Uma das
primeiras perguntas que nos fazem quando abordamos o ecumenismo é: por
que deveríamos ser ecumênicos? Vamos conversar aqui sobre várias
possíveis respostas a essa questão. Mas a primeira resposta, a mais
decisiva, teria que ser: seremos ecumênicos porque temos que atender a
um pedido importante de Jesus. Nada pode ser mais motivador do que isso.
Nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
(2011-2015) , a CNBB começa a enunciar assim o grande objetivo geral:
Evangelizar a partir de Jesus Cristo... Evangelizamos, fazemos
catequese, antes de mais nada, a partir do que esse insuperável Mestre
ensinou, pediu, testemunhou. E isso vale para todas as Igrejas, nenhuma
delas poderia achar estranha essa prioridade.
É por isso
também que o primeiro lema de todo o movimento ecumênico, a frase básica
que orienta tudo, é o que vemos Jesus pedindo ao Pai, no evangelho de
João: “ Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que
eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. ” Jo
17,21
Gostaria de
destacar dois elementos que nos vêm desse texto bíblico. O primeiro é a
situação especial em que Jesus faz essa oração ao Pai. Ele está chegando
ao final de sua caminhada de pregador do Reino, está à beira do
desfecho doloroso da paixão. Então, podemos ver essa prece como uma
espécie de testamento, de último legado, de recado final para os que
continuarão a missão depois que Jesus voltar para o Pai. Pensemos no que
acontece em situações assim. Quem deixa suas últimas vontades não se
fixa em detalhes sem importância, vai ao essencial, ao que está muito
marcado no seu coração. Assim, podemos entender que esse não é um pedido
qualquer, é algo que o próprio Jesus quer deixar ao mundo como sinal de
sua passagem pela terra, é um comportamento essencial através do qual
ele quer que seus seguidores sejam identificados. E o que ele escolhe
pedir nessa hora? Ele entrega ao Pai os seus discípulos, mas vai além:
“Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em
mim pela palavra deles (ou seja: por todos nós)” Jo 17,20. Estamos
incluídos nessa prece. Como vamos responder a ela? Como vamos preparar
outros para atender a esse pedido? Dá para “esquecer” essa súplica e
cuidar só do nosso jeito de ser Igreja? È bom perceber que esse pedido
vale tanto para o diálogo com cristãos de outras Igrejas como para o que
gosto de chamar de “ecumenismo interno”, que seria a unidade na
diversidade funcionando também dentro da nossa Igreja, sem pastorais e
espiritualidades que funcionem como gavetas incomunicáveis.
O segundo
elemento sobre o qual vale muito a pena refletir é o motivo que Jesus dá
para esse pedido de unidade: seus seguidores precisam viver a unidade
“para que o mundo creia”. Foi essa unidade que fez muitos acreditarem
nas primeiras comunidades. O “vede como eles se amam” era um grande
motivo de atração. Hoje, quando a catequese se depara com uma mudança de
época, quando não é mais socialmente pressuposta uma identidade
católica ou cristã, cada catequizando – de qualquer idade – precisa ser
conquistado através de uma experiência gratificante, que apresente
também uma boa imagem da Igreja. E que imagem passamos quando cristãos
se enfrentam como competidores? Certa vez, uma pessoa que não era ligada
à Igreja, vendo católicos e evangélicos falando mal uns dos outros, me
fez o seguinte comentário: Parecem donos de supermercado disputando
freguês... E aí eu me lembrei de uma frase dos meus livros de pedagogia:
“quando João fala de Pedro, ficamos sabendo mais sobre o João do que
sobre Pedro”. Quando uma Igreja fala mal da outra, não ficamos sabendo
muito sobre a outra, mas ficamos com a nítida impressão de que essa
Igreja que fala é um pouco antipática, não se mostra capaz de diálogo...
Então, nada de ter medo de ver o que outros cristãos têm de bom!
Juntos passamos uma imagem melhor de nós mesmos e de tudo o que Jesus
ensinou. E isso é ou não é um grande objetivo para a catequese?
Therezinha Cruz
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