Quando não se sabe para onde ir, todo
caminho é bom! Lembrei-me deste provérbio ao refletir sobre um fato
bastante recente, e até então inusitado, envolvendo uma jovem
brasileira, que leiloou a própria virgindade. “Até então”, porque, em
seguida, dado o destaque obtido na imprensa internacional, o exemplo foi
seguido por outras pessoas, de ambos os sexos. Para a moça catarinense,
«tudo se reduz a um negócio, com uma grande compensação»: em torno de
um milhão e meio de reais.
Um caso entre milhares de outros que
demonstram a banalização a que pode ser reduzida a sexualidade e, como
consequência direta, o crescimento vertiginoso da desestruturação
familial e dos crimes de estupro e pedofilia. Infelizmente, a violência
sexual de adultos contra mulheres, adolescentes e crianças está na ordem
do dia, fruto da desmoralização de uma sociedade que tudo permite e
incentiva, para, em seguida, fingir se escandalizar quando os frutos são
os que todos conhecemos.
De uns anos para cá, a erotização
provocada por filmes e novelas, músicas e internet – e até mesmo por
autoridades políticas e educacionais ao incentivarem a distribuição de
camisinhas nas escolas – está levando adolescentes e crianças a práticas
sexuais cada vez mais precoces e, o que é pior, a delitos contra
colegas da mesma idade.
Mais grave ainda é a reviravolta
operada pela permissividade na psicologia e na consciência moral de
crianças, jovens e adultos. Um caso concreto é a “Lei Maria da Penha”
que, se não for acompanhada por uma profunda conversão moral e cultural,
acaba mais uma hipocrisia inventada pela sociedade: com efeito,
primeiramente, os homens são incentivados a fazer valer seus direitos de
domínio e as mulheres a recorrerem a todas as técnicas de sedução –
pois a liberdade está sempre do lado do mais forte; em seguida, as
feministas se sentem no dever de sair por aí gritando contra a
exploração de que se julgam vítimas! E quem não sabe que os problemas
afetivos e emocionais transbordam para o campo social, econômico e
político? Onde não existe autodomínio na sexualidade, dificilmente
existirá em outros setores.
O próprio fato de a maior parte das
mães terem que trabalhar para sustentar a família, colabora para essa
perda de rumo e de sentido que afeta hoje grande parte da humanidade. As
crianças ficam sozinhas em casa e passam horas a fio assistindo
televisão ou presas na internet. Pior ainda, há pais que, para se
sentirem mais livres em seus programas, subjugam seus filhos a essa
escravidão “virtual”, que jamais poderá prepará-los para a vida que os
espera. Quem ainda sabe “perder” tempo conversando e brincando com seus
filhos?!
A permissividade invadiu até mesmo os
templos que, no passado, eram vistos como “casas de oração”. Detenho-me
na Igreja Católica, que mais conheço. Há missas e casamentos em que se
percebe claramente que, quem manda na moda, não é Deus, mas o “Maligno”.
Se é verdade que a roupa que vestimos – ou deixamos de vestir – traz
consigo uma mensagem (que nem sempre é subliminar!), então precisamos
reconhecer que o profano tomou o lugar do sagrado! E quando isso
acontece, salve-se quem puder! É o mundo visto e previsto por São Paulo:
«Todos os que querem viver na santidade em Cristo Jesus, são
perseguidos. Enquanto isso, os depravados e impostores progridem no mal,
enganando e sendo enganados!» (2Tm 3,12-13).
A vida é bela e importante demais para
ser levada na brincadeira. Já que se vive uma vez apenas, é mais
prudente lembrar da advertência do mesmo Apóstolo aos primeiros
cristãos: «Não se iludam: nem os injustos, nem os libertinos, nem os
idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os
ladrões, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os corruptos, nem os
estelionatários fazem parte do Reino de Deus» (1Cor 6, 9-10).
A verdadeira liberdade tem sempre como
ponto de referência o “outro” (começando pelo “Outro”, Deus), jamais o
“eu”: «Vocês foram chamados à liberdade. Cuidem, porém, que ela não se
torne uma desculpa para satisfazerem seus instintos egoístas. Pelo
contrário, coloquem-se a serviço uns dos outros no amor! Pois toda a Lei
encontra a sua plenitude num só mandamento: “Ame o seu próximo como a
si mesmo!”» (Gl 5,13-14).
Texto: Dom Redovino Rizzardo / Bispo de Dourados (MS)
Fonte: CNBB
cnbb.org.br/site/articulistas/dom-redovino-rizzardo/10986-para-onde-vai-a-liberdade-sexual
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