MISSA
DA MEIA-NOITE
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Mas é tal a grandeza deste mistério que a Igreja não se
limitará a oferecer um só Sacrifício. A Chegada de um dom tão precioso e
longamente esperado merece ser reconhecida com novas homenagens. Deus Pai dá
seu Filho à Terra; o Espírito de Amor opera esta maravilha: convêm que a Terra
corresponda à gloriosa Trindade com a homenagem de um triplo Sacrifício. Além disso, Aquele que nasce hoje não
se manifestou em três nascimentos? Ele nasce, nessa noite, da Virgem bendita;
ele vai nascer, pela sua graça, nos corações dos pastores que são as primícias
de toda a cristandade; ele nasce eternamente do seio de seu Pai, nos
esplendores dos santos; este triplo nascimento deve ser honrado por uma tripla
homenagem.
A primeira missa honra o nascimento segundo a carne. Os três
nascimentos são como efusões da luz divina; ora, eis à hora onde o povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e onde o dia nasceu
sobre aqueles que habitavam a região das sombras da morte. Fora do
templo santo onde nos reunimos, a noite é profunda: noite material, por causa
da ausência do sol; noite espiritual, por causa dos pecados dos homens, que
dormem no esquecimento de Deus, ou que estão acordados para cometer crimes. Em
Belém, em torno do estábulo, na cidade, o ambiente é de sombras; e os homens
que não encontraram lugar para o Hóspede divino, repousam numa paz grosseira;
eles não serão despertados pelo concerto dos anjos.
Entretanto, à meia-noite, a Virgem sentiu que chegava o momento
supremo. Seu coração maternal é, de repente, inundado de delícias
desconhecidas; ele se liquefaz num êxtase de amor. Súbito, ultrapassando com
sua onipotência as barreiras do seio maternal, do mesmo modo que ele penetrará
um dia a pedra do sepulcro, o Filho de Deus, Filho de Maria, aparece estendido
sobre o solo, sob os olhares de sua mãe, para a qual ele estende os braços. O
raio de sol não ultrapassa com mais rapidez o puro cristal, que não o pode
impedir. A Virgem Maria adora esse Menino divino que sorri para Ela; Ela ousa
abraçá-lo; Ela o envolve de panos que Ela tinha preparado. Ela o deita no
presépio. O fiel José adora com Ela; os santos anjos, segundo a profecia de
Davi, rendem profundas homenagens a seu criador, no momento de sua entrada nesta
Terra. O céu se abre por cima do estábulo, e os primeiros votos do
recém-nascido sobem ao Pai dos séculos; seus primeiros gritos, seus doces
vagidos chegam aos ouvidos do Deus ofendido, e já preparam a salvação do mundo.
No mesmo momento, a pompa do Sacrifício atrai todos os
olhares dos fiéis para o altar; os ministros sagrados partem, o padre
sacrificador chega aos degraus do santuário. Enquanto isso, o coro canta o
cântico de entrada, o Intróito (Primeiras palavras da missa). É Deus mesmo quem
fala; Ele diz a seu Filho que Ele o engendrou hoje.
Em vão, as nações tremerão na sua impaciência por causa de seu jugo; este
Menino as dominará, e Ele reinará. Pois Ele é o Filho de Deus.
MISSA
DA AURORA
Eis que, nesse mesmo momento, os pastores, convidados pelos
santos anjos, chegam apressados a Belém; eles se comprimem no estábulo, que era
muito pequeno para conter o seu número. Dóceis à advertência do Céu, eles
vieram para reconhecer o Salvador que, disseram-lhes, tinha nascido para eles.
Eles encontram todas as coisas conforme ao que os anjos lhes tinham anunciado.
Quem poderia narrar à alegria dos seus corações, a simplicidade de sua fé? Eles
não se espantam de encontrar, sob as aparências de uma pobreza semelhante à sua,
Aquele cujo nascimento comove mesmo aos anjos. Seus corações compreenderam
tudo; eles adoram e querem muito bem a esse menino. Eles são já cristãos: a
Igreja cristã começa com eles; o mistério de um Deus rebaixado é recebido por
corações humildes. Herodes tentará matar o menino; a Sinagoga tremerá; seus
doutores se elevarão contra Deus e contra o seu Ungido; eles levarão à morte o
libertador de Israel; mas a Fé permanecerá firme e inabalável na alma dos
pastores, esperando que os sábios e os poderosos por sua vez se abaixassem
diante do Presépio e da Cruz.
Que se passou no coração desses homens simples? Cristo
nasceu nesses corações, Ele aí habita doravante pela Fé e pelo Amor. Eles são
nossos pais na Igreja. E nós devemos nos tornar semelhantes a eles. Chamemos,
pois, o divino Menino, para que Ele venha às nossas almas; deixemos um lugar
para Ele, e que nada lhe feche a entrada nos nossos corações. Os anjos falam
também para nós, eles nos anunciam a boa-nova; este benefício não deve se
restringir somente aos habitantes dos campos de Belém. Ora, a fim de honrar o
mistério da vinda silenciosa do Salvador nas nossas almas, o padre vai daqui a
pouco subir ao santo altar e apresentar, pela segunda vez, o Cordeiro sem
mácula aos olhares do Pai Celeste que o envia.
Que nossos olhos estejam, pois fixos sobre o altar, como os
olhos dos pastores sobre o Presépio; procuremos aí, como eles, o Menino
recém-nascido, envolvido em panos. Entrando
no estábulo, eles ainda ignoravam Aquele que eles iriam ver; mas os seus
corações estavam preparados. De repente eles o perceberam, e seus olhos se
fixaram sobre o Sol Divino. Jesus, do fundo do Presépio, olha para eles com
amor; eles são iluminados, o dia nasce em seus corações. Mereçamos que se
cumpra em nós esta palavra do Príncipe dos Apóstolos: a lucerna (fresta) que alumia num lugar obscuro, até que venha o dia, e
a estrela da manhã nasça em vossos corações (II Pe. I, 19).
Nós chegamos aí, a essa aurora bendita; o divino Oriente
apareceu, Aquele que nós esperávamos, e ele não desaparecerá mais em nossa
vida: pois nós queremos temer acima de tudo a noite do pecado, noite da qual
Ele nos livrou. Nós somos os filhos da luz e os filhos do
dia (I Tess. V, 5); nós não conhecemos mais o sono da morte; mas
nós sempre velaremos, lembrando-nos que os pastores velavam quando o anjo lhes
falou e o céu se abriu sobre as suas cabeças. Todos
os cantos dessa Missa da Aurora nos mostrarão de novo o esplendor do Sol de
Justiça; desfrutemos deles como se fôssemos cativos presos há muito tempo
numa prisão tenebrosa, aos quais uma doce luz vem lhes devolver a vista. O Deus
da luz resplandece no fundo do Presépio; seus raios divinos embelezam os traços
nobres da Virgem Maria, que o contempla com tanto amor; a face venerável de São
José também recebe dele um brilho novo; mas estes raios não são contidos nos
estreitos limites da gruta. Eles deixam nas suas trevas merecidas a ingrata
Belém, mas eles se espalham pelo mundo inteiro, e acendem em milhões de
corações um amor inefável por esta Luz do alto, que arranca o homem dos seus
erros e paixões e o eleva em direção ao sublime fim, para o qual ele foi
criado.
Iluminura medieval sobre o Natal. Início do Ofício Divino: “Deus in adjutorium meum intende. (Deus está vindo em meu auxílio) Domine, ad ad…”
MISSA
DO DIA
O mistério que a Igreja honra nessa terceira missa é o do
nascimento eterno do Filho de Deus no seio de seu Pai. Ela celebrou, na
meia-noite, o Deus-Homem nascendo do seio da Virgem no estábulo; na aurora, o
divino Menino nascendo no coração dos pastores; nesse momento, resta-lhe
contemplar um nascimento muito mais maravilhoso que os dois outros, um
nascimento cuja luz ofusca o olhar dos anjos, e que é o eterno testemunho da
fecundidade de nosso Deus. O Filho de Maria é também o Filho de Deus: nosso
dever é o de proclamar hoje a glória desta inefável geração, que o produz
consubstancial ao Pai, Deus de Deus, Luz da Luz. Elevemos nossos olhares até o
Verbo Eterno que era no princípio com Deus, e sem o qual Deus não foi jamais.
Pois Ele é a forma de sua substância e o esplendor de sua eterna verdade.
A santa Igreja abre os cantos do terceiro sacrifício pela
aclamação ao Rei recém-nascido. Ela celebra o poderoso principado que Ele
possui, enquanto Deus, antes de todos os tempos, e que Ele receberá, como
homem, por meio da Cruz que um dia Ele deverá carregar sobre seus ombros. Ele é
o Anjo do Grande Conselho, quer dizer o
enviado do Céu para cumprir o sublime desígnio concebido pela gloriosa
Trindade, de salvar o homem pela Encarnação e pela Redenção. Nesse augusto
conselho, o Verbo teve sua parte divina. E seu devotamento á glória de seu Pai,
junto a seu amor pelos homens, lhe faz tomar sobre si o cumprimento.
Fonte: Fraternidade Sacerdotal São Pio X
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