Acho
interessante perceber que, entre os documentos oficiais da nossa Igreja
que não tratam especificamente de ecumenismo e diálogo inter-religioso,
os que mais dedicam parágrafos a esse tema são exatamente os que se
relacionam com o trabalho missionário.
Pensando bem, é
natural que seja assim. Afinal, uma das primeiras perguntas que as
pessoas fazem diante da proposta de diálogo inter-religioso diz respeito
à necessidade do anúncio da nossa identidade de fé. As pessoas indagam:
Vamos dialogar e respeitar a crença dos outros? Então como fica a
Verdade em que acreditamos? Vamos ter que relativizar tudo?
Nossa
Igreja nunca deixou de afirmar que Jesus é a revelação plena de Deus, a
máxima manifestação do Amor que o Criador tem por nós, a melhor notícia
que se pode dar á humanidade. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. É o
Salvador de todos, porque foi nele que se manifestou de maneira mais
completa o amor desse Deus que não desiste de nós. Até por uma questão
de amor ao próximo, não estamos dispensados de anunciar a todos o amor
que Deus manifestou em Jesus.
Mas
isso não significa menosprezar as experiências religiosas de outros
porque elas podem ser também meios de realizar a vontade de Deus. No
documento Diálogo e Anúncio, do Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-religioso, nossa Igreja nos diz:
É através da
prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e
segundo os ditames de sua consciência, que os membros das outras
religiões respondem afirmativamente ao convite de Deus e recebem a
salvação em Jesus Cristo, mesmo se não o reconhecem como o seu Salvador,
DA 29
Vamos perceber bem o que diz o texto acima. A salvação vem sempre de
Jesus, não há outro salvador. Ele é o Salvador de todos, porque o que
salva é o amor de Deus, do qual ele é plena manifestação. Mas esse Deus
está presente na consciência das pessoas que querem fazer o bem e essa
consciência voltada para o bem pode ser também alimentada pelo que há de
melhor em outras tradições religiosas. A salvação dessas pessoas está
incluída na salvação que Jesus veio trazer.
Isso
leva a um respeito pelo melhor que membros de outras religiões já
vivem, mas não dispensa os cristãos de dar testemunho do que descobriram
e vivem em Cristo. Afinal, cremos que Jesus Cristo é o único mediador
entre Deus e os homens, que nele está a plenitude da revelação. Temos
que proclamar isso, principalmente com a nossa vida, o nosso testemunho.
Mas isso deve ser feito em clima de respeito pelas outras tradições
religiosas, como nos diz o mesmo documento Diálogo e Anúncio: “Os
cristãos não devem esquecer que Deus também se manifestou de certo modo
aos seguidores de outras tradições religiosas e, por conseguinte, são
chamados a considerar as convicções e os valores dos outros com
abertura.” DA 48
Evangelização
se faz com testemunho, com disposição para servir ao Evangelho ,as
também com amor e respeito às tradições religiosas de tantas pessoas e
povos que Deus também criou e ama. É nossa obrigação sermos
missionários, mas devemos reconhecer que o Espírito chega antes de nós,
porque Deus é um Pai que não abandona nenhum de seus filhos.
Therezinha Cruz
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