Estive conversando com uma senhora hoje, pela manhã.
Partilhou comigo um pouco de sua história, de sua vida.
Mãe de cinco filhos.
Seriam sete.
Esperava trigêmeos.
Dois morreram.
Escapou apenas um.
O Marido a abandonou, deixando os meninos pequenos ainda.
Foi para o corte da cana em São Paulo.
E nunca mais voltou.
Dos cinco filhos, perdeu um.
Dezessete anos.
Baleado.
Morreu no lugar de um amigo que havia aprontado.
Ela o visitou no hospital ainda com vida.
Limpou os olhos do filho, sujos de terra e sangue, com a barra da blusa que ela usava.
Matou a sede do filho com um punhado de algodão umedecido em água.
Não tiveram muito tempo pra conversar, mãe e filho.
Ele disse à mãe: "Mãe, eu vou morrer".
A mãe lhe disse: "Filho, então perdoa quem te fez isso.
E peça a Deus compaixão por todas as coisas erradas que você fez".
E a mãe nem conseguia chorar!
Aqui no Vale é assim.
Por vezes um vale de lágrimas.
Por vezes falta água e faltam lágrimas.
Muitos dramas.
Muitos sofrimentos.
Vidas despedaçadas.
Corações dilacerados.
Todos têm alguma história triste pra contar.
Conheci um padre, algum tempo atrás, que não gostava que as pessoas rezassem a "Salve Rainha", porque falava "neste vale lágrimas".
Com certeza ele nunca passou por experiências assim.
Momentos, em que até as lágrimas secam, aqui neste Vale.
Que importa!
Vale de lágrimas!
Vale sem água!
Lágrimas do Vale!
Mas o coração não seca!
E a alma não murcha!
Fiquei me perguntando: Onde esta mãe encontrou forças pra ensinar o filho moribundo a perdoar e a pedir perdão?
Que mistério é esse, onde morte e vida, sofrimento e redenção, dor e perdão, solidão e amor, saudade e fé se entrelaçam?
Lembrei-me da frase recente do papa Francisco: "o amor é a medida da fé!"
Concluí que esta mãe não perdeu seu filho naquele leito de hospital.
Ela o ganhou uma segunda vez.
Ela mesma, sozinha, fez o parto.
Perdoado, quando perdoava.
O ajudou a nascer para Deus.
Ah,
Senhor, dá-me uma fé tão grande, quão grande precisa ser minha capacidade de
amar; dá-me um amor imenso, que seja expressão de uma fé intensa; se eu nada
puder fazer para diminuir a dor dessa gente sofrida, que, ao menos, eu seja
sensível e solidário, saiba escutar essa dor que não quer calar, com mansidão,
humildade e paciência.
E que eu não perca a esperança.
Que eu saiba ler esta página do Evangelho vivo reproduzido na vida de teu povo.
E aprender com ela a misericórdia, o perdão.
São tantos os crucificados...
São tantas mães aos pés da cruz de seus filhos...
Mãe Maria, aliviai a dor dessas mães.
Amém!
E que eu não perca a esperança.
Que eu saiba ler esta página do Evangelho vivo reproduzido na vida de teu povo.
E aprender com ela a misericórdia, o perdão.
São tantos os crucificados...
São tantas mães aos pés da cruz de seus filhos...
Mãe Maria, aliviai a dor dessas mães.
Amém!
DOM MARCELO ROMANO BISPO DA DIOCESE DE ARAÇUAÍ MG, VALE DO JEQUITINHONHA
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