O último mês
do ano litúrgico, isto é, o mês de novembro, é dedicado às reflexões
escatológicas. Somos chamados e preparar-nos, sem medo, para o momento
derradeiro de nossa vida terrena. Por isso, neste mês, e já vai este pela sua
metade, somos motivados a rezar em favor dos que já foram.
O livro dos
Macabeus, na Bíblia, nos diz: Santo e piedoso costume é o de orar pelos mortos
(Mb.12,46). Rezamos, de forma especial, em todo o mês de novembro, pelos nossos
entes queridos e por todos os que já passaram desta realidade terrena,
privilegiando ainda o dia 2, dia de finados, para tais orações. Nossa prece por
eles é, na verdade, um hino à vida. Nossa fé nos ensina que não fomos criados
para morrer, mas para viver.
Afirma Santo
Ambrósio, Bispo de Milão no século quarto, que a morte não era da natureza, mas
converteu-se em natureza. No princípio, Deus não fez a morte, mas deu-a como
remédio. Pela prevaricação, condenada ao trabalho de cada dia e ao gemido
intolerável, a vida dos homens começou a ser miserável. Era preciso dar fim aos
males, para que a morte restituísse o que a vida perdera. Assim, o que nos move
ao rezar pelos mortos é a certeza de que ressuscitaremos. Somos impulsionados
pela plena convicção de que nossos mortos não estão aniquilados, mas estão a
caminho de Deus, na santa purificação do purgatório. Certos também somos de que
muitos já se encontram na Casa definitiva do Pai, uma vez que Jesus disse a
Dimas no alto do Calvário: Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).
Como Dimas, muitos outros, pela misericórdia divina, se encontram lá e nós os
chamamos santos, pois já estão na posse perfeita de Deus, imersos na santidade
Dele, único e verdadeiro Santo.
Celebramos a
Eucaristia em nossos cemitérios, pois são lugares santos, onde depositamos
respeitosamente os corpos de nossos irmãos falecidos, santificados pela água
batismal. Os cemitérios são território sagrado, são espaços simbólicos, nos
quais elevamos nossas preces em favor dos que já partiram, celebrando a vitória
da vida sobre a morte, repetindo o que nos diz a carta aos Coríntios: Onde está
a tua vitória, ó morte?! (I Cor. 15, 55). A Eucaristia é fonte de vida, pois
proclama a ressurreição de Cristo, enquanto esperamos sua volta. Com viva fé,
nos celebrações dos finados, rezamos creio em Jesus Cristo que foi crucificado,
morto e sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Também repetimos com toda a
Igreja: O Senhor, de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os
mortos.
Há, hoje uma
cultura da morte estabelecida, onde se pode enxergar absurdos como assassinatos
praticamente diários, roubos e furtos a
mão armada, violência e falta de
segurança, movimentos favoráveis à legalização do aborto, da eutanásia...
A fé católica
é totalmente incompatível com a cultura da morte, pois ela se baseia na vida
que para nós Cristo conquistou com seu sangue na cruz, ressuscitando ao
terceiro dia, conforme as escrituras.
A ocasião do
mês de novembro seja para nós um canto à liturgia da vida, uma súplica para que
o Senhor defenda a Pátria brasileira das forças que cultuam a morte em lugar de
defenderem a vida.
Somos obra do
Criador. Se passamos pela escuridão da
morte, vamos para a claridade infinita da ressurreição, ao abraço definitivo
com Deus que nos criou para viver e não para morrer.
Texto: Dom
Gil Antônio Moreira / Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
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