(Gl 5,1)
Criada por Deus à
Sua imagem e semelhança, cada pessoa é convidada a aceitar o Seu
projeto de Amor, ultrapassando o cumprimento automático e mecânico de
leis e normas.
Em Jesus nós
encontramos a chave de nossa semelhança divina. Ele é a Palavra
exemplar e é n’Ele que o ser humano se reconhece como imagem do
Criador e pode responder livremente à Proposta que o Pai
Misericordioso lhe dirige. Redimido por Cristo e sustentado pela
Graça, é capaz de buscar o bem e superar o mal, no caminho para sua
realização.
Por ser criatura
de Deus, cada pessoa traz em si distinção própria. Sua vida e
dignidade devem ser respeitadas em todas e quaisquer situações.
Independente da condição social, cultural, étnica ou religiosa em que
se encontre, a vida deve ser respeitada, valorizada, defendida e
promovida. Cada ser humano é um administrador da vida, dom de Deus, e
não um senhor que dela possa dispor arbitrariamente, manipulando-a ao
sabor de interesses ou ideologias.
A Igreja enfatiza
o valor da consciência, núcleo mais profundo, sacrário onde a pessoa
está a sós com Deus. Pela consciência, podemos avaliar se uma ação,
realizada ou por realizar, é ou não moralmente boa e tomar decisões
corretas. Jesus ressaltou a importância do coração, que deve ser puro,
para que dele não venham más ações.
A consciência
moral está sempre em formação, em processo de amadurecimento, e deve
ser educada para assumir postura crítica responsável diante dos
padrões de comportamento social apresentados pelos meios de
comunicação ou ditados pela cultura. A sociedade precisa de homens e
mulheres capazes de fundamentar eficazmente, em nome da ética cristã,
atitudes e práticas que superem o oportunismo, o utilitarismo, a
arbitrariedade, a perversidade e o egoísmo.
A ética cristã é
mais do que uma moral normativa. É a ética da aliança, da Vida Nova.
Ajuda à compreensão de que ser discípulo de Jesus é fazer a
experiência do amor. Experiência sempre limitada, pois carregamos em
nós a marca da condição humana.
Por isto,
precisamos indicações claras que expressem as melhores possibilidades
éticas, no horizonte da liberdade e da fidelidade criativa. A norma
moral é um sinal que nos remete à lei que já possuímos dentro de nós,
como dádiva de Deus. Nós reafirmamos o desejo de cumpri-la para
crescermos em santidade.
Do Primeiro
Testamento, recebemos o Decálogo, expressão da aliança que Deus fez
com o Povo Eleito através de Moisés no Monte Sinai. São os Dez
Mandamentos que acolhemos no coração e cumprimos na vida. Ao longo dos
séculos, os Dez Mandamentos têm orientado a conduta do Povo de Deus.
Eles devem ser vistos como caminho de vida e de libertação para a
pessoa, para a comunidade e para o Povo.
O Decálogo (dez
Mandamentos), em sua expressão original, deve ser compreendido no
contexto do Êxodo, centro da Antiga Aliança, libertação de Israel da
escravidão do Egito. (Ex 20,1-17) E são assim resumidos na tradição
catequética da Igreja:
1. Amar a Deus
sobre todas as coisas.
2. Não tomar o
Seu Santo Nome em vão.
3. Guardar os
domingos e festas.
4. Honrar pai e
mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar
contra a castidade.
7. Não furtar.
8. Não levantar
falso testemunho.
9. Não desejar a
mulher do próximo.
10. Não cobiçar
as coisas alheias.
Ao ser argüido
pelos fariseus e saduceus sobre qual seria o maior mandamento da Lei,
Jesus fez uma síntese do Decálogo, mostrando a essência da Lei: o amor
a Deus e o amor ao próximo. Na véspera de sua paixão, foi além:
“Amem-se uns aos outros como Eu lhes tenho amado. Nisto todos
conhecerão que são meus discípulos – se vocês se amarem uns aos
outros”.
As normas que nos
são dadas pela Igreja sobre pontos específicos do comportamento moral
devem ser observadas à luz da Lei de Cristo. É ela que nos ilumina e
capacita para fazer o bem, que nos orienta no caminho do verdadeiro
amor – que consiste na prática da ternura, da mansidão, do respeito,
do diálogo construtivo e da tolerância ativa.
Mas nós podemos
dizer não à proposta do Pai, ao Plano da Graça. O pecado é
conseqüência do mau uso da liberdade. O ser humano recusa a felicidade
que Deus lhe oferece através do caminho que a Igreja lhe aponta.
A Bíblia nos diz
que a raiz do pecado está em “comer o fruto da árvore do conhecimento
do bem e do mal” (cf. Gn 2,17), isto é, está em decidir o que é bom e
o que é mau para nós, sem ouvir Deus, sem a Sua Palavra, fechando-nos
orgulhosamente sobre nós mesmos. Ao pecar, refazemos a experiência de
Adão e Eva e abrimos caminho para o pecado de Caim, irmão que destrói
o irmão, negação da fraternidade e da vida.
Pecar é rejeitar
Jesus Cristo e o Evangelho, é abandonar a casa do Pai Misericordioso,
romper a comunhão com Deus e com os irmãos, destruir a obra do
Criador, recusar a vida nova no Espírito.
Reconhecer o
nosso pecado é o início da conversão e da reconciliação. O “Sim”
eterno do Amor de Deus é mais forte do que o “Não” do ser humano
pecador. O Amor de Deus é mais forte do que o egoísmo humano e está
sempre disponível para os que buscam trilhar o caminho de conversão e
santidade – nossa vocação fundamental.
A pessoa de
coração puro e vida santa é “bem-aventurada”, é verdadeiramente feliz,
pois vai alcançando sempre mais a plenitude da realização humana, a
Vida Nova em Cristo.
“Porei minha lei
no fundo de seu ser e a escreverei
em seu coração” (Jr 31, 33)
em seu coração” (Jr 31, 33)
A vida nova em
Cristo envolve toda a existência dos discípulos de Jesus, incluindo o
vasto e complexo campo da vida em sociedade, onde eles devem cumprir o
mandato de ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.
O cristão não
pode manter-se indiferente ao que acontece na comunidade, a omitir-se
diante dos problemas dos irmãos que sofrem.
Os rumos da vida
social dependem da postura e da contribuição de cada discípulo e de
cada comunidade eclesial. O cristão está no coração do mundo para ser
sinal da misericórdia e de consolação. Não reduz a sua atuação à vida
interna da Igreja ou aos serviços e ministérios dentro da comunidade.
Seu campo de atuação é o mundo, com seus desafios.
O ideal de
justiça que motiva o cristão e o mantém comprometido com a
transformação da sociedade nasce no coração do Evangelho. É
conseqüência da fé que ele vive, da sua opção de seguir Jesus.
O católico
encontra o precioso desdobramento da fonte evangélica na Doutrina
Social da Igreja. Aqui estão reunidos os principais ensinamentos do
Magistério a respeito da vida em sociedade, alicerçados na Sagrada
Escritura e na Tradição.
O serviço da
caridade e da justiça é exigência fundamental na ação evangelizadora
da Igreja, continuando a missão de Jesus. Por isso, a ação dos
católicos no campo social, animada pela fé da Igreja, torna-se
verdadeira ação evangelizadora: ela testemunha a atualidade e a força
transformadora do Evangelho para a sociedade.
A postura
fundamental da Igreja na sociedade é profética, de anúncio e denúncia.
Anúncio da Boa Nova do Reino e de suas conseqüências para a vida
social – Paz, como fruto da Justiça. Denúncia dos graves atentados
contra o ser humano, que contrariam o Plano de Deus. A Igreja não
propõe um modelo de sistema social, nem pretende oferecer solução
técnica para os problemas econômicos, menos ainda fazer opção
político-partidária. No entanto, encoraja os leigos e leigas a
fazê-lo. Os fiéis participam na elaboração de projetos
sócio-políticos, engajam-se no campo político-partidário, preservando
a sua identidade católica e dando testemunho de honestidade,
competência e de dedicação ao bem comum.
A participação do
católico na construção de uma sociedade justa e solidária exige a
defesa e a promoção dos direitos humanos. Os direitos devem ser
efetivamente assegurados no contexto de uma democracia participativa e
não meramente representativa. O compromisso católico em favor da paz,
na superação da violência e das guerras, exige a adesão pessoal a um
projeto de Amor e de Justiça.
A evangélica
opção pelos pobres merece prioridade na reflexão e na prática dos
católicos no mundo da economia e da política, exigindo iniciativas
privadas e públicas para superar a miséria e a fome. Ao invés da
acumulação egoísta de bens e da busca insaciável do lucro e poder, a
Igreja propõe a partilha e a solidariedade, o acesso de todos aos bens
e serviços necessários à vida digna, de modo a favorecer a superação
das desigualdades entre pessoas, regiões e nações.
Outro setor da
vida social em que os católicos devem se fazer presentes, oferecendo
sua contribuição própria, é o da cultura. Os campos da comunicação, da
pesquisa científica, da ecologia, da promoção da mulher e da criança e
do empenho pela paz são lugares e situações a serem iluminados pela
luz do Evangelho. São setores onde a Palavra de Deus deve ser
anunciada e testemunhada através do serviço e do diálogo.
A exigência de
respeito deve também ser vivida diante das manifestações culturais
próprias de cada região, especialmente as de origem indígena e
africana, de modo a fomentar relações de convivência pacífica entre
diferentes povos e grupos humanos.
No campo da
Moral, as muitas opiniões existentes – diferentes e divergentes –
desafiam o católico a ter uma visão correta e uma vivência cristã da
sexualidade. Este tema não pode ficar excluído da Vida Nova em Cristo.
Na Palavra de Deus e nas orientações da Igreja, o católico encontra
uma ética da sexualidade capaz de dar significado profundo a esta rica
realidade humana e também de orientar o seu comportamento rumo à sua
realização como pessoa. A vivência da sexualidade não pode ser
excluída da ética, nem ficar à margem da fé.
Diante da
tendência crescente de se fazer da sexualidade um artigo de
compra-e-venda, de se tratar a sexualidade como uma mercadoria a ser
desfrutada segundo a liberdade e o interesse de cada um, o católico é
chamado a reconhecer a dignidade desta dimensão humana.
Diante da
violência, do abuso e da banalização das relações entre as pessoas, o
católico é chamado a viver um amor capaz da gratuidade e da
fecundidade que sustenta os encontros significativos e vitais. Vive a
sua sexualidade iluminado pela fé e sustentado pela Graça, num
processo de conversão permanente que envolve toda a existência, a
caminho da Vida Plena, imagem do Homem Novo – Jesus de Nazaré.
A visão católica
da sexualidade afirma a igual dignidade do homem e da mulher, exigindo
a superação de formas de dominação que desrespeitam o ser humano e a
rejeição de qualquer manifestação de violência sexual.
A realidade do
matrimônio e da família está marcada por luzes e sombras, por questões
relativas a valores e por sérios problemas que representam grandes
desafios. A maneira de viver a moral matrimonial e familiar no
dia-a-dia depende de como são entendidos o casamento e a família. À
luz da fé, o casamento jamais pode ser visto como mero contrato entre
um homem e uma mulher – é um Sacramento da Igreja. A conduta do casal
depende dessa compreensão do matrimônio como Sacramento.
Afirmar que o
Matrimônio é Sacramento significa reconhecer que o amor que une homem
e mulher no casamento tem seu sentido mais profundo em Deus, e não
pode ser reduzido a um simples fato natural ou acontecimento social. O
Matrimônio, como Sacramento assumido e celebrado na Igreja, é sinal
visível do próprio Amor de Deus, da Aliança de amor fiel, perene e
fecundo, entre Deus e Seu Povo, da união inseparável entre Cristo e a
Igreja.
Deus ama sempre e
para sempre, de modo fiel: na alegria, na tristeza, na saúde e na
doença, em todos os dias da vida. Ama gerando a vida e educando; Seu
amor é criador e fecundo. Assumir e viver o matrimônio significa
assumir o compromisso de amar como Deus ama: um amor que nunca se
acaba e que sustenta a fidelidade e o compromisso de gerar a vida dos
filhos com responsabilidade, educando-os para a experiência da fé.
O matrimônio,
unindo o homem e a mulher numa aliança inseparável de amor e
fidelidade, é a base da família, cuja importância na vida social
precisa ser mantida e aprofundada. O amor conjugal não se fecha sobre
si, mas se abre para a geração dos filhos.
Na transmissão da
vida pelos esposos, a Igreja propõe uma atitude de fecundidade
responsável, que pressupõe não só procriar, mas, acima de tudo,
acolher e cuidar dos filhos com amor e educá-los na fé. Daí, a
exigência do planejamento familiar, conforme as orientações da Igreja,
que é sinal de maternidade e paternidade responsáveis.
A convivência da
família católica deve ser marcada pela prática do amor fraterno, do
diálogo e do respeito mútuo, pelo exercício do perdão e da busca de
unidade. Seu alimento deve ser a vida de oração, a escuta atenta da
Palavra de Deus e a participação na vida da Igreja.
O autêntico amor
conjugal tem a sua fonte em Deus, que é Amor.O amor que une o casal
católico não depende apenas do seu compromisso e dos seus esforços. A
Graça de Deus está presente de modo eficaz, e não apenas simbólico, na
celebração litúrgica e na experiência do dia a dia da família,
sustentando, em meio a tantos desafios, o compromisso de amor e
fidelidade.
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