MARIOLOGIA
Aula 1
Maternidade divina
* Para os cristãos do século V era familiar a palavra Theotókos, que significa Mãe de Deus.
* O patriarca de Constantinopla,
Nestório (428), afirmava que Cristo era um sujeito humano, unido, mas
distinto do Verbo: um homem extraordinário, mas não verdadeiro Deus. A
Virgem seria então Mãe de Cristo, mas não Mãe de Deus.
* O concílio de Éfeso (431) declarou que
a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai, assumiu
uma natureza humana, de modo que a única pessoa em Cristo é esta Pessoa
divina. Assim a Virgem é Mãe desta Pessoa divina, e por isso verdadeira
Mãe de Deus.
* A pergunta “que é?” refere-se a uma
natureza (é um pinheiro, um homem, etc.), enquanto que a pergunta “quem
é?” se refere a uma pessoa (é Pedro). Eu não sou antes de tudo um “que”,
sou um “quem”; não sou “algo”, sou “alguém”. Tenho uma natureza e sou
uma pessoa.
* CIC 457: Deus pode criar uma natureza
humana de tal modo que o sujeito dessa natureza seja um “Eu” divino, uma
das Pessoas da Trindade. Jesus, gerado por obra do Espírito Santo, é
verdadeiro homem porque tem uma natureza real e perfeitamente humana. E é
verdadeiro Deus, porque a pessoa que sustenta essa natureza não é outra
que a do Verbo divino.
* Justa e verdadeiramente se chama Maria
Mãe de Deus, por ter concebido a natureza humana de Jesus, cuja pessoa é
divina. Maria dá a Jesus, quer dizer, a Deus Filho, tudo o que uma mãe
dá ao seu filho. Ela é, pois, sem sombra de dúvidas, e em sentido
próprio, Mãe de Deus Filho.
* O Concílio de Éfeso (431) define,
frente aos erros de Nestório: “A Santa Virgem é Mãe de Deus, porque deu à
luz carnalmente o Verbo de Deus feito carne”. O Concílio de Calcedónia
(451) acrescenta que não pode chamar-se à “Virgem Maria Mãe de Deus em
sentido figurado”: tem que ser afirmado em sentido próprio.
* No AT há alusões ao mistério da
Maternidade divina de Maria: pré-anúncios de Maria são Eva (mãe dos
viventes), Sara, Judite, Débora, Rute, Ester… Aparece também a figura da
rainha-mãe (Betsabé, mãe de Salomão). Vários profetas falam de uma
“Filha de Sião” que representa Israel nos três aspectos de Esposa, Mãe e
Virgem, que se realizarão plenamente no mistério de Maria.
* No NT a maternidade divina de Maria
afirma-se implícitamente, sempre que se fala d’Ela como “Mãe de Jesus”, o
qual declarou sem margem para dúvidas que é Deus, coisa que entenderam
muito bem os seus inimigos, que nisso viram blasfémia. Marcos chama a
Jesus “filho de Maria” e “Filho de Deus”. Em Mateus e Lucas emprega-se a
palavra Mãe tanto no relato da Concepção como no Nascimento.
O NT ensina também explicitamente o mistério
* O anjo disse a Maria: “O Espírito
Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua
sombra. E, por isso mesmo, o Santo, que há-de nascer de ti, será chamado
filho de Deus”. Chamar-se-á Emanuel, Deus connosco.
* Em Mt 1, 21, o Anjo anuncia a José que
Jesus “salvará o seu povo”, expressão que no AT se reserva a Deus; e
que o salvará “dos seus pecados”, poder que se atribui só a Deus.
* Em Lc 1, 43, Isabel chama a Maria “a mãe do meu Senhor”. Os judeus chamavam a Deus “seu Senhor”.
* Os Padres muito perto do ensino dos
Apóstolos, como Santo Inácio de Antioquía (+107), falam da maternidade
de Maria. Destacam-se São Justino (+165), Santo Ireneu (+202),
Tertuliano (+220/230), Santo Hipólito (+235).
* Orígenes (+ 253) é o primeiro que nos
fala da feliz fórmula “Theotókos” (Mãe de Deus), que encontra mos depois
em autores tão importantes como Santo Atanásio, São Dídimo, São
Gregório de Nisa, São Cirilo de Jerusalém, Santo Epifânio de Salamina,
São João Damasceno. O termo latino equivalente encontra-se em Santo
Ambrósio, São Jerónimo e outros.
* São Tomás: “Pelo facto de ser Mãe de
Deus, tem uma dignidade em certo modo infinita, por causa do bem
infinito que é Deus. (…) Não se pode imaginar uma dignidade maior, como
se não pode imaginar coisa maior que Deus” (ST I, q. 25). “Ela é a única
que junto com Deus Pai pode dizer ao Filho de Deus: Tu és meu Filho”
(ST III, q. 103).
* Não se pode considerar a Virgem
revestida de uma dignidade divina. Mas “mais que Ela só Deus” (cfr. São
Josemaria, Caminho 496).
* João Paulo II insistiu na fórmula:
“Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo”
(Redemptoris Mater, 8).
Aula 2
Imaculada Conceição
* Entre os privilégios que Deus outorgou
à Virgem Maria, em atenção à sua excelsa dignidade de Mãe de Deus e em
virtude dos méritos de seu Filho, destaca-se o da sua Imaculada
Conceição, reconhecido pela Igreja desde os seus começos e definido como
dogma de fé a 8 de Dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX na Bula
Ineffabilis Deus.
* “Declaramos, pronunciamos e definimos
que a doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro
instante da sua Concepção foi, por graça singular e privilégio do Deus
omnipotente, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género
humano, preservada imune de toda a mancha de culpa original, foi
revelada por Deus e, portanto, deve ser firme e constantemente
acreditada por todos os fiéis”.
* “Imune de toda a mancha de culpa
original”: a Igreja confessa que Maria em nenhum momento e de nenhum
modo foi atingida pelo pecado original que se transmite por geração à
humanidade desde os nossos primeiros pais.
* Pio XII acrescenta que quando se fala
de Maria, nem sequer se “deve pôr a questão” de se teve ou não algum
pecado, por diminuto que se possa pensar, “posto que transporta consigo a
dignidade e santidade maiores depois das de Cristo. (…) É tão pura e
tão santa que não pode conceber-se maior pureza depois da de Deus”
(Fulgens corona,08.09.1953).
* Sentença certa: livre da concupiscência desde a sua concepção.
* A imunidade concedida a Maria é uma
graça de Deus todo-poderoso que constitui um “privilégio singular”. Deus
interpõe-se entre Maria e o pecado para que este nem sequer lhe toque
por um instante. É um privilégio extraordinário concedido à que havia de
ser Mãe de Deus.
* Esta verdade não foi obtida como uma
conclusão deduzida a partir da Revelação, ou pela sua associação com
alguma outra verdade revelada, mas trata-se de uma verdade formalmente
revelada por Deus. Através da história tem havido progresso no
conhecimento e explicação, mas a verdade era conhecida desde os começos
da Igreja como divinamente revelada.
* Anunciação (Lc 1, 28): “A expressão
‘cheia de graça’ traduz a palavra grega ‘kexaritomene’, a qual é um
particípio passivo. Assim pois, para expressar com mais exactidão o
matiz do termo grego, não se deveria dizer simplesmente ‘cheia de
graça’, mas sim ‘feita cheia de graça’ ou ‘cumulada de graça’, o qual
indicaria claramente que se trata de um dom dado por Deus à Virgem. O
termo (…) expressa a imagem de uma graça perfeita e duradoura que
implica plenitude” (João Paulo II, Audiência geral, 08.05.1996).
* Os Padres dizem que as palavras de
Isabel a Maria, na Visitação (“bendita és tu entre as mulheres e bendito
o fruto do teu ventre”), dão a entender que Maria foi a sede de todas
as graças divinas e que foi adornada com todos os carismas do Espírito
Santo, até ao ponto de nunca ter estado sob o poder do mal.
* Protoevangelho: “Porei inimizade entre
ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela. Ela te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Gn 3, 15). No texto hebraico,
quem pisa a cabeça da serpente é a descêndencia da mulher.
* Pio XII, Fulgens corona: “Ora, se, por
algum tempo, a bem-aventurada virgem Maria fosse privada da graça
divina, como inquinada, na sua concepção, pela mancha hereditária do
pecado, ao menos naquele momento, embora brevíssimo, não haveria entre
ela e a serpente aquela perpétua inimizade de que se fala, desde a mais
antiga tradição até à solene definição da Imaculada Conceição, mas, ao
contrário, haveria certa sujeição.”
* A doutrina da Imaculada encontrou
certa resistência no Ocidente. Houve santos, como Agostinho, Bernardo,
Alberto Magno, Boaventura e Tomás de Aquino, que aquando afirmavam a
exímia santidade de Maria, resistiam a proclamar o privilégio da
Imaculada. Não percebiam como conciliá-lo com a universalidade da
Redenção operada por Cristo.
* Solução: Maria não é uma criatura
isenta de redenção. É a primeira redimida por Cristo e foi-o de um modo
eminente em atenção aos méritos de Jesus Cristo Salvador do género
humano. Duns Escoto distingue a “redenção liberativa” de todos nós, da
“redenção preventiva” de Maria.
Indicações do Magistério sobre a Imaculada
* Mt 1, 18-25 Sixto IV, nos anos 1476 e
1483, aprovou a Festa e o Ofício da Imaculada Conceição, proibindo
classificar como herética a sentença favorável à Imacuculada. Inocêncio
VIII, em 1489, aprova a invocação da Imaculada Conceição. Trento, em
1546, declara que “não é intenção sua incluir neste decreto, em que se
trata do pecado original, à bem-aventurada e imaculada Virgem Maria, Mãe
de Deus”. São Pio V inclui no Breviário o oficio da Imaculada. Paulo V,
em 1616, proíbe ensinar publicamente a sentença anti imaculista.
Gregório XV, em 1612, proíbe-o privadamente. Alexandre VII, em 1661,
publica uma constituição sobre a Imaculada. Clemente XI, em 1708
estendeu a festa da Imaculada, como festa de preceito a toda a Igreja
Universal.
Privilégios incluídos na plenitude da graça, 1
* Os Padres descartam não só qualquer
espécie de pecado na Mãe de Deus, também a julgam alheia a toda a
imperfeição voluntária, até ao ponto de negar n’Ela qualquer acto
imperfeito ou remisso de caridade. Entendem que, de nenhum modo, esteve
inclinada para o mal.
* A possibilidade de fazer o mal é um
sinal, mas também uma imperfeição da liberdade. O verdadeiro exercício
da liberdade consiste em eleger o bem porque nos dá na gana. A graça
sana a vontade livre. Onde há plenitude de graça, há plenitude de
vontade sã e, portanto, plenitude de liberdade. Por isso a Santíssima
Virgem foi libérrima em todos os momentos.
Privilégios incluídos na plenitude da graça, 2
* A Virgem Maria esteve sujeita à dor.
Santíssima sem sombra de pecado, mas passível e mortal, partícipe da
kénosis de seu Filho, padeceu ao corredimir com Cristo. Uma espada
atravessou a sua alma (anúncio de Simeão). O privilégio da Imaculada,
longe de subtrair a dor de Maria, aumentou n’ Ela a sua capacidade de
sofrimento.
* “Desde a sua concepção a Virgem é
superior em graça a todas as criaturas, incluídos os anjos. Mas não era
uma graça infinita: cresceu ao longo da sua vida, especialmente na
Encarnação, ao pé da Cruz e no Pentecostes. Além disso, o amor recíproco
entre o Filho e a Mãe seria causa ininterrupta de aumento de Graça para
Ela.
Aula 3
Virgindade de Maria
* Maternidade e virgindade são
alternativas da mulher, que se excluem por natureza, que Deus quer
reunir milagrosamente na sua Mãe. Os textos mais antigos chamam a Maria
“A Virgem”, e desde os primeiros séculos, “A sempre Virgem”. Três
aspectos do dogma: virgem antes do parto, no parto e depois do parto.
* Antes do parto: O dogma afirma que
Nossa Senhora concebeu Jesus, não por obra de varão, mas por obra do
Espírito Santo. Cumpriu-se assim a profecia de Isaías: “uma virgem
conceberá e dará à luz um filho, que será chamado Emmanuel (Deus
connosco)” (Is 7, 14). No Credo rezamos assim: “Creio em um só Senhor
Jesus Cristo (…). E por obra e graça do Espírito Santo nasceu da Virgem
María” (em latim: “ex Maria Virgine”).
* No parto: Longe de depreciar a
integridade do corpo de sua Mãe, Jesus deixou–a intacta ao nascer. Este
prodígio é um milagre da divina omnipotência. Ilustração clássica:
nasceu como a luz do sol que passa através de um cristal, sem o romper
nem manchar.
* Depois do parto: “Esta porta há-de
estar fechada para sempre, não se abrirá nem entrará por ela homem
algum, porque entrou por ela Yahvé” (Ez 44, 1-2). Os Padres aplicam
estas palavras à virgindade perpétua de Maria.
* Santo Agostinho, Sermão 186: Maria
“foi Virgem ao conceber o seu Filho, Virgem durante o parto,(…) Virgem
depois do parto, sempre Virgem”.
Os “irmãos” de Jesus nos Evangelhos
* O hebreu e o arameu necessitam de
termos diferentes para designar diversos graus de parentesco. Lot
chamado “irmão” de Abraão em Gn 13, 8 e 14, 14.16, e
“sobrinho” em Gn 12, 5 e 14h, 12. Labão chamado “irmão” de Jacob em Gn 29, 15, quando era irmão de sua mãe (Gn 29, 10).
* Mc 6, 3 dá uma lista de irmãos de
Jesus, entre eles Tiago e José, que por Mc 15, 40 e Jo 19, 25 sabemos
que eram filhos de Maria de Cleofás.
* Se Jesus tivesse tido outros irmãos,
não se entenderiam bem as Suas palavras na Cruz confiando a sua Mãe ao
seu discípulo João.
* Pensou-se também negar a virgindade de
Maria porque Jesus Cristo é chamado “primogénito”, em Lc 2, 7. Mas esta
palavra significa “filho não precedido por outro”, e prescinde da
existência doutros filhos. O primogénito estava também
vinculado com prescrições da lei judaica, e a cada filho único se aplicavam estas
prescrições para o “primogénito”.
* Mt 1, 18-25 faz a interpretação de Is
7, 14 (“a virgem concebeu e deu à luz um filho, que será chamado
Emmanuel, isto é, ‘Deus connosco’”). E na genealogia de Jesus, Mt 1, 16,
em lugar de dizer “José gerou Jesus”, diz “José, Esposo de Maria, da
qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo”
* Mt 1, 20 afirma que o Anjo do Senhor revelou a José que “o concebido n’Ela (Maria) é do Espírito Santo”.
* Na Anunciação (Lc 1, 26-38), a
pergunta de Maria “Como se fará isso, pois eu não conheço homem?” é
interpretada pelos autores católicos como a vontade de Maria de
permanecer virgem já antes do anúncio do anjo.
* São Marcos nunca menciona José, o esposo de Maria, mas chama a Jesus “o filho de Maria
* No prólogo do evangelho de São João,
algumas vozes autorizadas, como Santo Ireneu e Tertuliano, apresentam Jo
1, 13 em particular, quer dizer, “Ele que não nasceu do sangue nem da
vontade da carne, nem do querer do homem, mas de Deus”, o que seria
testemunho da geração virginal de Jesus.
* As fórmulas de fé dos Padres postulam a
afirmação do nascimento virginal de Jesus; e, a partir do século IV,
utilizam o título de “sempre Virgem” ao falar de Maria.
* A virgindade de Maria está presente
numa larga série de testemunhos do Magistério da Igreja, desde o Símbolo
apostólico até à Lumen gentium do Vaticano II, e João Paulo II.
* Concílio de Latrão (649), c. 3: “Se
alguém, segundo os Santos Padres, não confessa que própria e
verdadeiramente é Mãe de Deus a santa e sempre virgem e imaculada Maria,
já que concebeu nos últimos tempos sem sémen, do Espírito Santo, o
próprio Deus-Verbo (…) e que deu à luz sem corrupção, permanecendo a sua
virgindade indissolúvel mesmo depois do parto, seja condenado”. Ver
também.
Paulo IV,Const.Cum quorundam (1555).
* “O olhar da fé, unido ao conjunto da
Revelação, pode descobrir as razões misteriosas pelas quais Deus, no seu
desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma virgem. Estas
razões referem-se tanto à pessoa e à missão redentora de Cristo como à
aceitação por Maria desta missão para com os homens” (CIC 502).
* CIC 503: “A virgindade de Maria
manifesta a iniciativa absoluta de Deus na Encarnação”. CIC 504: “Jesus
foi concebido por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria porque
Ele é o Novo Adão que inaugura a nova criação”. CIC 505: “Jesus, o novo
Adão, inaugura pela sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos
de adopção no Espírito Santo pela fé”.
* “Maria é virgem porque a sua
virgindade é o sinal da sua fé não adulterada por dúvida alguma e da Sua
entrega total à vontade de Deus. A sua fé que a faz chegar a ser a mãe
do Salvador: ‘Mais bem-aventurada é Maria ao receber a Cristo pela fé do
que ao conceber no seu seio a carne de Cristo’ (Santo Agostinho,De
sancta virginitate 3,3)”(CIC 506
* CIC 507: “Maria é ao mesmo tempo
virgem e mãe porque ela é a figura e a mais perfeita realização da
Igreja”. A igreja é mãe pois que gera para uma vida nova e imortal os
filhos concebidos pelo Espírito Santo e nascidos de Deus. Também é a
virgem que guarda íntegra e pura a fidelidade prometida ao Esposo.
Aula 4
Assunção
* Pio XII, Munificentissimus Deus,
01.11.1950: “Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente
revelado: que a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, cumprido o
curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma para a glória
celeste”.
* A assunção produz-se por virtude de
Deus. O dogma significa que para a Virgem Maria não se adia até ao fim
dos tempos a glorificação do seu corpo, como sucederá com os outros
fiéis, e que o seu corpo não sofreu a decomposição cadavérica.
* Pio XII quis prescindir, na definição dogmática, da questão sobre a morte de Maria na fórmula definitoria: bao quis defini-la.
* Muitos Padres apresentam a morte de
Maria como um acto de amor que a levou até ao seu divino Filho para
compartilhar com Ele a vida imortal.
* Gn 3, 15: “Eu porei a inimizade entre
ti e a mulher…”. Cristo, Novo Adão, obtem o triunfo definitivo sobre a
antiga serpente, associado intimamente à Nova Eva, Maria. O triunfo é
triplo: sobre o pecado, sobre a concupiscência e sobre a morte. A
primeira redimida foi libertada da morte à semelhança de Cristo.
* Lc 1, 28: “Cheia de graça”. A graça
redunda em toda a pessoa, unidade de alma e corpo. À plenitude da graça
deve corresponder a plenitude de glória, na pessoa inteira.
* Ap 12, 1: A Mulher vestida de sol.
“Uma mulher vestida de Sol, ou seja, imersa na luz de Deus, que a habita
porque Ela habita n’ Ele. (…) Os Céus e a Terra fundiram-se. Debaixo
dos pés, a Lua, como sinal de que o efémero e mortal foi superado, e que
a transitoriedade das coisas foi convertida em existência perdurável. E
a constelação que a coroa significa salvação” (Bento XVI, Angelus,
16.08.2006).
* “Como Cristo ressuscitou de entre os
mortos com o seu corpo glorioso e subiu ao céu, assim também a Virgem
Santíssima, a Ele associada plenamente, foi elevada à glória celestial
com toda a sua pessoa. Também nisso a Mãe seguiu mais de perto o seu
Filho e nos precedeu a todos nós” (Bento XVI, Angelus, 15.08.2005).
* A participação da Virgem na vitória de Cristo não poderia considerar-se plena sem a glorificação corporal antecipada de Maria.
* “A maternidade divina, que fez do
corpo de Maria a morada imaculada do Senhor, funda o seu destino
glorioso” (João Paulo II, Audiência geral, 09.07.1997).
* Se Adão e Eva introduziram no mundo a
morte da alma (pecado) e a do corpo, Cristo e Maria foram causa de vida
para a alma (graça) e para o corpo (ressur- -reição).
* Harmonia da Assunção com o dogma da
Imaculada: se a ressurreição é o triunfo e o troféu da redenção, a uma
redenção preventiva e anticipada corresponderá uma anticipada
ressurreição.
* Harmonia com a Maternidade virginal: a
verdade do parto virginal proclama o decreto divino de preservar em
absoluto a integridade corporal da Mãe de Deus.
Harmonia com o amor de Cristo por Sua Mãe
* Como nos teríamos comportado, se
tivéssemos podido escolher a nossa mãe? Julgo que teríamos escolhido a
que temos, enchendo-a de todas as graças. Foi o que Cristo fez, pois
sendo Omnipotente, Sapientíssimo e o próprio Amor, seu poder realizou
todo o seu querer (…). Os teólogos formularam com frequência um
argumento semelhante, tentando compreender de algum modo o significado
desse cúmulo de graças de que se encontra revestida Maria e que culmina
com a Assunção aos céus. Dizem: ‘convinha, Deus podia fazê-lo, e por
isso o fez’” (São Josemaria, Cristo que passa, 171).
* A Assunção de Maria é o argumento ou
prova de que todos os fiéis dos quais a Virgem Santíssima é Mãe, estarão
um dia com os seus corpos glorificados junto a Cristo glorioso. O nosso
futuro não é utópico. É uma realidade existente em Cristo e Maria.
* Contemplando Maria Assunta, o cristão
aprende a descobrir o valor do seu próprio corpo e a custodiá-lo como
templo de Deus, à espera da ressurreição e glorificação da vida eterna
bem-aventurada.
Aula 5
Realeza de Maria
* Lumen gentium, 59: “A Virgem Imaculada, preservada imune de toda mancha de culpa
original, terminado o curso da vida
terrena,foi assunta à glória em alma e corpo celestial e enaltecida pelo
Senhor como Rainha do Universo, para que se assemelhasse mais
plenamente a seu Filho, Senhor dos que dominam e vencedor do pecado e da
morte”.
* Lc 1, 43: Isabel, ao ouvir a saudação
da Virgem, exclama: “Donde a mim esta dita, que venha ter comigo a mãe
do meu Senhor?”. É como dizer “a Senhora”, “a Rainha”.
* Os Padres viram Maria na mulher
“vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze
estrelas sobre sua cabeça” (Ap 12, 1).
* Cristo é Rei não só porque é Filho de
Deus, mas também porque é Redentor Maria é Rainha não só porque é Mãe de
Deus, mas também porque, associada como nova Eva ao novo Adão, cooperou
na obra da redenção do género humano.
* Maria reina com o poder da oração. Com
o amor de Filha de Deus Pai, com o amor de Mãe de Dios Filho e com o
amor de Esposa de Deus Espírito Santo, reunidos num só coração.
* Maria é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Mediadora. E chama-se a Omnipotência Suplicante.
* Inúmeros Padres, como, por exemplo,
Santo Efrén, São Gregorio Nacianceno, Orígenes, São João Damasceno, São
Jerónimo, Santo Andrés Cretense, Santo Epifânio, etc., proclamam Maria
“Rainha”, “Dona”, “Senhora”.
* Liturgia: A Igreja latina entoa a
“Salve Regina”, as antífonas “Ave Regina caelorum” e “Regina caeli
laetare”. Destacam as Ladainhas lauretanas com muitas invocações a Maria
como Rainha, e o quinto mistério glorioso do Rosário.Iconografia.
* Muitos Papas chamam a Maria Rainha.
Pio XII dedicou a encíclica Ad Coeli Reginam (1954) inteira a este
mistério. João Paulo II insiste em que Maria é Rainha universal
(Redemptoris Mater).
* Cristo é Rei, não só porque é Filho de
Deus, mas também porque é Redentor. Maria é Rainha, não só porque é Mãe
de Deus, mas também porque, associada como nova Eva ao novo Adão,
cooperou na obra da redenção do género humano.
* Maria reina com o poder da oração. Com
o amor de Filha de Deus Pai, com o amor de Mãe de Deus Filho e com o
amor de Esposa de Deus Espírito Santo, reunidos num só coração.
* Maria é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Mediadora. E chama-se a Omnipotência Suplicante.
Aula 6
Cooperação na santificação
* Pode-se falar da corredenção da Virgem
Maria. A identificação com o seu Filho, não há dúvida, abarca desde o
princípio todo o plano de salvação. Foi junto à Cruz de Jesus, onde com
particular intensidade exerceu a sua missão corredentora.
* Arnaldo de Chartres (s. XII): “Uma foi
a vontade de Cristo e de Maria; ambos ofereciam a Deus um mesmo
holocausto: Maria, com sangue no coração; Cristo, com sangue na carne”.
* “Movida por un imenso amor por nós,
ofereceu Ela própria o seu Filho à divina justiça para nos receber como
filhos” (Leão XIII, Iucunda semper). Por nós morre Jesus e por nós sofre
Maria. Colaborou com seu Filho para nos fazer filhos de Deus e também –
por desígnio divino – filhos seus.
* Quando Deus disse profeticamente à
serpente (o Maligno): “Eu porei inimizade entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a sua, que te esmagará a cabeça”(Gn 3, 15), está a
colocar juntos o futuro Vencedor de Satanás e a Mulher, e esta Mulher,
em concreto, é Maria. Deus pensou desde toda a Eternidade em Maria como
“unum” com Cristo Cabeça da humanidade redimida.
* Satanás serviu-se da mulher para
arrastar Adão e os seus filhos para o abismo do pecado e da perdição.
Deus servir-se-á de uma mulher para realizar as maravilhas da Encarnação
e da Redenção por meio de Cristo, Verbo encarnado no seio de Maria.
* A maternidade divina impõe e justifica
radicalmente o principio de uma participação – íntima, intensa e
omni-abrangente – de Maria na inteira vida e missão do Verbo encarnado.
Por si própria esta associação coloca a Maria em toda a história da
redenção e santificação.
* Cristo é a Cabeça indiscutível e única da Igreja por direito próprio, e é-o inseparavelmente de Maria como Mãe.
* Cristo é o único Mediador, mas quis
manter junto de si, estreitamente unida, associada á sua tarefa
redentora e santificadora, uma Mulher. E a Mulher foi Maria, sua Mãe.
Aula 7
Mãe e Mediadora
* Maria é nossa Mãe, não em sentido
natural, mas sim num sentido real, espiritual e místico, porque é Mãe de
Cristo, não só do Cristo em pessoa, mas do Cristo total (Cabeça e
membros).
* Maria, quando levava em seu ventre o
Salvador, levava também todos aqueles cuja vida estava contida na vida
do Senhor. Todos quantos estávamos unidos com Cristo, saimos do seio de
Maria à semelhança de um corpo unido com a sua cabeça. Por isso, num
sentido certamente espiritual e místico, nós somos chamados filhos de
Maria e Ela é Mãe de todos nós.
* Maria é Mãe dos bem-aventurados do Céu
de modo excelente. É Mãe das pessoas em graça de modo perfeito. É Mãe
dos cristãos em pecado mortal de modo imperfeito, porque estes não têm
vida sobrenatural completa, mas só a fé. É Mãe dos não baptizados de
modo potencial ou de direito, pois está destinada a gerá-los na vida
sobrenatural.
* Não é Mãe dos condenados do inferno, pois já não lhes pertence em absoluto a união com Cristo.
* Por ser Mãe da Igreja, é membro especial e todo singular da Igreja.
* A Mãe de Deus, por querer e dom de
Deus, procria na vida da Graça os filhos de Deus. Maria não é autora da
Graça, mas tudo nos leva a pensar que deve haver um compromisso divino
assumido livremente por Deus, com vista à intervenção de Maria na obra
da santificação, que a constitui em verdadeira Mãe, dadora da vida
sobrenatural, crística, criada pela Trindade, desde o Pai no Filho pelo
Espírito Santo.
* Os homens podem ser mediadores entre
Deus e os outros. É uma mediação subordinada, participada. Na Virgem
dá-se essencialmente mais essa mediação participada, pois é de uma
natureza especificamente superior, por ser de uma natureza materna.
* O Magistério afirma que Maria é
Medianeira e Dispensadora de todas as graças: “É lícito afirmar que
daquele grandioso tesouro que o Senhor trouxe (…), nada nos é
distribuído senão por meio de Maria, porque Deus assim o quis” (Leão
XIII, Octobri mense, 22.09.1891).
* Foi entregue à Mãe de Deus toda a
graça de que seu Filho é Autor, para que seja Administradora de Cristo,
em favor de todos os seus filhos. Todas as gracias que se comunicam a
este mundo têm um processo triplo: seguindo uma ordem altíssima,
comunicam-se por Deus a Cristo, por Cristo a Maria, e por María a nós. É
outra manifestação da imensidade do amor de Deus para com Maria e para
connosco.
Aula 8
Culto e devoção
* O culto é uma honra que se tributa a
uma pessoa superior a nós. O culto rendido aos servidores de Deus honra
ao próprio Deus, que se manifesta por eles e por eles nos atrai até Ele.
* Deus ao constituir sua Mãe em aura de
santidade, cumulando-a de graças, expressa-nos a sua vontade de que a
honremos enquanto nos seja possível. Louvar Maria é louvar o Filho, e,
por Ele, a Trindade Santíssima: que filho não se alegra por honrarem a
sua mãe? Quanto mais Cristo que, sendo Deus, ama a Sua Mãe mais do que
todos os filhos do mundo!
* Tributa-se à Santíssima Virgem um
culto de veneração suprema (hiperdulia), devido à sua eminente dignidade
de Mãe de Deus, distinto do culto de adoração (latria) reservado a
Deus, e do simples culto de veneração (dulia) próprio dos outros santos.
* A verdadeira devoção não consiste, nem
num estéril e passageiro sentimentalismo, nem uma certa vã credulidade;
que procede da fé, pela qual reconhecemos a excelência da Mãe de Deus,
pela qual somos levados a um amor filial até à nossa Mãe e à imitação
das suas virtudes.
* “Antes de tudo, é sumamente
conveniente que os exercícios de piedade à Virgem Maria expressem
claramente a nota trinitária e cristológica que é intrínseca e
essencial. (…) Na Virgem Maria tudo é referido a Cristo e tudo depende
d’Ele: com vistas a Ele Deus Pai, Deus Pai a elegeu desde toda a
eternidade como Mãe toda santa e a adornou com dons do Espírito Santo
que não foram concedidos a nenhum outro” (Paulo VI, Marialis cultus 24).
* Além disso, é necessário que os
exercícios de piedade (…) ponham mais claramente de manifesto o posto
que ela ocupa na Igreja: o mais alto e mais próximo de nós depois de
Cristo. (…) O amor à Igreja traduzir-se- -á em amor a Maria e
vice-versa; porque uma não pode subsistir sem a outra” (Ídem 28).
* A Igreja, para honrar a Virgem Maria,
celebra ao longo do ano litúrgico diversas festas marianas. Vaticano II
exorta a que se promova o culto, especialmente o litúrgico.
* O Magistério sublinhou de modo particular duas devoções marianas: o Angelus e o Rosário.
* Outras práticas de piedade mariana:
Confrarias marianas, Escapulário do Carmo, Mês de Maria, medalhas,
sábados dedicados a Maria, peregrinações a Santuários, consagração ao
seu Imaculado Coração, etc.
Os frutos desta devoção mariana são incontáveis.
Aula 9
São José
* O Magistério sustenta que a Virgem e São José contrairam um verdadeiro matrimónio.
Os Padres, ao referirem-se a este matrimónio, põem em relevo a providência e
sabedoria divinas ao dispor que Jesus Cristo nascera virginalmente de uma Mãe
desposada.
* São José recebeu uma plenitude de
graça proporcionada à preeminência da sua missão para a qual foi eleito
eternamente pela Trindade. Com efeito, a missão de São José supera a
própria ordem da graça e confina com a ordem hipostática, constituída
pelo próprio mistério da Encarnação.
* João XXIII, em 1962, proclamou-o
“ilustre descendente de David, luz dos Patriarcas, esposo da Mãe de
Deus, guardião da sua virgindade, pai nutrício do Filho de Deus,
vigilante defensor de Cristo, Chefe da Sagrada Família; foi justíssimo,
castíssimo, prudentíssimo, fortíssimo, muito obediente, fidelíssimo,
espelho de paciência, amante da pobreza, modelo de trabalhadores, honra
da vida doméstica, guardião das virgens, sustento das famílias,
consolação dos desafortunados, esperança dos enfermos, patrono dos
moribundos, terror dos demónios, protector da Santa Igreja. Ninguém é
tão grande depois da Virgem Maria”.
* Parece que, depois da Anunciação, a
Virgem guardou para si o grande mistério que tinha acontecido n’Ela, a
Encarnação do Verbo.
* A dúvida de José não era sobre a inocência de Maria, mas sobre o seu próprio papel no futuro daquele mistério.
* O anjo não só lhe confirma que o
sucedido com a sua Esposa é obra divina; além disso comunica-lhe que ele
tem também uma missão no mistério da Encarnação: pôr o nome a Jesus, o
qual significa, no modo de falar bíblico, que ia ser o pai de Jesus
segundo a lei.
* “Como era pai, José? Tanto mais
profundamente pai, quanto mais casta foi a sua paternidade. A José não
só se lhe deve o nome de pai, mas deve-se-lhe mais do que a qualquer
outro” (Santo Agostinho, Sermão 51, 20).
* Festa litúrgica de São José: Sixto IV
(1476). Inocêncio VIII (1486) eleva-a a maior categoria. Gregório XV
(1621) declara-a obrigatória para todo o mun- do. Proclama São José como
“patrono da Igreja universal” Pío IX (1871).
* João Paulo II dedicou-lhe uma Exortação Apostólica, Redemptoris custos (1989).
* “Tratou de chegar à Trindade do Céu
por essa outra trindade da terra: Jesus, Maria e José. Estão como que
mais exequíveis. Jesus, que é perfectus Deus e perfectus Homo. Maria,
que é uma mulher, a mais pura criatura, a maior: Maior do que Ela, só
Deus. E José, que está imediatamente a seguir a María: limpo, varonil,
prudente, inteiro” (São Josemaria).
* “São José, que não te posso separar de
Jesus e de Maria. São José, por quem tenho tido sempre devoção, mas
compreendo que devo amar-te cada dia mais e proclamá-lo aos quatro
ventos (…). São José, nosso Pai e Senhor, intercede por nós” (Ídem).
Curso de Teologia
Apresentações em PPT baseadas nos
manuais da “Biblioteca de Iniciación Teológica” da Editora Rialp. Os
originais em castelhano, na sua maior parte, foram realizados por D.
Serge Nicoloff e podem ser encontrados na página de AGEA. Os esquemas
correspondem com bastante exactidão ao conteúdo dos livros referidos
acima. Em Portugal, aqueles manuais estão a ser publicados pela Editora
Diel.
Entre parêntesis indica-se a referência
do manual português em que está baseada cada uma das apresentações.
Quando não existir manual em português, indica-se o original castelhano.
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