~ Preparando a Lição ~
O que exigimos da catequista na tríplice formação necessária é a
preparação remota: bom conhecimento da doutrina católica, boa vida
cristã, bom aparelhamento pedagógico. Mas é geral e não basta para as
aulas. Cada aula requer um trabalho especial e uma preparação imediata,
cuja ausência será suficiente para enfraquecer a lição do melhor
teólogo, do mais perfeito pedagogo.
Preparação próxima - Construo assim minhas aulas de Catecismo
primário: 1) Um trecho (em geral um fato ou uma parábola) do Evangelho;
2) a doutrina; 3) a formação, com os 4 pontos: hábitos cristãos, hábitos
piedosos, liturgia, apostolado.
Seleciono o trecho evangélico, ou simplesmente o procuro (quando o
programa o indica), releio-o textualmente, vejo o que interessa a esta
aula, afasto cincurstâncias que não servem ao assunto e que, no
momento, iriam apenas dissipar ou sobrecarregar a atenção das crianças,
saliento os pontos de que extrairei a doutrina.
Disponho agora a parte doutrinária: fixo a ideia principal sobre que
girará a aula, que repetirei muitas vezes, que farei repetir, escrever e
memorizar; organizo o assunto na ordem que mais convém a crianças,
afasto o que não poderão compreender e o que as distanciaria da ideia
central, única de que faço questão, pois me satisfaço com uma ideia por
aula.
Vou agora à formação, que é, em geral, o mais difícil. Se a aula não
chegar às conclusões práticas, ficou em meio, sem atingir os fins.
Minhas conclusões devem fluir naturalmente da doutrina, como esta fluiu
do Evangelho, e adaptar-se à vida das minhas crianças. Tanto mais vivas e
mais práticas tanto melhores. Dificilmente as encontraremos
inteiramente feitas - ou porque os manuais, em geral, não as trazem, ou
porque, quando as trazem (como MEU CATECISMO¹) ainda precisam de certa
adaptação à condição destas crianças. Então, que hábito cristão ou piedoso posso inculcar? Que obra de apostolado irão elas fazer? Que aplicação litúrgica?
Para tudo isto, reli o texto do Evangelho, revi no Catecismo a doutrina
de que preciso, consultei este ou aquele manual (para sugestões),
escrevi meu plano de aula. Mesmo agora, que sigo MEU CATECISMO¹, onde
quase tudo está feito e proporcionado às crianças, ano por ano, embora
facilitadíssimo o trabalho, ainda é necessária a preparação próxima.
Certos pontos exigem mais precaução; certas palavras demandam explicação
mais infantil.
Seria imprudência não pensar nas perguntas que a aula pode suscitar.
Algumas serão inteiramente imprevisíveis, dado o espírito das crianças;
outras, quase infalíveis, e a própria catequista terá a habilidade de as
provocar sutil e habilmente. Não é demais estudar também as respostas
claras e satisfatórias que lhes daremos.
Auxiliares - Já não é o tempo das teses teológicas explanadas aos
meninos, que as decoravam. Aulas vivas, interessantes. Vamos preparar
igualmente tudo o que nos auxiliará em manter o interesse, em despertar o
entusiasmo. Que histórias iremos contar? Que comparação faremos? Que
exemplo daremos? Que frases escreveremos, que gráficos faremos no quadro
negro? Que expressão pediremos: história a inventar, quadro a
interpretar etc? Não basta ter bonitas histórias, é necessário saber
apresentá-las no momento devido. Não é uma arte, que requer um delicado
tato psicológico, escolher histórias, comparações e exemplos à altura da
classe?
E o modo de contá-las? Vi certo pregador despertar no auditório uma
grande hilaridade com uma terrificante descrição das penas do inferno.
Questão de modo de falar, do gesto, da expressão do rosto.
A prória História Sagrada precisa de mão segura nesta questão de
escolha. Há certos fatos que é preferível não contar, certas minúcias
que podem ser prejudiciais no momento².
Esta escolha merece uma atenção especial da catequista.
Tudo irá cuidadosamente preparado para o bom êxito da aula.
Material - O ensino intuitivo quer ainda mais que histórias,
comparações e exemplos. O que é possível mostrar, não se descreve: -
mostra-se. O material didático é indispensável.
Mas que material nos é indispensável a esta aula? Na coleção de
quadros, escolheremos o que nos convém; um santinho explicará bem esta
passagem; um desenho a colorir ou copiar; dois meninos brigando servirão
para ilustrar o exemplo que preparamos; uma notícia de jornal, contando
o desastre que aconteceu à criança que foi nadar sozinha às escondidas;
um recorte tirado duma revista com um clichê das Missões... Uma série
de coisas, que é preciso preparar de antemão.
Caderno de Lições - A professora já terá certamente atinado que é
preciso preparar a lição de Catecismo como prepara as demais lições,
organizando-a e escrevendo-a no seu caderno de preparação de lições. A
catequista, que não é professora, tenha o seu caderno para o preparo das
lições. Escreva o resumo do que vai dizer, em ordem, bem dividido;
anote as histórias, as comparações, os exemplos; deixe aí bem claras as
conclusões a tirar, as aplicações a fazer; por fim, para facilidade,
tome nota do material que vai empregar.
Cada qual tem o seu sistema de fazer este caderno. Deixo no meu uma
margem bastante larga para os acréscimos, que me vêm de duas fontes: 1.
das inevitáveis deficiências, que novas revisões suprem, que novas
preparações revelam; 2. da própria aula, ora dos alunos, cujas reações
ajustam isso, completam aquilo, reclamam aquiloutro; ora de mim mesmo;
uma comparação feliz que surgiu no curso da conversa, uma atitude que
impressionou melhor as crianças, um exemplo tirado, no momento, à vida
da própria aula, uma aplicação mais imediata, uma pergunta que me é
feita... E escrevo à margem.
Dentro de algum tempo, este caderno é um manancial. É um curso completo
de catequese. Não suprirá nunca a preparação próxima, mas facilitará
enormemente o trabalho da catequista, dando-lhe muito maior rendimento
às atividades. Custa um pouco fazê-lo, sem dúvida alguma. Mas paga o
pequeno sacrifício não só com o fruto da aula imediata, mas com as
facilidades sem-par das aulas futuras.
Aos pés do Senhor - A catequese não é apenas um trabalho
intelectual: é uma tarefa sobrenatural. Não é só de aulas interessantes
que precisamos, mas de frutos de vida cristã. Estes, é Deus quem dá. A
catequista, alma de vida interior, que nada faz sem a pura intenção de
agradar a Deus, antes de começar a sua preparação, rezou - como reza,
aliás, antes de todos os trabalhos.
Mas agora, feita a preparação intelectual imediata, volta aos pés do
Senhor, a meditar no seu assunto de aula. Verdadeira meditação, descendo
às profundezas da verdade estudada para amá-la, senti-la, possuir-se
dela. Aí é que aparecem as conclusões práticas, as aplicações à vida.
Daí é que nos vem o entusiasmo do falar, a unção sobrenatural (mas tão
natural nos santos!), a chama que comunica aos pequeninos o amor às
coisas de Deus.
Encerraremos nossa preparação rezando pelos alunos, para que eles
compreendam e amem. "Pai, que se faça como é de vossa santa vontade, e
nenhum desses pequeninos que me confiastes se venha a perder"³.
___________________
(1) MEU CATECISMO é um livro para o curso de religião primário, do Mons. Negromonte.
(2) As crianças, em geral, não compreendem por que o Menino Jesus ficou
no templo: acham que foi desobediência a Nossa Senhora. - A
circunstância de São José ter sido avisado em sonho da fuga para o Egito, tem despertado esta pergunta: Então, a gente deve acreditar em sonhos?
(3) Cf. Mt 18,14
Capítulo do livro A Pedagogia do Catecismo
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